Séries e TV

Crítica

Agent Carter - 1ª Temporada | Crítica

Hayley Atwell se prova como a primeira protagonista das produções da Marvel, mas série precisa ir além da premissa feminista

26.02.2015, às 10H26.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

Sem querer, Geraldine Doyle tornou-se um dos símbolos do feminismo. Trabalhando em uma fábrica em Michigan durante a Segunda Guerra, a menina de 17 anos foi transformada no rosto da campanha "We Can Do It!" (Podemos fazer isso!"), encomendada pela Westinghouse Electric para motivar a sua nova força trabalhadora. Na época, enquanto os homens seguiam para o front na Europa, as mulheres assumiram o trabalho em fábricas de navios, aeronaves, veículos e armamentos, além de dirigir caminhões e outras máquinas pesadas. Tudo isso mudou com o fim da guerra.

Agent Carter, a série da Marvel que amplia o universo da personagem vivida por Hayley Atwell em Capitão América: O Primeiro Vingador, se passa justamente nesse período de “volta à normalidade” em tempos de paz. A britânica Peggy, antes tão necessária durante a guerra, agora precisa lidar com o retorno dos homens aos seus antigos postos. Em 1946, seu trabalho dentro da SSR (Strategic Scientific Reserve, agência que mais tarde será absorvida pela SHIELD) é  apenas decorativo. Suas habilidades são subaproveitadas em missões de arquivamento de casos, recebimento de telefonemas e preenchimento de formulários e xícaras de café. Ela é vista apenas como a “viúva” do Capitão América e, de certa forma, a série também a trata assim, começando com a cena da despedida entre a agente e Steve Rogers (Chris Evans).

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O pôster "We Can Do It!". A imagem foi transformada em símbolo feminista na década de 80

Ao longo dos oito episódios da primeira temporada, a personagem segue em uma jornada para superar a perda do seu grande amor não vivido e afirmar sua importância longe da sombra do herói. Porém, se Peggy Carter ganhou a própria série de TV para provar a si mesma, depois de um curta da Marvel One-Shot e participações em Agents of SHIELD, Capitão América: O Soldado Invernal, Vingadores: Era de Ultron e Homem-Formiga, o mérito é de Hayley Atwell. A atriz deu nova vida à personagem, que nasceu sem nome, como mero interesse amoroso, nas HQs da década de 60. Sua aparência lembra a de uma autêntica bombshell (as pin-ups que enfeitavam aviões de bombardeio e suas bombas durante a Segunda Guerra), mas sua atitude mostra o conteúdo e a força necessária para o nascimento de uma nova heroína.

Christopher Markus e Stephen McFeely, criadores da série, e Tara Butters e Michele Fazekas, as produtoras principais, usam todos os atributos de Atwell a favor da trama de espionagem. Recrutada como agente dupla por Howard Stark (Dominic Cooper), acusado pelo governo de vender armas para o inimigo, a série trabalha com o confronto entre a agente Carter e os homens que a cercam. O chefe Roger Dooley (Shea Whigham) a considera um incômodo e os colegas, liderados por Jack Thompson (Chad Michael Murray), a percebem apenas como uma donzela em perigo. Apenas Daniel Sousa (Enver Gjokaj), que perdeu a perna na guerra e também é marginalizado, demonstra algum apoio, ainda que a veja mais como potencial esposa do que como companheira de ação. Nem Stark a leva suficientemente a sério, vendo Peggy como alguém que ele pode manipular. Seu verdadeiro aliado é mesmo Edwin Jarvis (James D'Arcy), o mordomo que mais tarde inspiraria a inteligência artificial criada por Tony Stark.

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Peggy Carter (Hayley Atwell) e Jarvis (James D'Arcy)

A relação entre Peggy e Jarvis é o ponto alto da série. Atwell e D'Arcy se apoderam de diálogos rápidos e bem-humorados com uma pompa inglesa devidamente controlada para o público americano. O programa também acerta no visual, explorando bem o figurino (criado por Giovanna Ottobre-Melton) em grandes ternos e gravadas para os homens e vestidos e conjuntos que contrastam feminilidade e força para as mulheres. Os cenários (assinados por Halina Siwolop), como a base da SSR, escondida por uma empresa telefônica, o restaurante, um típico dinner, onde Peggy se encontra com Jarvis e a aspirante a atriz Angie Martinelli (Lyndsy Fonseca), e o hotel para moças em que a agente mora são outras boas contribuições para a bem construída atmosfera. Clima esse coroado pela rádio-novela que romantiza as aventuras do Capitão América ao lado de uma certa Betty Carver.

Apesar de ser oficialmente parte do universo cinematográfico da Marvel, Agent Carter não é escrava dessa conexão e nem uma fonte desgovernada de easter eggs. É possível aproveitar a série sem nunca ter colocado as mãos em uma HQ ou os olhos em um filme do Marvel Studios, ainda que todas as referências sejam um grande atrativo para os fãs da Casa das Ideias. O primeiro ano teve, por exemplo, a obrigatória participação de Stan Lee, o retorno de Dum-Dum Dugan (Neal McDonough) e Cia., a possível fonte de criação da Viúva Negra pela revelação da origem da vilã Dottie Underwood (Bridget Regan) e a ligação entre o vilão Dr. Fausto (Ralph Brown) e o programa de criação do Soldado Invernal. Elementos que tornam a série um terreno fértil para ampliar o que é visto no cinema e continuar a relação entre o passado, o presente e o futuro da Marvel.

Agent Carter terminou sua primeira temporada em um tom melancólico, mas necessário. Peggy precisava superar Steve Rogers para se tornar a tão citada lendária agente da SHIELD e atestar que a Marvel pode ter uma mulher como protagonista. Resta aguardar a ainda não anunciada segunda temporada para ver ser a série pode sobreviver além da premissa feminista. Peggy Carter comprovou seu potencial como heroína. Agora ela precisa assumir o posto, para todos os gêneros.

Nota do Crítico
Ótimo

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