Quantidade de páginas: maior é melhor&qt&

Um das características mais interessantes das novas séries da Abril é a quantidade de páginas de cada uma. Com o impressionante número de 160 páginas de quadrinhos por revista, essas HQs serão as maiores revistas regulares em formato americano já editadas por aqui e estarão entre os títulos mensais mais volumosos do Brasil em todos os tempos. A única série mensal maior que me vem à memória é a falecida Disney Especial que, em suas várias encarnações, tinha a assombrosa quantidade de 228 páginas de quadrinhos por mês.

Mas, afinal, essa quantidade de páginas será bem recebida pelos leitores&qt;& Bom, todo bom leitor de HQs adora revistas cheias de páginas – e abomina as minúsculas HQs típicas dos EUA com míseras 22 páginas de histórias –, mas raras são as HQs de mais de 100 páginas a sobreviver no mercado nacional. Normalmente por questões de preço (maior = mais caro) e qualidade das histórias (ninguém gosta de uma HQ de 160 páginas com apenas 40 de boa qualidade!).

Limitando nossa análise aos quadrinhos de super-heróis da Abril, vemos que, na maior parte de sua história, a editora editou revistas com 84 páginas. Houve períodos em que as HQs da editora tinham 68 ou mesmo 48 páginas, mas, via de regra, isso se deveu às recorrentes crises econômicas (por exemplo, como conseqüência do Plano Collor, grande parte das revistas DC/Abril emagreceram para 48 páginas) e, ao término destas, as revistas tendiam a retornar às 84 páginas.

Recentemente a Abril aumentou o número de páginas de todas as suas HQs em formatinho para 100. Apesar de um ínfimo reajuste de preços, a medida parece ter sido bem recebida, o que poderia motivar a criação dessas revistas “gigantes”.

No entanto, reza a tradição que as revistas maiores que o mágico número de 100 páginas não durem. A primeira do tipo foi a lendária Heróis da TV, uma das pioneiras da Abril, que começou com 132 páginas. Não ficou muito tempo, porém, nesse tamanho, sendo reduzida a 84 páginas aproximadamente na época em que sua irmã Capitão América aumentou de suas antigas 48 páginas para as 84 que manteve por mais de 15 anos.

A segunda tentativa da Abril em produzir uma revista semi-regular com muitas páginas foi com as semestrais Marvel Especial (essencialmente republicações) e DC Especial, cada uma em média com 132 páginas. Publicadas irregularmente, duraram menos de 10 edições cada e foram substituídas pelos verdadeiramente titânicos Superalmanaque Marvel e Superalmanaque DC, também com periodicidade incerta. Nunca houve um padrão para a quantidade de páginas destes últimos, mas algumas edições (especialmente as primeiras) tinham rotineiramente 240-260 páginas! A revista da DC durou pouco. A da Marvel teve sobrevida maior ao ser reduzida para um tamanho menor (cerca de 140 páginas), mas também acabou esquecida.

A esta altura, a Abril estava decidida a editar uma revista mensal de grande tamanho. A escolhida foi DC 2000, até então uma revista normal de 84 páginas. A partir da sua 15ª edição, o título passou a ter mastodônticas 160 páginas (curiosamente o mesmo número que terão as novas HQs), permitindo à Abril publicar as inúmeras boas séries que a DC Comics lançou no final dos anos 80 (Sr. Destino, Legião dos Super-Heróis e Rapina & Columba). Lamentavelmente, o Plano Collor condenou essa iniciativa menos de um ano após sua implantação. DC 2000 voltou a ter 84 páginas no seu número 25. Um grande número de boas séries publicadas em sua “fase gigante” voltaram a ser ignoradas pela Abril.

Mais recentemente, a Abril arriscou uma publicação mais robusta com sua revista Marvel 97/98/99/2000. Como outras, começou com 132 páginas mas foi rapidamente “enxugada” para 100. Uma nova tentativa de emplacar uma revista Marvel mensal de muitas páginas – e um tema único –, a Especial do Mês, com as mesmas cabalísticas 160 páginas, fracassou em menos de 6 números, sem sombra de dúvida por culpa da fraca seleção das histórias e não pelo formato.

Nos últimos meses, a Abril voltou a sondar o mercado com a nova série Grandes Heróis Marvel. Transpondo a idéia de um único tema por edição do Especial do Mês, a nova GHM, embora tenha nominalmente 100 páginas, já contou com edições com 132 e 160 páginas. Desta vez, o público parece estar aceitando melhor tal quantidade de páginas, embora ainda seja cedo para se julgar.

Concluindo, a tradição mostra que, embora o público prefira HQs de 84-100 páginas, revistas maiores que este tamanho costumam ter vida breve. A Abril, por sua vez, nunca deixou de tentar publicá-las, mas será que o público quer esse tipo de revista&qt;&

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