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O melhor e o pior dos 75 anos da Mulher-Maravilha

A trajetória de uma carreira irregular de representação feminina no mundo dos super-heróis

13.12.2016, às 18H18.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

Mulher-Maravilha é uma personagem complicada. Foi inventada em 1941 para ser um símbolo: a representação da mulher forte não só nos músculos, mas na inteligência, na compreensão e no carinho que seu criador, William Moulton Marston, via nas mulheres. Antes de usar as armas, ela usaria a cabeça. No meio da Segunda Guerra entre homens, Marston queria mostrar as líderes do futuro.

Marston

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Psicólogo, advogado, escritor, professor universitário e suposto inventor do polígrafo: William Moulton Marston tinha uma carreira de subcelebridade nos EUA nos anos 1930 e 1940. Já na meia idade, deu uma entrevista falando da influência positiva dos quadrinhos na formação dos filhos. Max Gaines, editor da All-American Comics, uma das editoras que precedeu a DC Comics, leu a entrevista e convidou-o para escrever HQs.

A ideia do criador foi remexida, esquecida, traída e retrabalhada ao longo destes 75 anos. E não só nos quadrinhos, onde a personagem surgiu, mas também na TV, nos desenhos animados, no cinema e nos games. A heroína chega aos 75 anos de HQ debaixo de constantes reinterpretações, mas funciona sobretudo como um símbolo poderoso de tudo que é feminino. Na galeria abaixo, confira os pontos cruciais dos 75 anos da amazona.

Suprema

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Marston deu seu diagnóstico do estado dos gibis: com tanto super-herói trocando sopapo, o que faltava era uma super-heroína. Que também ia enfrentar criminosos e nazistas, mas com a inteligência e a docilidade que o autor via nas mulheres. Marston convidou um desenhista veterano, Harry G. Peter, e juntos eles criaram... Suprema, a Supermulher! O editor Sheldon Mayer recebeu a proposta, não gostou do nome e bateu o martelo: ela vai se chamar Mulher-Maravilha.

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A origem

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Steve Trevor, piloto da Força Aérea dos EUA, cai de avião na Ilha Paraíso enquanto persegue nazistas. A Ilha Paraíso é um enclave das míticas amazonas, que se escondem do mundo há séculos. A rainha das amazonas, Hipólita, fica sabendo da Segunda Guerra Mundial e decide que seu povo enviará uma campeã para ajudar os EUA contra os nazistas. Em um campeonato para escolher a enviada, a ganhadora é a filha da rainha, Diana. É ela que parte com Steve Trevor de volta ao Mundo dos Homens.

Mulher-Maravilha de A a Z
As origens, os poderes, os vilões, os criadores, a importância

Secretária da Justiça

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A Mulher-Maravilha também foi a primeira integrante feminina da Sociedade da Justiça - nas páginas da revista onde estreou, a All-Star Comics. Com um detalhe: enquanto Gavião Negro, Starman, Espectro, Sr. Destino e outros heróis homens saíam para enfrentar nazistas, a Mulher-Maravilha ficava na base datilografando as minutas das reuniões! Ela era a secretária da equipe. William Marston não escrevia essas histórias, e ficava possesso toda vez que as lia.

Sucesso

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A estreia de Mulher-Maravilha em dezembro de 1941 em All Star Comics #8 foi um teste que deu muito certo. A primeira série da heroína, chamada Sensation Comics, foi lançada pouco depois e não foi suficiente para a demanda: Wonder Woman #1 veio em julho de 1942. E mais: a personagem também ganhou histórias em uma nova revista, a Comic Cavalcade, e em 1944 ainda estreou nas páginas de jornais com uma tira diária.

A história bizarra da Mulher-Maravilha
Nos 75 anos da heroína, relembramos sua origem fascinante

Poliamor

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William Moulton Marston morava com duas mulheres: sua esposa, Elizabeth Holloway Marston, e uma ex-aluna, Olive Byrne. Tinha filhos com ambas. A bibliotecária Marjorie Wilkes Huntley também frequentava a casa. As três mulheres tinham envolvimento direto no movimento das sufragistas e pelo controle de natalidade. Elas não só influenciaram Marston a criar uma heroína modelo para o feminismo, mas também participavam dos roteiros das HQs. Diz-se que Diana Prince tinha o corpo de Olive e a personalidade de Elizabeth.

Não-embaixadora

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Embora tenha voltado atrás, a ONU fez história ao escolher Mulher-Maravilha como Embaixadora Honorária para o Fortalecimento de Mulheres e Meninas, em cerimônia realizada em outubro deste ano - com presença de Gal Gadot e Lynda Carter. A escolha foi polêmica: uma petição na web critica a ONU por escolher como embaixadora "uma personagem fictícia, branca, que usa pouca roupa, ostenta a bandeira dos EUA e tem proporções irreais". A entidade cedeu à pressão e disse que a escolha desde sempre seria sazonal e provisória.

Desenhista feminista

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Não só Marston, mas seu colaborador creditado, o desenhista Harry G. Peter, também tinha histórico com o movimento feminista. Como cartunista de jornal, ele trabalhara em publicações que defendiam os direitos das mulheres no início do século XX. Peter seguiu desenhando HQs da personagem até o final dos anos 1950, quando já estava com 78 anos. Faleceu logo após abandonar o posto.

Queer

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Maravilha passou por mais um relançamento nos quadrinhos, agora nas mãos do roteirista Greg Rucka (que já havia sido escritor da série na década passada). Rucka está intercalando uma nova origem para a heroína com histórias nos tempos atuais, acertando a continuidade. Mas o grande destaque de sua passagem é ele dizer abertamente que Diana Prince tem relações homossexuais ou, nas suas palavras, "é queer". A declaração do autor ribombou nos últimos meses e foi ponto alto das comemorações de 75 anos.

Sasha Grey

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Depois de anos em desenvolvimento, a graphic novel Mulher-Maravilha: Terra Um saiu este ano nos EUA com uma versão alternativa da personagem: Grant Morrison imagina uma Ilha Paraíso onde o amor homossexual é norma (mesmo porque não existem homem) e Yannick Paquette desenha Diana com o rosto da ex-atriz pornô Sasha Grey. Grey seria símbolo do novo feminismo?

Bondage

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Uma das armas mais conhecidas da Mulher-Maravilha é o Laço da Verdade, um laço mágico que faz as pessoas dizerem a verdade quando amarradas (uma referência ao polígrafo de Marston). Mas outros laços aparecem com frequência nas histórias, amarrando a protagonista, outras amazonas e suas inimigas em poses que lembram a prática de bondage. Se era uma tara de Marston (que defendia a "submissão amorosa" nas relações), de Harry G. Peter ou de algum editor, nunca se explicou.

A história secreta

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O criador da Mulher-Maravilha, William Marston, só revelava seu relacionamento poliamoroso para amigos mais próximos. Sua vida só veio a público décadas depois de ele falecer. Um livro recente, The Secret History of Wonder Woman, da historiadora americana Jill Lepore, conta todo o histórico da família Marston e como ele impactou a super-heroína. O livro já está sendo adaptado para o cinema com o título Professor Marston & The Wonder Woman.

Adeus às armas

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A Segunda Guerra Mundial acabou em 1945 e tirou o gás dos gibis de super-herói. O movimento feminista também perdeu força: as mulheres que assumiram vários cargos tradicionalmente masculinos durante a guerra foram convidadas a retornar ao papel de dona de casa. Para piorar a situação, William Marston faleceu em 1947. Apesar do empenho das duas esposas, a família não manteve controle sobre as histórias da Mulher-Maravilha, nem do que se faria com a personagem.

Filha de Zeus

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No relançamento geral dos Novos 52, Mulher-Maravilha foi entregue à dupla Brian Azzarello/Cliff Chiang. Os dois voltaram a destacar a mitologia grega e fizeram uma alteração fundamental na origem da personagem: antes uma criança que Hipólita fez nascer do barro, agora ela é filha de Zeus, o todo poderoso do panteão helênico.

Apaixonada

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Se antes Diana Prince era uma militar assistente do Coronel Steve Trevor, nas histórias dos anos 1950 ela vira uma tolinha apaixonada que quer se casar. O movimento contra os quadrinhos do início daquela década, simbolizado pelo psiquiatra Fredric Wertham e seu livro A Sedução do Inocente, também via com maus olhos a mensagem feminista de Mulher-Maravilha. A DC resolveu deixá-la mais "feminina", seguindo a época.

Calça e jaqueta

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O famsoso (para a época) roteirista J.M. Straczynski tentou balançar as estruturas da personagem em 2010: destruiu a Ilha Paraíso, acrescentou calça e jaqueta ao uniforme da moça (o primeiro redesign, de autoria de Jim Lee) e tentou lhe dar novos vilões e coadjuvantes. O roteirista acabou largando a história pela metade. E a DC tinha planos maiores pela frente...

Maravilhas paralelas

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Seguindo a deixa de Superboy, Mulher-Maravilha começou a ganhar histórias em versão teen (Wonder Girl) e bebê (Wonder Tot). Com o tempo, os roteiristas começaram a fazer retcons para dizer que Mulher-Maravilha e Moça-Maravilha eram personagens distintas. A versão Moça foi nomeada Donna Troy e ganhou destaque nos Novos Titãs. Mais à frente, no Multiverso DC de várias Terras, também aconteceu uma separação entre a Mulher-Maravilha da Terra Um, a usual, e a da Terra Dois - que lutou na Segunda Guerra Mundial e, depois de revelar a identidade secreta ao mundo, casou-se com Steve Trevor.

Assassina

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Na trama "Sacrifício", de 2005, Mulher-Maravilha mata a sangue-frio o vilão Maxwell Lord - torcendo o pescoço do manipulador de mentes. A cena marcou época e foi motivo de uma rixa entre Diana, Superman e Batman que se arrastou até a saga Crise Infinita.

Pérez

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Em 1986, a DC resetou a cronologia de vários heróis. Mulher-Maravilha foi reinventada do zero por Greg Potter, Len Wein e George Pérez - sendo que Pérez acabou tomando conta como roteirista e desenhista da série. A fase Pérez, com um visual deslumbrante e calcada na mitologia grega, é considerada o ápice na história da personagem e é republicada com frequência.

Dona de butique

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Os autores Denny O'Neil e Mike Sekowsky reinventaram a Mulher-Maravilha para fins dos anos 1960: apagaram as amazonas do mapa, tiraram os poderes de Diana e transformaram-na em dona de uma butique mod que, nas horas vagas, combatia o crime com um uniforme todo branco, artes marciais e um mentor idoso, I Ching. A referência dos autores era a aventureira Emma Peel, do seriado britânico Os Vingadores.

Kalprince

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Em uma das histórias marco da DC nos anos 1990, O Reino do Amanhã, Superman e Mulher-Maravilha são casados em um futuro alternativo - e têm até filho. As duas superfiguras são shippadas pelos fãs desde que existem, mas o romance só virou parte da cronologia em tempos recentes: Kal-El e Diana Prince tiveram um namoro que começou na série da Liga da Justiça que mereceu até série própria, Superman/Wonder Woman (2013-2016). Atualmente o casal está separado.

Símbolo

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A revista "Ms.", marco do feminismo nos anos 1970, elegeu Mulher-Maravilha como símbolo no seu primeiro número e criticou a DC Comics por ter apagado a super-heroína como referência de poder para as garotas. O principal nome da revista, Gloria Steinem, havia crescido com histórias da amazona e editou um volume especial de HQs da heroína dos anos 40 que saiu junto com a "Ms.". A DC ouviu o recado e devolveu uniforme e poderes à amazona logo em seguida.

Anti-bad girl

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Autores que vieram logo após Loebs e Deodato fizeram de tudo para apagar a imagem de bad girl. John Byrne passou anos na série, como roteirista e desenhista, tentando devolver a heroína a um estilo clássico. Phil Jimenez (primeiro autor abertamente gay a trabalhar com Mulher-Maravilha) tentou voltar aos temas de George Pérez. Nenhuma das fases fez grande sucesso.

Lynda

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Não há momento de maior destaque da Mulher-Maravilha no imaginário popular do que na série de TV de 1975-1977, na qual a amazona foi interpretada pela Miss América Lynda Carter. Exibido em vários países, o seriado combinava tramas militares das primeiras histórias da personagem ao feminismo dos anos 1970. E fez muita menina girar de braços abertos para se transformar.

Bad girl

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Em meados dos anos 1990, a moda das bad girls - a heroína gostosa e porrada - chegou à Mulher-Maravilha pelas mãos do desenhista brasileiro Mike Deodato. Nesta fase, com roteiro de Will Messner-Loebs, Diana Prince entrega o título de Mulher-Maravilha a outra amazona, Ártemis, de silhueta brasileiramente impossível e roupas quase sumindo.

As primeiras autoras

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Levou mais de 40 anos para as HQs da Mulher-Maravilha terem roteiro ou desenho assinados por uma mulher. Os primeiros créditos foram a Dann Thomas (como co-roteirista) em 1983 e a Trina Robbins (desenhista) em 1986. A série da heroína só teve uma escritora mulher regular em 2008, com Gail Simone. Mas o que faltava era crédito, não participação: as esposas do criador William Marston e sua assistente, Dorothy Woolfolk, colaboraram em vários roteiros nos anos 1940 e nunca foram mencionadas.

A militar israelense

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Mulher-Maravilha fez sua estreia nas telonas este ano em Superman vs. Batman: A Origem da Justiça. Foi a prévia para seu filme solo, que estreia em junho de 2017, com direção de Patty Jenkins. No papel da heroína, a modelo israelense Gal Gadot tem pose e olhar de guerreira que muitos atribuem a sua passagem pelo serviço militar obrigatório em Israel.

Sem rumo

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Mulher-Maravilha passou por várias fases em que a DC Comics não tinha muita ideia do que fazer com a personagem. Em uma tentativa de relançamento em 2006, a heroína foi entregue ao roteirista Allan Heinberg, que misturou elementos da Diana Prince militar com a versão mod dos anos 1960. Não deu muito certo. A romancista Jodi Picoult foi contratada para elevar o nível. Não deu certo. Gail Simone foi chamada para limpar a bagunça e conseguiu manter a série por anos.

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