Chegamos ao Rock in Rio 2011 e corremos para o Palco Sunset, que nesses dias se provou uma das melhores partes do festival, com ótimas atrações musicais e espaço para assistir aos shows confortavelmente.
rock in rio 2011
A primeira apresentação já estava rolando, em que Cidadão Instigado recebeu como convidado o gaúcho Júpiter Maçã, nome de palco de Flávio Basso. Acostumados com a cena underground, nem encheram o palco ao dispor seus equipamentos, deixando grandes espaços em cada lado, concentrando a banda no centro.
Jupiter Maçã, todo cheio de trejeitos e às vezes falando em inglês (talvez em seu mundo, ele se imagine um rock star britânico) assumiu os vocais só na terceira música, deixando a abertura para a banda cearense, com "O Cidadão" e "Homem Velho". Em seguida, Basso cantou "Beatle George" e "A Marchinha Psicótica de Dr. Soup".
A parceria entre os dois grupos foi bem sucedida, adicionando um pouco de pose ao rock desencanado do Cidadão Instigado. Depois de conquistar a plateia com suas dancinhas em "Modern Kid", Júpiter Maçã anunciou sua música mais conhecida, "Um Lugar do Caralho", que foi cantada pela pequena plateia com entusiasmo. Para encerrar, "Calma", com direito a espasmos com a guitarra do vocalista Fernando Catatau. Já deu para ver que começamos o dia em grande estilo.
Plateia amistosa
Em seguida, tivemos o show de Tiê, uma das novas vozes da MPB, ao lado do uruguaio Jorge Drexler. Apesar da apresentação ter se divido entre trechos individuais, os momentos de parceria fluíram naturalmente, por não ser o primeiro encontro dos dois artistas (como foi o caso de muitos outros shows do Palco Sunset). Drexler gravou um dueto com Tiê em seu último trabalho, A Coruja e o Coração, que foi mostrado ao vivo pela primeira vez no festival.
Tiê abriu o show sozinha com "Na Varanda da Liz", que logo foi abraçada pela plateia, ganhando um coro no refrão. Em seguida, tocou "Piscar o Olho", para depois deixou o violão e passar para o piano, em "Entregue-se". Sob muitos aplausos, Drexler entrou no palco para o dueto "Perto e Distante", composição da brasileira. O dueto continuou com "Ao Otro Lado Del Río", premiada com um Oscar na trilha sonora de Diários de Motocicleta, que foi cantada por quase toda a plateia.
Drexler então anunciou então que cantariam a próxima música, "La Edad del Cielo", por insistência de Tiê, que quase não entrou no setlist por ele achar que uma música mais lenta não seria bem recebida por uma plateia variada de festival. Realmente, foi uma surpresa encontrar tantos fãs do uruguaio no Rock in Rio - aliás, seu show teve mais adesão que o de Lenny Kravitz, na noite anterior. O próprio Drexler mostrou-se emocionado com a reação das pessoas, rendendo momentos muito bonitos. Já sozinho com sua banda, tocou "Cerca del Mar", "Todo Se Transforma" e um cover interessante de "Disneylandia", composição de Arnaldo Antunes, em versão psicodélica com ares chillwave e um vocal falado em espanhol.
Para encerrar o show, Tiê voltou ao palco e tocaram uma versão mais latina e dramática de "Você Não Vale Nada, Mas Eu Gosto de Você", com refrão variando entre o português e o espanhol, aparentemente uma ideia que Drexler teve na hora.
Foi no show de Zeca Baleiro que a plateia mostrou todo seu bom coração. O maranhense começou o show sozinho, com "Filosofia", dando nova sonoridade à canção de Noel Rosa, e "Você Não Liga Pra Mim". Na quarta música, Baleiro recebeu o cantor Lokua Kanza, da República Democrática do Congo. Cantaram juntos "Versos Perdidos" e "Plus Vivant", e Kanza então foi deixado sozinho no palco para cantar "Wapi", uma música acústica em sua língua.
Apesar de desconhecido por aqui, o público mostrou-se carinhoso com o estrangeiro, que foi aplaudido o tempo todo. Foi um momento bonito e de muita educação, considerando que o que todos queriam realmente era ouvir Zeca Baleiro. Como já se esperava, o ponto alto da apresentação foi "Telegrama", seguida de "Toca Raul". O músico voltou para o bis com "Heavy metal do Senhor", encerrando sua apresentação com um momento surtado e rock'n'roll.
Uma pena que nessa altura o som no Sunset tinha voltado a ficar ruim. Nos dois primeiros shows, parecia que o problema havia sido solucionado, mas o som voltou a ficar estourado, especialmente nos graves, um problema técnico que está há dias atrapalhando ótimas apresentações naquele palco.
Um grande encontro
Um dos momentos mais aguardados deste sexto dia de festival foi a apresentação conjunta de Erasmo Carlos e Arnaldo Antunes, que fizeram o público cantar e dançar com muito entusisasmo - mas nada de micareta, apenas o bom e velho rock brasileiro. Abriram o show com "Iê, Iê, Iê" e "Essa Mulher", ambas composições de Antunes, que foram cantadas pelos dois músicos.
No início, Erasmo Carlos parecia um pouco frágil fisicamente, sem mexer-se muito no palco, concentrando-se em cantar. Talvez pelo contraste com a expressão corporal de Arnaldo Antunes é que sua falta de movimentação foi ainda mais ressaltada. Depois de duas músicas, Erasmo Carlos deixou o palco e ficamos com um show solo do ex-Titãs. Cantou "A Casa é Sua", "Invejoso", "Socorro" e "Judiaria" em uma performance muito enérgica.
Erasmo Carlos então voltou ao palco, e foi neste momento que aquele "senhor" de 70 anos mostrou todo seu espírio rock'n'roll e sua voz potente. Depois de mais duas músicas em dueto, Erasmo Carlos iniciou seu segmento solo com "Kamasutra", música de seu último álbum, Sexo, lançado em agosto deste ano. Em seu rosto, percebíamos uma risada contida com aquela música de letra safada. Depois de um pouco de estranhamento, a canção logo foi abraçada pelo público, que cantou junto seu refrão, "Uh uh uh, Em que posição?". Ainda assim, os pontos altos do show foram as conhecidas "Quero que Tudo Vá Para o Inferno", "É Proibido Fumar", escrita por ele em parceria com Roberto Carlos e "Festa de Arromba", ganhando instrumentação um pouco mais pesada por sua banda, trio que forma o grupo Filhos da Judith. Aos poucos, o músico veterano foi deixando-se contagiar pela plateia, formada quase inteiramente de jovens, soltando-se em uma performance mais agitada e uma dancinha peculiar.
Para encerrar o show, Arnaldo Antunes voltou ao palco e cantou com ele "Vem Quente que Eu Estou Fervendo". Enquanto isso, Frejat já estava quase finalizando seu show no Palco Mundo, mas quem ficou por ali presenciou um incrível encontro de música brasileira, sem dúvida uma apresentação muito marcante.
Greatest hits
A segunda banda a tocar no palco principal foi Skank, com um show sem surpresas. O compromisso do grupo de Belo Horizonte era fazer uma apresentação competente e bem executada, tocando com perfeitção seus principais sucessos. Abriram o show com "Mil Acasos", seguida de "É Uma Partida de Futebol" e "Esmola". Tivemos ainda "Uma Canção É Para Isso", "Jack Tequila", "Acima do Sol", "Três Lados" e "Garota Nacional".
Para quem já tinha visto um show do Skank, os momentos mais interessantes foram "Ainda Gosto Dela", que teve participação especial de Negra Li, apresentando ao vivo a colaboração gravada para o disco Estandarte, último trabalho de inéditas do grupo, lançado há três anos; e "Sutilmente", do mesmo álbum. É compreensível que o Skank prefira concentrar-se em seus maiores hits ao tocar para uma grande plateia, mas a impressão que fica é que eles estão há anos sem apresentar inovações. Neste sentido, Erasmo Carlos ainda mostra-se muito mais vanguardista que uma banda com "apenas" 20 anos de carreira.
Latinidade
Quando Maná foi anunciado no line-up do Rock in Rio, fiquei na dúvida se aquela seria apenas mais uma "banda tapa-buraco" antes do headliner, como foi o caso do Snow Patrol e de Lenny Kravitz. Felizmente para os mexicanos, este não foi o caso e muitos na plateia revelaram-se fãs do grupo, já vibrando com o anúncio de cada música.
A performance do Maná foi simples e coesa, sem desviar-se do setlist, mas muito enérgica. Entre os pontos altos do show estão as músicas, "Labios Compartidos", a politizada "Latinoamerica", que foi acompanhada de uma projeção com várias bandeiras, "Vivir Sin Aire", canção mais conhecida do grupo, e "Corazon Espinado", que teve participação especial do guitarrista Andreas Kisser, pisando pela segunda vez no Palco Mundo como convidado de honra, apesar do Sepultura ter sido escalado para o Sunset.
Para finalizar o show, o vocalista Fher Olvera desenrolou performáticamente as bandeiras do México e do Brasil, vestiu uma camiseta da Seleção e ainda chutou algumas bolas para a plateia. Nada como o reforço de clichês, mas o que esperar uma banda que se apresentou como vinda da "terra da tequila e dos mariachis"?
Uma performance enxuta
Fomos chegando ao fim da noite com o show do Maroon 5 e ao caminhar pela arena do palco principal já sentíamos o desconforto causado pelo excesso de público. O sexto dia do Rock in Rio foi um dos mais lotados do evento, passando de 100 mil pessoas. Ainda assim, todos estavam muito animados e receberam a banda com muita empolgação em "Moves Like Jagger", seu mais recente hit, que abriu o show. Adam Levine mostrou-se um ótimo frontman, preocupado em envolver todos que estavam ali. Mais de uma vez foi de ponta a ponta do palco, para o delírio de todos.
Apesar de deixar de lado alguns dos hits da fase Songs About Jane (2002), o Maroon 5 foi acompanhado pelo público facilmente nas novas músicas, como "Misery" e "Stutter", de seu último álbum, Hands All Over. Ainda assim, foram as músicas "Sunday Moring" e "This Love" que uniram toda a Cidade do Rock em coro. Para fechar, escolheram sua música mais conhecida, "She Will Be Loved", que começou apenas com voz e guitarra e foi subindo progressivamente. Tivemos então mais um momento em que todos cantaram juntos, encerrando o show com simplicidade e sem bis, rendendo longos aplausos do público.
Entre sucessos, inéditas e efeitos visuais
O show mais aguardado da noite começou sem atrasos, pontualmente à 1h10. O Coldplay escolheu abrir com "Mylo Xyloto", faixa-título de seu próximo álbum, que sai em outubro. Em seguida, tivemos "Hurts Like Heaven" e "Yellow", momento em que o grupo se utilizou do design de luz, tanto no palco como nos pilares de iluminação que circulavam a arena, para deixar a plateia toda sob uma atmosfera amarela. Logo depois, tivemos outra conhecida, "In My Place", ganhando uma chuva de papel colorido, que veio seguida de uma das novas músicas, "Major Minus".
Estava instaurada assim a dinâmica que seria usada durante todo o show, combinando músicas antigas, privilegiando os sucessos do álbum A Rush of Blood to the Head, com canções novas do disco Mylo Xyloto, como "Charlie Brown", "Us Against the World" e "Life is For Living", que obviamente foram os momentos mais mornos da apresentação. Tudo isso veio acompanhado de muitos efeitos visuais e projeções, deixando o público encantado.
Os momentos de maior empolgação foram sem dúvida a sequência certeira de "God Put A Smile On Your Face" e "The Scientist", cujos primeiros acordes já despertavam comentários como, "Ai, essa é triste!", e "Adoro essa!", rendendo um daqueles momentos bonitos em que todos cantavam juntos a música lenta. "Vila La Vida" foi uma explosão de agitação, ponto alto do show, pouco antes do final. Depois de mais duas músicas novas, apagaram-se as luzes, fazendo o tradicional momento de suspense antes do bis.
Voltaram com dois grandes sucessos, "Clocks" e "Fix You", que levantaram a plateia para a última música, "Every Teardrop Is a Waterfall", que mesmo sendo uma canção nova, manteve a galera em catarse. Como acompanhamento visual, fogos de artifício, projeções coloridas e Chris Martin sacudindo uma bandeira do Brasil.
E assim todos foram embora da Cidade do Rock maravilhados. O público teve os hits que tanto queria e o Coldplay conseguiu apresentar seu novo trabalho, esperando colher um novo sucesso de vendas.