A controvérsia de mais de 60 anos sobre o álbum Tintim no Congo vai chegar aos tribunais em 2010. O contador congolês Bienvenu Mboto Mondondo, que já se manifestara no ano passado, abriu o processo acusando o livro de propagar ideias de racismo e colonialismo na representação que faz dos africanos.
Esta semana, em Bruxelas, houve a primeira audiência sobre o caso. O julgamento acontece na semana que vem, no dia 12 de maio. E pode chegar inclusive à comissão de direitos humanos na União Europeia.
tintim
A principal crítica de Mondondo está na representação do domínio belga sobre o Congo (que durou até 1960) como um período pacífico, quando há estimativas que a população do país africano caiu em 10 milhões durante o período crítico de dominação. Além disso, o álbum mostra os congoleses como um povo com deficiências de aprendizagem e que adora o homem branco como se fosse um deus.
O responsável pela ação diz que se contentaria com um prefácio no álbum que colocasse que ele deve ser lido em seu contexto histórico, quando não existiam leis contra o racismo e havia uma defesa da validade do controle belga sobre o país africano. A edição inglesa de Tintim no Congo já adotou esta recomendação, após reclamações no país.
A versão original da história, publicada em 1931, era ainda mais colonialista e racista. Hergé, o criador de Tintim, alterou-a para uma versão colorida em 1946 - hoje publicada em todo o mundo, inclusive no Brasil. Mesmo assim, nos últimos três anos já aconteceram ações de repúdio, livrarias que tiraram-no da seção infantil, editoras que decidiram não republicá-lo e bibliotecas que tiraram Tintim no Congo da estante.
A Moulinsart, editora que controla tudo relacionado a Tintim, vai apresentar sua defesa até a semana que vem. A principal argumentação é que, seguindo o critério de "alertar" quanto ao conteúdo do álbum, grande parte da literatura produzida da metade do século XX para trás também teria que vir com esse tipo de aviso.