Séries e TV

Artigo

Star Trek: 50 Anos | Como a série venceu preconceitos e mostrou que um mundo melhor é possível

Disposto a criar uma série de ficção científica para o público adulto, o ex-policial de Los Angeles criou um mito

08.09.2016, às 15H28.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H45

"Relâmpago numa garrafa". É assim Hollywood define aquele raro momento em que roteiro, elenco e produção se combinam de forma eficiente e capturam o coração e a mente do público. A elusiva receita do sucesso, ainda mais difícil de entender quando o sucesso é um fracasso - como Star Trek foi durante os três anos em que esteve no ar.

None

Até hoje, Hollywood busca o que deu certo em Star Trek, reprisando o fascínio com a tecnologia futurista, algo cada vez mais difícil num mundo com tantos gadgets, muitos deles inspirados pela vida no século 23 retratada na série. Mesmo que uma parte dela tenha sido criada por demandas de orçamento e roteiro, como a que ditou que desfazer os tripulantes em moléculas de um lado e remonta-los de outro era muito mais efetivo e barato do que usar uma nave para cada chegada a um novo planeta. Ainda assim, a tecnologia cinematográfica hoje permite criar cenas ainda mais impressionantes. Mas não é isso que faz Star Trek ser Star Trek, o que deu à série a relevância cultural que possui hoje.

É lugar comum dizer que o programa inovou e afrontou o status quo ao colocar um personagem russo na ponte de comando quando a ideia que a maioria dos americanos fazia do povo além da Cortina de Ferro era de um bando de devoradores de criancinhas. O mesmo vale para escalar uma afrodescendente num momento em que igualdade de direitos ainda era um sonho no país de Martin Luther King.

Mas ainda que importantes e demonstrativos da crença de Gene Roddenberry de que a intolerância no século 23 seria improvável porque "se o homem sobreviver até lá, ele terá aprendido a encantar-se com as diferenças essenciais entre os homens e entre as culturas, ele terá aprendido que as diferenças em ideias e atitudes são um prazer, parte da excitante variedade da vida, não algo a ser temido". Como ele disse, estes não foram os únicos paradigmas quebrados pela série.

Até a estreia de Star Trek, a ficção científica na TV era formada por antologias. A opção de Roddenberry foi escolher um grupo de personagens fixo com o qual o público se sentiria confortável, a exemplo dos faroestes que faziam sucesso na época, como Bonanza e Gunsmoke. Calcada sobre a estrutura da Marinha, Star Trek tem em seu centro uma "família" formada por uma tripulação unida pelo bem de todos, pela missão, por ideais maiores que o indivíduo.

None

Ficção científica para adultos, na qual a tecnologia é meio para contar histórias onde o verdadeiro assunto é o ser humano, que na visão de Star Trek teria um futuro brilhante. Um retrato de esperança em meio ao caos mostrado nos noticiários da época. Esperança de que o ser humano tinha a capacidade para sair do buraco que cavava para si mesmo a cada batalha, a cada muro construído, a cada animal extinto.

No futuro de Star Trek, aprendemos com a terceira guerra mundial, lembrando que a primeira foi chamada de "a guerra para acabar com todas as guerras", aprendemos com as ditaduras, com o preconceito e chegamos a um ponto de excelência. Não foi apenas o fim da Guerra Fria em Chekov, ou o fim do preconceito em Uhura. Nos Klingons, Vulcanos e tantas outras raças de testas diferentes - mais uma vez uma demanda do orçamento - estava a aceitação das diferenças e dos diferentes, o fim dos problemas e a cooperação. Star Trek mostrava os humanos como uma espécie capaz de evoluir. Esse foi o relâmpago engarrafado.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.