Estamos em 1987.
Ao ler mais um número de Superaventuras Marvel - revista que era a verdadeira sagrada escritura naqueles anos - havia uma anúncio da própria Editora Abril, mencionando um Novo Universo Marvel. Pensei comigo: "será que vai prestar? Afinal pra que mexer em time que está ganhando&qt&". Naquela época, o Demolidor alucinava a galera nas mãos de Frank Miller enquanto Claremont e Byrne levavam os X-Men ao verdadeiro estado da graça quadrinhística. Até o Capitão América, que nunca foi uma das minhas personagens preferidas, estava numa fase boa. Diante de todas essas evidências, meus receios não eram poucos.
Mas vá lá! Afinal, pra um gibimaníaco, caiu na rede é peixe. Adquiri um exemplar de Justice, e confesso que meus temores estavam certos. Um herói esquisito vindo de outra dimensão, que eliminava quem tinha a aura ruim? Depois dessa, era melhor seguir com a turma do bom e velho universo Marvel.
Foi, então, que chegou às minhas mãos um número de Força-Psi, estrelada pelo Estigma - a marca da estrela. Que personagem bacana! A idéia básica remontava ao mais simples e elementar conceito de super-herói inventado pela Marvel. Um garotão, cheio de problemas na vida pessoal, recebe de um alienígena moribundo uma tatuagem que lhe concede poderes fantásticos. A partir daí, alguns de seus problemas se resolvem e vários outros surgem.
Jim Shooter e John Romita Jr., respectivamente responsáveis pelo roteiro e arte, criaram situações, ao mesmo tempo, verossímeis e improváveis se é que isso é possível. E, já que o assunto da guerra ao terror está na pauta do dia, o nosso herói Ken Connel (a famosa aliteração não podia ficar de fora) também deu trabalho para o Oriente Médio, detonando uma base militar na Líbia. O inimigo número um de plantão, naqueles anos, era o ditador Muammar Kadafi. Isso serve para ilustrar o realismo das historias, sem deixar de falar das desventuras amorosas de Ken e suas duas namoradas Barb e Debby a patinha. Era fácil pra moçada em pleno fervor da puberdade se identificar com o astro da série.
No entanto, como diz o ditado, tudo que é bom dura pouco, tanto nos EUA quanto abaixo da linha do Equador, a única personagem a se destacar foi o Estigma. Por essa razão, todas as publicações da linha Novo Universo foram canceladas. Mais tarde, foi feita uma desastrada tentativa de retomar as aventuras da Marca da Estrela. Desta vez, o esforço ficou a cargo do consagrado John Byrne, hoje o meio esquecido criador de obras memoráveis como os novos X-Men e a reformulação do Super-Homem. Todavia, que me desculpem seus fãs, o cara perpetrou uma lambança sem precedentes no caso do Estigma. Foi uma das maiores, se não a maior decepção que já tive com um autor de quadrinhos. O Novo Universo Marvel estava enterrado de forma irremediável.