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Rock in Rio 2011 | Diário - Dia 7: Guns N' Roses, System of a Down, Evanescence e mais

Festival chega ao fim com muita chuva e transforma show de Guns N' Roses em experiência edificante

03.10.2011, às 22H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H45

Há vezes em que o show "acontece" e a banda consegue estabelecer uma conexão com a plateia e contagiá-la totalmente com suas músicas. Muitos grupos conquistaram esse feito no Rock in Rio 2011 e normalmente tocar hits é a melhor pedida. Guns N' Roses tinha tudo para fazer um show catártico, mas o que tivemos, na verdade, foi uma experiência daquelas que formam caráter e que separou os verdadeiros fãs da banda dos ouvintes casuais.

Rock in Rio 2011

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O atraso de uma hora e meia e a chuva forte fizeram muitos irem embora da Cidade do Rock, deixando a pista com uma lotação ideal para apreciar o show, sem incômodos ou empurra-empurra.

Axl Rose não mostrou-se muito amistoso, sem as declarações de amor ao Brasil e palavras em português que viraram praxe no Rock in Rio - mas ninguém esperava isso dele. O público, molhado e com frio, precisaria de muito esforço e muitos hits para empolgar de verdade. No entanto, parece que a concepção de um bom show para Axl Rose não é apenas fazer o povo sair do chão e assim a banda ficou focada em sua performance. Apesar de muitos falarem mal do vocalista, comentarem seu peso e achar que ele está "caído", sua voz continua incrível - e mesmo com a chuva que fazia pifar os telões de LED, o som na Cidade do Rock estava perfeito (com certeza com a ajuda de um ótimo técnico de som da banda).

O Guns N' Roses abriu com "Chinese Democracy", seguida de "Welcome to the Jungle", já começando com uma das músicas mais agudardas da noite. "Mr. Brownstone" e "It's So Easy" formaram a trinca vinda de Appetite for Destruction e assim a plateia foi começando se entregar. Ignora-se o fato de que todos os integrantes originais deixaram a banda e só ficou Axl Rose; ignora-se as acusações de que o Guns N' Roses é agora uma banda cover de si mesma. Quem ficou na Cidade do Rock queria ouvir ao vivo aquelas músicas clássicas que foram tão importantes para todos ali, em algum período de suas vidas.

O público estava parado, mas ao olhar ao redor, via-se que todos estavam contentes, cantando baixinho, se movendo levemente e apreciando o show. Pular com entusiasmo era um exercício de superação, e esses momentos vieram em "Sweet Child O'Mine" e "Night Train", já ao fim da apresentação. "Knockin' On Heaven's Door" foi um dos raros momentos em que Axl Rose interagiu com a plateia, chamando todos para cantarem o refrão. Outro destaque do show foi "Patience", com um momento bonito ao final, em que o vocalista confessou "É, eu não tenho paciência". Na plateia, alguns riram e comentaram "É, Axl, a gente sabe".

O grupo fechou a noite com "Paradise City", outro clássico agitado que conseguiu levantar a plateia, dando um ótimo final ao show que, entre pontos altos e alguns momentos burocráticos, ainda conseguiu deixar em todos o sentimento de que aquilo foi incrível e assim saímos da Cidade do Rock extasiados. No total, foram duas horas de apresentação, recompensando a longa espera com um show completo, ao invés de um setlist reduzido de festival. Infelizmente, os músicos contratados para dar continuidade ao Guns N' Roses não convencem, por mais que executem todas as canções com competência (no ônibus de volta alguns fãs gritavam por Slash). O que assistimos ali foi mesmo o show de Axl Rose, mas tudo bem.

O retorno em grande estilo

Algumas horas antes e sem chuva, o System of a Down subiu ao palco e já na primeira música, "Prison", incendiou a arena, já dando a impressão de poderíamos ver ali um show como o do Slipknot, promovendo o caos total - tinha rodinha punk até do lado do Bob's!

Retornando de um hiato de cinco anos, a banda fez um show competente, incluindo músicas de todos os seus cinco discos. Entre momentos de muita agitação em hits como "Chop Suey",  em que o coro da plateia eclipsava o sistema de som, "Bounce", "Aerials", "Cigaro", o System of a Down acabou perdendo o entusiasmo do público lá pelo meio do show e a apresentação ficou um pouco monótona. Foi interessante constatar que as pessoas não estavam tão interessadas em cantar coletivamente, mas sim em pular e ficar se batendo nas rodinhas, deixando o " karaokê ao ar livre" que imperou no festival só para os maiores hits.

Serj Tankian fez ainda algumas pausas para um discurso politizado, falando sobre questões ambientais e a destruição desnecessária causada pelo ser humano e pelo consumo. Seria animador se ele conseguisse inspirar nas pessoas um espírito de revolta, para ser injetade de volta no rock, mas não foi o caso.

A banda foi recuperando seu momento no fim do show, culminando com "Toxicity" e "Sugar", que encerrou a apresentação, sem bis. No fim das contas, o System of a Down fez um show equilibrado, com 28 músicas no setlist, cumprindo as expectativas dos fãs para uma das bandas mais aguardadas do festival.

Outra grande atração da noite no Palco Mundo foi Evanescence, também retornando de um hiato e com um novo disco, seu primeiro em cinco anos, para ser lançado este mês. Abriram o show com "What You Want", primeiro single do novo trabalho, que foi recebida pela plateia com empolgação. Em seguida, o sucesso "Going Under" e depois a inédita "The Other Side". E assim a banda foi seguindo no setlist, combinando sucessos e músicas novas, totalizando seis músicas do disco autointitulado a entrar no show.

Durante a performance, a banda mostrou-se concentrada e muito competente, sem gracinhas ou grandes interações com a plateia. Amy Lee deu tudo de si, com voz forte e presença de palco mesmo quando estava ao piano, que tocou em "My Immortal", outro ponto alto do show, "My Heart Is Broken", mais uma das novas, "Your Star" e "Sick". "Bring Me to Life", single que lançou o grupo mundialmente em 2002, fechou o show, com mais um momento de euforia.

Politicar

No Palco Sunset, os shows foram marcados por mensagens politizadas nos shows de Tom Zé e Titãs, dando finalmente algum conteúdo ao festival. Em 2011, o slogan "Por um mundo melhor" veio vazio, desacompanhado de qualquer proposta ou discussão - nem conceitos básicos e politicamente corretos sobre sustentabilidade, sexo seguro e drogas eram mostradas no telão. Ficou mesmo nas mãos de nossos veteranos da música ascender o assunto.

Paulo Miklos não poupou palavras e foi direto ao ponto, colocando a culpa também sobre os eleitores, que continuam devolvendo os políticos corruptos ao poder. Acompanhados dos portugueses do Xutos e Pontapés, tocaram então "Vossa Excelência", fazendo a plateia gritar o refrão "Filha da Puta! Bandido! Corrupto! Ladrão!". Adiado para 21h, provavelmente para não deixar um buraco na programação com o atraso de Axl Rose, que perdeu o avião e chegou no país no fim da tarde, o show combinou os principais sucessos das duas bandas. Com trajetórias muito semelhantes, Titãs e Xutos demonstraram entrosamento total, rendendo uma apresentação digna de Palco Mundo.

Tom Zé o fez sua crítica ao país pela sátira. Ele e sua banda subiram ao palco de terno, faixa presidencial e uma máscara de meia-calça e estava passada a mensagem contra a corrupção, que foi reforçada com a música "Balcão de Negócios" e a alfinetada continuou em " O Godô, Anos 2000" e "Defeito 3: Politicar". Também tocou "O Rock Ronca in Rio", música criada especialmente para o festival. Como já se esperava de Tom Zé, tivemos ainda um pouco de piração em "Xique Xique", em que ele desmontou um violão para fazer de saia. Foi uma ótima performance, que infelizmente foi curta já que os shows no Palco Sunset são sempre em colaboração, neste caso com Os Mutantes.

Redoma de emoções

Os Mutantes subiram ao palco só com dois integrantes remanescentes, Sérgio Dias e o baterista Dinho Leme. A falta de Arnaldo Baptista, que deixou o grupo em 2007, foi sentida pelos fãs instantâneamente, inspirando gritos de "Cadê Arnaldo?! Cadê Arnaldo?!". Aos poucos, a rejeição inicial foi passando. A nova vocalista, Bia Mendes, tem o espírito certo para a banda, meio louquinha e muito empolgada.

A apresentação foi curta e teve "Qualquer Bobagem" em dueto com Tom Zé, "2001", "Querida Querida", do álbum de 2009, Haih Or Amortecedor, "Minha Menina" e "Ando Meio Desligado". A música foi anunciada por Sérgio Dias como uma composição dele e Rita Lee e que teria um convidado especial. Por um segundo, todos seguraram o ar para ver se este seria o momento em que eles anunciariam que tinham feito as pazes. Mas não. O convidado de honra era Beto Lee, filho da cantora, que aproveitou para xingar muito no Twitter e reafirmar sua rejeição ao retorno de sua antiga banda. O show culminou com "Panis et Circensis" e, no meio daquela bagunça toda, com o refrão sendo cantado em inglês e em português, percebi o olhar de plena felicidade no rosto de Sérgio Dias por estar de volta com sua banda, cantando aquelas músicas tão especiais. Neste momento, me emocionei e, com olhos marejados, finalmente aprovei a nova fase dos Mutantes.

O Palco Sunset ainda teve o show de Marcelo Camelo e The Growlers, uma influência declarada do brasileiro. Juntos, fizeram um show muito interessante, mas a plateia do Rock in Rio só queria saber de Los Hermanos, desejo que foi atendido com "A Outra", "Morena" e "Além do Que Se Vê", que fechou o show em um momento bonito. Em retrospecto, no entanto, esta foi uma das apresentações mais mornas do dia, apesar de interessante e experimentalista.

Acabou assim o Rock in Rio, que promete retornar em 2013 e já tem quatro patrocinadores fechados. Esperemos que na próxima edição o festival corrija suas várias falhas, como por exemplo a superlotação da arena (já fala-se que o próximo evento terá 15 mil pessoas a menos), raiz fundamental de vários outros problemas que tivemos ali, como filas, confusão nas entradas e saídas da Cidade do Rock, sistema de esgoto entupido, entre outras. Ainda assim, entre méritos e deméritos, o festival mostrou-se uma ótima experiência. E a cobertura do Omelete ainda não acabou, ainda teremos mais conteúdo em vídeo dos próximos dias. Aguarde!

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