Meses após sua sucessora ter sido anunciada, Peter Capaldi concluiu sua jornada por Doctor Who com “Twice Upon a Time” (confira nossa opinião sobre o episódio). Como é tradição na troca de Doutores, os momentos finais do especial de Natal foram dedicados ao ator se despedir da produção e passar o posto para Jodie Whittaker.
Fim de uma era...
A era de Capaldi no programa é uma das mais interessantes de se acompanhar. O ator escocês foi originalmente anunciado como o protagonista em agosto de 2013. Logo de cara já tinha a árdua tarefa de substituir Matt Smith, uma das encarnações mais populares do Time Lord. Tratando-se também de um intérprete mais velho após três versões “jovens” do personagem, a troca parecia divisiva desde o inicio.
O ator não deixa a desejar quando se trata de habilidade: antes de Doctor Who, já tinha se consagrado com a performance do político ranzinza e boca-suja Malcom Tucker no filme Conversa Truncada e na série de TV The Thick of It, obras do criador de Veep Armando Iannucci. Capaldi tinha o tom cômico e a presença autoritária característica das versões clássicas do Doutor, o que poderia trazer uma mudança de rumo significativa ao programa.
O desenvolvimento não foi tão liso quanto o esperado. Apesar de ter um excelente ator no comando, o 12º Doutor demorou para encontrar sua voz, passando por aventuras medianas e pouco inspiradas até cair nas graças do público. Com a sua última temporada servindo como uma espécie de reboot para conquistar novos espectadores, a sensação que fica é que o escocês infelizmente não conquistou muita coisa durante sua jornada.
Isso é diretamente refletido na regeneração: sem nenhum companion ao seu lado, o Doutor passa por seus momentos finais dependendo apenas das memórias que fez ao longo do caminho - como Bill (Pearl Mackie), Nardole (Matt Lucas) e Clara Oswald (Jenna Coleman). No seu discurso de encerramento, o protagonista repassa tudo o que aprendeu para a sua sucessora.
Se as despedidas de Christopher Eccleston e Matt Smith não tinham deixado claro até o momento, Capaldi relembra que as palavras finais geralmente servem como reflexão das aventuras de cada versão do Doctor. No seu caso, o personagem passou por maus bocados e decisões duvidosas, mas ainda conquistou o coração dos espectadores e deixou sua marca nos mais de 50 anos de história de Doctor Who.
… e o começo de outra
Regenerações são momentos de emoções conflitantes: a tristeza da saída de um ator e a felicidade e fascínio da entrada de um novo. Os primeiros minutos de Jodie Whittaker são exatamente isso, com um silêncio contemplativo antes de vermos uma fagulha de sua personalidade - veja a cena aqui.
A atriz tem pouquíssimo tempo de tela - menos de dois minutos - mas, com um sorriso ao reconhecer a mudança, Whittaker passa a sensação de inocência e espírito aventureiro que consagrou a versão de David Tennant.
Conhecendo o seu currículo e nas mãos de um novo showrunner, a Doutora pode brilhar ao combinar tanto a personalidade jovem que é característica da série moderna com sua excelente habilidade para drama e emoções intensas, como a atriz demonstrou em sua passagem por Black Mirror e Broadchurch. Resta agora esperar para ver como isso se desenrolará nas telas.
O foco do especial de Natal não é apresentar o sucessor, e sim despedir-se do atual. Nesse quesito, “Twice Upon a Time” recapitula bem a era Capaldi: problemática, mas com muitos ensinamentos e, no fim das contas, muitas memórias boas. Não é possível ver o caminho que Doctor Who trilhará agora, mas é certo que a TARDIS ainda tem muitas aventuras pela frente - agora sob nova direção.