Tudo sobreQuentin Tarantino - 50 Anos
Por Marcelo Hessel
Nascido em 27 de março de 1963, em Knoxville, Tennessee, Quentin Tarantino completa 50 anos de idade com oito longas-metragens no currículo como diretor. Alguns diálogos que escreveu e algumas músicas que escolheu para suas trilhas sonoras se tornaram parte do imaginário pop dos nossos tempos.
Personagens criados por Tarantino também são uma síntese do seu cinema. Aqui elencamos oito deles - um para cada filme - que representam tipos ou fórmulas que o diretor revisita constantemente, sempre com um olhar disposto a capturar o que o cinema tem de mais catártico.
Vic Vega, o Mr. Blonde, interpretado por Michael Madsen em Cães de Aluguel (1992), é o primeiro dos muitos vilões sádicos dos filmes de Quentin Tarantino. Com seu canudinho e sua dancinha, Mr. Blonde tortura e retalha uma vítima como se fosse só um passatempo. Outros vilões sádicos do cineasta: Zed (Pulp Fiction), Bill (Kill Bill), Stuntman Mike (À Prova de Morte), Hans Landa (Bastardos Inglórios), Calvin Candie (Django Livre)...
Winston Wolf, ou Mr. Wolf, ou simplesmente The Wolf, interpretado por Harvey Keitel em Pulp Fiction (1994), é o principal "Faz-Tudo" na cinematografia de Quentin Tarantino. É o tipo de personagem que fala pouco, só pergunta o que precisa mesmo saber e nunca questiona sua função na história. Se precisar dar um banho de mangueira para tirar o sangue dos seus capangas, é só chamar o Wolf. Outros resolvedores de problemas do cineasta: Louis Gara (Jackie Brown), Budd (Kill Bill), Hugo Stiglitz (Bastardos Inglórios)...
Ordell Robbie, o personagem de Samuel L. Jackson em Jackie Brown (1997), é o grande negão f*dão dos filmes de Quentin Tarantino, cineasta obcecado com a cultura negra dos EUA e seus símbolos de virilidade. Ordell não reescreve passagens bíblicas como o Jules de Pulp Fiction, mas tem o rabo-de-cavalo mais nervoso da história dos blaxploitations. Outros negões f*dões de Tarantino: Marsellus Wallace (Pulp Fiction), Rufus (Kill Bill 2), Kim (À Prova de Morte), Django (Django Livre)...
Beatrix Kiddo, mais conhecida como A Noiva, personagem que Uma Thurman interpretou a partir de Kill Bill - Volume 1(2003), é a principal heroína do diretor. Diz a lenda que, anos depois de coadjuvar em Pulp Fiction, Uma recebeu de Quentin Tarantino o roteiro de Kill Bill como presente de aniversário dos seus 30 anos. Outras heroínas do cineasta: Jackie (Jackie Brown), Zoë (À Prova de Morte), Shosanna (Bastardos Inglórios)...
Gordon Liu já tinha interpretado o líder dos Crazy 88 em Kill Bill - Volume 1 (2003), e retorna em Kill Bill - Volume 2 (2004) no papel de Pai Mei, o mais querido (e estiloso) mentor dos filmes de Quentin Tarantino. Embora impiedoso, sarcástico, misógino e xenófobo, ele ensina apenas à mais perseverante de seus aprendizes, uma mulher, Beatrix Kiddo, a técnica de explodir corações com kung fu. Outros personagens do cineasta que assumem posição de mentor: Mr. White (Cães de Aluguel), Esteban Vihaio (Kill Bill - Volume 2), Dr. Schultz (Django Livre)...
Lee, a líder-de-torcida vivida por Mary Elizabeth Winstead em À Prova de Morte (2007), é uma das adoráveis donzelas de Quentin Tarantino. Em universos cheios de tipos viciosos e sacrifícios de heróis, os últimos resquícios de inocência são essas figuras angelicais. Quase sempre alheias a toda a violência que as cerca, tendem a tornar-se heroínas quando o mal as alcança, como a Shosanna de Bastardos Inglórios. Outras donzelas: Fabienne (Pulp Fiction), Nikki (Kill Bill), Broomhilda (Django Livre)...
O tenente Aldo Raine, vivido por Brad Pitt em Bastardos Inglórios (2009), é um dos tipos falastrões de Quentin Tarantino. Às vezes, esses personagens com talento para orador-da-classe e discursos na ponta da língua conseguem convencer a todos ou ganhar uma discussão na base da lábia - e às vezes pagam caro por falar demais. Outros falastrões do diretor, sejam articulados ou simplesmente verborrágicos: Nice Guy Eddie (Cães de Aluguel), Honey Bunny (Pulp Fiction), Jules (Pulp Fiction), Melanie (Jackie Brown), Hans Landa (Bastardos Inglórios), Dr. Schultz (Django Livre)...
Quentin Tarantino não deixa de ser um personagem de si mesmo. Faz pontas em quase todos os seus filmes, ora como provocador de discussões pop (Cães de Aluguel), como espectador falsamente displicente do absurdo que orquestra (Pulp Fiction), como amigão de todos e bom de festa (Grande Hotel, Um Drink no Inferno, À Prova de Morte), às vezes com inserções discretas à Hitchcock (a voz na secretária eletrônica em Jackie Brown, o figurante nazista escalpelado de Bastardos Inglórios). O alter-ego mais importante que o cineasta já assumiu, porém, está em Django Livre. Depois de tantos anos enfrentando perguntas sobre sua obsessão com a violência, Tarantino dá a resposta definitiva - e explosiva - no papel de um empregado da LeQuint Dickey Mining Company, zoando a si mesmo.