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CCXP | Mark Waid dá aula de quadrinhos: "Não desperdice o tempo do leitor"

Escritor resumiu em Master Class os principais aprendizados de 30 anos de carreira

06.12.2015, às 08H43.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H35

Mark Waid escreveu O Reino do Amanhã. Acabou de escrever uma fase premiada e elogiadíssima do Demolidor, assim como também teve fases de destaque em Quarteto Fantástico e Capitão América. Foi o autor do que muitos leitores consideram o melhor Flash da história. Reescreveu a origem do Superman, resolveu lançar sua própria iniciativa de webcomics, já foi editor e editor-chefe, foi o contratado para reinventar um dos personagens perenes do quadrinho americano, Archie, e está relançando Vingadores e Viúva Negra quando os heróis estão em maior destaque no mundo.

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Somando tudo, são 30 anos de carreira. Waid foi convidado a trazer todas essas experiências para uma Master Class na CCXP 2015. Essa foi inclusive sua piada no início: "A gente aprende a ser humilde quando vê que consegue resumir 30 anos de carreira em uma hora de apresentação".

Waid assumiu a tarefa realmente como aula: preparou um beabá para quem quer escrever quadrinhos, desde o básico da mídia - ele admitiu que quis começar com o básico mais raso possível, "coisas que só a sua mãe entende de quadrinho" - até recomendações que ele admite serem gostos pessoais quanto a construção de histórias. Ao longo da aula, apresentou exemplos de quadrinhos clássicos: Watchmen, Batman: Ano Um, seu próprio Demolidor.

A primeira parte da aula consistiu em mostrar páginas de roteiro, explicar tipos de quadro, tipos de balão. A segunda tratava de linguagem: Waid ressaltou que quadrinhos são sucessões de "momentos congelados", que os quadros só comportam uma ação que poderia estar contida em uma fotografia. "Não dá para você pedir para o desenhista colocar em um quadro só: 'personagem pisca'". Economia narrativa: "Qualquer coisa que não faça a história andar nem conte algo que não se sabia sobre o personagem é desperdício do tempo do leitor". Além disso, "o tamanho do quadro dita ritmo de leitura e ênfases".

A terceira parte é a das regras que ele diz que tende a seguir na sua farta produção. Primeira: "Uma HQ tem que ter pelo menos um grande momento - um momento de impacto, com uma coisa que o leitor nunca tenha visto antes". Outra: "Chame a atenção do leitor o mais rápido possível - de preferência na primeira página". Ele fez uma comparação com o filme Cães de Aluguel, de Quentin Tarantino: "Quinze minutos de gângsteres num café discutindo Madonna seria um início bastante ruim para uma HQ".

Waid abriu perguntas para os fãs em dois momentos, que renderam mais dicas importantes ou revelações sobre seu processo. Ele comentou, por exemplo, que quando era escritor de Daredevil, todos os dias ele tinha momentos da sua vida em que parava e se perguntava: "Como Matt Murdock 'veria' isso com os sentidos dele?". A mesma coisa com Flash: "Se você fosse superveloz, você seria super-impaciente".

Sobre bloqueio de escritor: "É seu subconsciente tentando dizer que você tomou um caminho errado lá atrás no processo". Quando você sente que fez uma cena exagerada: "Nunca se censure. Solte-se e escreva tudo que vier. Dois dias depois, volte e revise o que escreveu para se perguntar se ainda funciona". Sobre quando e como escrever: "O mais importante pra mim é sentar na frente do computador, relaxar e me dar permissão para escrever o que eu quiser e quanto eu quiser. A única regra é que, nessa hora, eu não posso fazer outra coisa que não escrever".

Waid também demonstrou reticências em relação à TV. "Executivos de TV vêm dizer que 'o personagem tem que ser simpático'. Pura besteira. Hamlet era um babaca. Rei Lear era um canalha. Walter White é um criminoso!" O que importa, para ele, é que o personagem esteja diante de decisões interessantes. E quando um editor ou um produtor lhe diz que um personagem não pode agir de determinada forma? "Geralmente, nessas situações, minha solução é me levantar, derrubar a mesa e sair da sala. Adoro o seriado de TV do Flash, já me perguntaram se eu gostaria de ser roteirista e eu falei que não - pois se eu entrasse numa sala de roteiristas e alguém me dissesse 'o Flash não age assim', eu ia ser condenado ao corredor da morte".

Uma das principais lições que Waid tirou dos 30 anos: no início de carreira, ele era focado mais em ter uma boa trama. Com o tempo, aprendeu que a boa história tem que vir do coração. "Ninguém lembra da trama de nenhum filme do James Bond. O que você lembra é daquela cena em que seu coração bateu mais forte."

Waid, sempre bem humorado, encerrou a aula dizendo que precisava desesperadamente ir ao banheiro. Ele continua na CCXP até o domingo, inclusive com mesa no Artists' Alley, onde recebe os fãs para autógrafos.

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