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Sex and The City completa 20 anos e se mantém como a precursora do empoderamento feminino

Série inovou ao mostrar as mulheres de maneira honesta, franca e poderosa

06.06.2018, às 11H14.
Atualizada em 07.06.2018, ÀS 15H00

A Terceira Era de Ouro da Televisão começou nos anos 90, como sabemos, quando a HBO resolveu quebrar as diretrizes da dramaturgia clássica ao encomendar a criação de dois produtos que transformariam a cultura progressivamente. David Chase veio com o drama e fez de Família Soprano (The Sopranos) a base para qualquer produção do gênero dos últimos 20 anos. Darren Star, conhecido por ter criado Barrados no Baile, veio com Sex and the City, uma comédia protagonizada por quatro mulheres que desafiavam o patriarcado com vidas pessoais e carreiras tomadas de paixão e independência. Hoje, 6 de Junho de 2018, essa comédia completa seus 20 anos e um olhar em retrospectiva reforça a importância dela para tudo que estamos assistindo hoje.

HBO/Divulgação

A série é baseada no livro homônimo da escritora Candace Bushnell, que publicava semanalmente num jornal nova-iorquino uma coluna sobre sexo que espelhava o momento cínico que as relações interpessoais vinham apresentando naquele momento. A coluna era o retrato do cidadão cosmopolita bem-sucedido que viu sua auto-suficiência crescer tão descontroladamente, que o interlocutor virou um acessório sexual animado, no qual ele não precisava investir nenhum tipo de expectativa romântica. A escrita de Candace era fria e intelectualizada, o que tornava a adaptação necessária em muitas instâncias.

Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker) ganhou uma fluidez em seu discurso quando foi adaptada por Darren e Michael Patrick King (que acabou assumindo a série a partir do segundo ano), sendo mais acessível para o espectador que estava diante de uma narrativa diferente de tudo que já fora feito. A personagem era o alter ego da escritora, também tinha uma coluna semanal num jornal e usava as experiências com os amigos para comentar e questionar aspectos sociais daquela engrenagem urbana. Junto dela, as amigas Miranda (Cynthia Nixon), Charlote (Kristin Davis) e Samantha (Kim Cattrall), cada uma representando uma característica específica do universo feminino. Miranda era cínica e tinha dificuldades de demonstrar fragilidades. Charlote era classicista, conservadora e sonhava com um casamento. Já Samantha era uma devoradora de homens que estava muito satisfeita com sua indisponibilidade afetiva.

Crônicas da Cidade e do Sexo

No ar entre 06 de Junho de 1998 e 22 de Fevereiro de 2004 (com mais dois filmes controversos no currículo após seu encerramento), a série se transformou num dos maiores fenômenos culturais de seu tempo. Sua linguagem era direta e sagaz, mas sem dúvida o uso da crônica como recurso dramatúrgico possibilitou ao programa ter mais alcance. Comumente conhecida como parte de um impresso jornalístico, a crônica é um recorte minimalista da rotina sendo transformado em narrativa e, justamente por partir do detalhe, consegue ser facilmente identificável. A cada episódio, Carrie começava apresentando o tema do dia (a crônica do dia) através de uma narração (a série foi a primeira a incluir o voiceover filosófico na edição) e o episódio se desenvolvia em torno da discussão desse tema, conduzindo o espectador a entender a situação pela perspectiva da narradora, numa espécie de produção de sentido que tornava o assunto extremamente correlacionável. O impacto foi certeiro.

Não era só uma questão de sexo... A cidade de Nova York logo se transformou num organismo vivo para a série e a perspectiva de Carrie sobre ela perpetuou-se na mídia com ares de mitologia. A protagonista virou um ícone fashion, um exemplo de uma vertente feminista que começava a mostrar suas cores antes mesmo que a palavra empoderamento ganhasse as cartilhas. Embora estivesse sendo exibida num canal fechado, a produção tornou-se premiada, respeitada e sublinhada por todo mundo. Nunca as mulheres foram vistas na televisão (ou no cinema) daquela maneira tão honesta, franca e poderosa.

A sonhadora Carrie na abertura do seriado

HBO/Reprodução

Em seus seis anos o show passou pela virada do milênio, pelos ataques do 11 de Setembro e terminou precocemente por conta de uma profunda preocupação dos envolvidos em não desgastar sua fórmula. Questões clássicas como casamento, família, câncer, traição, foram cobertas pela história, mas a impecabilidade da escrita de King proporcionava a esses assuntos um olhar menos óbvio e mais bem humorado. A busca pelo “príncipe encantado” terminava em impotência sexual, a maternidade vinha por uma perspectiva não-glamurizada, o câncer não se descrevia com drama e a noção de família era transgressora, uma vez que as personagens se apoiavam umas nas outras unicamente.

20 Anos Depois

Infelizmente, o ano de 2018 - esse ano do aniversário - foi tomado de controvérsias para o legado de Sex and the City. Enquanto na tela as personagens sustentavam uma amizade inquebrável, nos bastidores as tensões entre Kim Cattrall e as colegas saíram da escuridão e ganharam as manchetes, quando Kim declarou publicamente seu repúdio a Sarah Jessica Parker. A coisa toda ganhou mais proporção quando Sarah manteve seu estilo "queridinha" e prestou condolências públicas à colega quando o irmão dela faleceu. Kim publicou um texto agressivo em sua conta no Instagram e cortou relações definitivamente com a parceira de cena. O imbróglio derradeiro começou quando a intérprete de Samantha foi apontada como razão pela qual o terceiro filme da franquia não aconteceu.

Há uma certa tristeza em termos a herança do show rivalizando com notícias tão negativas a respeito das pessoas envolvidas nele. É preciso entender que apesar desses problemas e intrigas, a história de Sex and the City é tomada de momentos muito importantes para a abertura de portas que jamais tinham sido abertas antes. As mágoas e oportunismos que cercam os bastidores da série não enfraquecem sua representatividade e mesmo que talvez jamais possamos ver as personagens juntas num mesmo quadro, a crônica definitiva já foi escrita e está totalmente embasada na sua expressão mais valiosa: a da inspiração.

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