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Os Flintstones | 20 temas polêmicos abordados pela HQ

Publicação fala sobre casamento gay, preconceito e critica a relação com o trabalho

22.12.2017, às 10H08.
Atualizada em 22.12.2017, ÀS 10H36

Em julho do ano passado, a DC Comics lançou um projeto que visava reinventar os personagens da Hanna-Barbera. A ideia da editora era criar um quadrinho para um público adulto e, por isso, deu liberdade para os criadores tocarem em temas polêmicos e um dos trabalhos mais interessantes está em Os Flintstones, publicação que chegou ao Brasil recentemente pela Panini em um volume único com as seis primeiras edições.

Clássicos da filosofia homenageados

Logo na capa já temos uma ideia do tipo de história que será contada ao ver o livro que Pedrita segura, chamado Canibalismo: o Ideal Desconhecido. Essa é uma citação direta ao trabalho de Ayn Rand, que escreveu Capitalism: The Unknow Ideal (Capitalismo: o Ideal Desconhecido, em tradução livre). Não bastando, logo nas primeiras páginas temos um mapa de Bedrock e o cinema é chamado de Caverna de Platão.

Um dos quadrinhos mais provocativos da editora nos últimos tempos,a versão moderna da família da idade da pedra foi criada por Mark Russell e Steve Pugh, que criaram uma sátira que recebeu elogios da crítica americana. A obra não tem medo de tocar em assuntos sensíveis e tece críticas a todo o estilo de vida dos EUA, passando pelas guerras desnecessárias, o preconceito velado, ao sistema de trabalho e muito mais. 

Preconceito

O grande diferencial dessa HQ é que ela não tem medo de tocar em temas sensíveis. Na primeira história, descobrimos que o Senhor Pedregulho quer contratar três Neandertais para serem explorados – pois não entendem nada sobre dinheiro. Ele os chama de “Cro-Magnons”, que é o nome dos restos mais antigos na Europa do Homo sapiens. Ou seja, ele não considera eles uma raça diferente e, sim, uma versão desevoluída de si mesmo.

Preconceito velado

Fred fica encarregado de fazer os Neandertais se divertirem e sai com eles para passear. Quando busca Barney, temos uma pequena cena que reflete o preconceito velado da sociedade. Assim que senta no carro, ele olha para trás sem entender nada e, após um momento de silêncio, pergunta para o amigo se ele notou que tem “um bando de homens da caverna” no carro, a forma pejorativa de se referir ao Neandertais. 

Confira os temas polêmicos abordados ao longo das 168 páginas da HQ: 

Críticas ao sistema de trabalho

Fred leva os Neandertais para tralhar na pedreira e explica o motivo de usar uma gravata: “eu li que você deveria se vestir para o cargo que deseja, não para o que tem” e, apesar de ser o funcionário do mês, faz 15 anos que ele está no mesmo cargo. Após um dia de trabalho, os Neandertais recebem seu pagamento e não sabem o que fazer com o dinheiro pois nunca precisaram dele. “Você pode comprar uma coisa que outra pessoa odiou fazer”, diz Fred. Pouco depois, Pedregulho explica que milhares de gerações se sacrificaram e somente o nome dele, o do homem mais rico, será lembrado. 

O que é arte?

Vilma é uma personagem muito mais complexa nessa HQ. Ela sonha em ser artista e tem uma chance de ter sua arte exposta em galeria somente para ser ridicularizadas por um trio de visitantes. Sua pintura é uma série de mãos que representam sua tribo que, após uma longa viagem, deixava sua marca em uma caverna para mostrar que estavam vivos. Ao insultar seu trabalho, Vilma fica chateada não por conta de sua “falta de habilidade”, mas por terem insultado seu passado e toda a vida que conheceu até então. 

Qual o sentido da vida?

Os animais ganham destaque nessa HQ. Tratados como objetos como telefone, limpa pratos e outros utensílios domésticos, eles questionam qual é o papel deles no mundo. O destaque vai para o tatu Bola de Boliche e o elefante aspirador que criam uma amizade incomum. O tatu se desespera pois não entende o motivo de ser jogado diariamente em diversos pinos e é consolado pelo elefantinho, que diz que o sentido de sua vida talvez “esteja nos momentos em que passamos com os outros”

Casamento gay

A HQ inteira é uma crítica a visão da sociedade em relação ao casamento gay, mas a obra vai ainda vai mais fundo para explorar a hipocrisia de algumas pessoas. O conselheiro matrimonial de Fred e Wilma quase é atacado pela população raivosa contra casamento, mas escapa ao explicar que precisamos aceitar mudanças e compreender o lado do outro. Quando dois amigos de Fred decidem casar, ele se recusa pois acha que não é natural e explica que só disse aquilo pois era minoria na hora do ataque. 

Desrespeito aos veteranos de Guerra

Uma das grandes polêmicas dos EUA é o desrespeito da sociedade com veteranos de guerra e a HQ toca diretamente neste ponto. O clube de encontro de Fred e Barney vira um centro de veteranos, onde eles expõe seus principais traumas. Na terceira história, eles mostram que apesar de terem sido tratados como heróis após a vitória, muitos não conseguiram empregos, vivem nas ruas ou sofrem de depressão, como Joe. 

Crítica ao dinheiro e a mão de obra "barata"

Os Neandertais abandonam a civilização no momento em que veem Pedregulho “pagar” um de seus amigos com um colar para ele matar um Mastodonte. Os dois sobreviventes abandonam tudo pois, para eles, “civilização é ter alguém para matar para você”. Na última história, um renomado cientista demite um experiente funcionário para substituí-lo por duas crianças, que chama de estagiários.

Críticas ao consumismo

Barney compra uma televisão e, nela, assiste ao anúncio da abertura de um shopping onde as pessoas podem aderir a nova moda: comprar “porcarias”, ou coisas que não precisam. Fred começa a comprar tanta coisa para alegrar sua família que precisa arrumar um outro emprego vendendo pílulas, mas falha pois não consegue vender algo que as pessoas não precisam, enquanto Barney usa a super-força de Bam Bam para atrair o público. No fim das contas, Fred se revolta em receber tão pouco apesar de ter trabalhado tanto, precisando devolver suas “porcarias”.

Caos e fim da civilização

Quando um cientista decreta que a Terra será atingida por um meteoro, todas as bases da civilização começam a cair. A igreja é destruída, a lei é ignorada e vira uma situação de cada um por si. O grande detalhe é o Senhor Pedregulho que, apesar de seu dinheiro, se vê sozinho em sua casa e sua única esperança é que o letreiro com seu nome sobreviva a destruição. No fim, tudo não passou de um erro do cientista. 

Guerra falsa

Após destruir o povo da árvore, Fred chega a triste revelação de que ele não estava protegendo sua família – ele era um invasor na terra de outras pessoas. “Tudo o que disseram para nós sobre o povo da árvore atacando era uma mentira. Quem leva crianças para uma invasão?”, diz após encontrar um boneco de pano. Barney acaba encontrando um sobrevivente, que decide criar como seu filho: Bam Bam. 

O que é Deus?

Os autores vão fundo em todos os assuntos, inclusive na religião. Russell parte da ideia de que a religião de Bedrock foi criada para ajudar a controlar a população e ao longo do Volume eles louvam três deuses, começando com o pássaro chamado Morp e, em seguida, para um elefante de nome Pêssego. Ambos foram comprados no shopping e, quando a população descobre, os reverendos tem a ideia de criar um “Deus Invisível” de nome Gerald.

Férias da destruição

Nada escapa da HQ, nem mesmo o spring break – tradicional recesso dos EUA onde estudantes aproveitam para “se divertir a qualquer custo”. Na HQ, Bedrock sofre com uma invasão de estudantes alienígenas que causam todo tipo de problema e, quando sofrem alguma consequência como a prisão, começam a destruir a cidade. A batalha só acaba quando os pais chegam para busca-los. 

Críticas as guerras dos EUA

Muito se crítica as guerras dos EUA, como o Afeganistão e a guerra do Iraque – acusada de ser apenas uma desculpa para pegar petróleo. Os autores usam a ideia que governantes manipulam a população para convencê-la a ir para guerra e usa como base o Senhor Pedregulho. Ele diz que quer construir uma cidade mas, para isso, precisa destruir a ameaça do Povo da Árvore – que pode pegar as crianças e queimar as pessoas. Na verdade, o povo rival nunca atacou ninguém e ele só precisava do terreno para construir suas obras. 

Monumento para quem?

A invasão alienígena só acontece pois cientistas locais mandam um macaco para o espaço, que é encontrado morto pelos extraterrestres. Durante a invasão dos estudantes, diversos ex-soldados voltam a ativa, como Joe (que estava com depressão e pensando em se matar). Ele acaba morrendo em combate e, apesar de seus amigos acreditarem que ele será homenageado pelo seu sacrifício ao final da história, o único que recebe uma estátua é justamente o macaco, Sargento Resmungo, por ter realizado o primeiro contato com seres de outro planeta.

Mas para que serve o casamento?

Fred e Vilma vão para um retiro entender melhor o motivo pelo qual escolheram estar casados e Fred tem uma das mais belas reflexões da história. “Casamento é como um seguro. Você firma um compromisso para a vida toda porque tem medo do futuro. Mas... será que estar casado significa que ela me amará para sempre? Ou será apenas minha tentativa de impedir que ela encontre alguém melhor? O casamento é realmente um laço sagrado, ou apenas a ilusão de segurança?”

Origem do Iaba-Daba-Duu e o trauma da guerra

A frase clássica de Fred, inclusive, está diretamente ligada aos traumas da guerra. Durante um dos encontros entre veteranos, o psicólogo lembra o grupo que dizer essa frase “sem sentido” ajuda a lidar com situações tensas.

Adoção e homossexuais

Quando o conselheiro se recusa a casar seus amigos, chamados de “não-procriadores”, Fred explica que eles eram os membros mais importantes de sua tribo de caçadores-coletores. Nem sempre era possível que as pessoas cuidassem de seus filhos e, por isso, os não-procriadores eram fundamentais, ajudando as crianças que estavam sozinhas. “Tê-los por perto significava a diferença entre a vida e morte”, diz Fred. Uma crítica ao preconceito a adoção por parte de homossexuais. 

Casamento é um tabu

Uma das maiores críticas da HQ é que toda mudança na sociedade é vista com preconceito por pessoas tradicionais. A publicação explora a ideia que o casamento é um conceito novo e, por isso, é julgado como algo absurdo por diversos membros da sociedade. “Volte para a caverna do sexo como a natureza quis”, diz um senhor para Fred e Wilma, enquanto o apresentador do jornal diz que o casamento é uma ameaça imoral ao estilo de vida da sociedade pois não existia quando ele era criança.  

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