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Supermax | Por que a série de terror não deu certo na Globo

Qualidade ou linguagem? Qual o fator responsável pela péssima audiência da série global?

25.11.2016, às 15H47.
Atualizada em 27.03.2020, ÀS 10H32

No encontro que o Omelete teve com o elenco da esperada Supermax, uma certa euforia era plenamente captada pela equipe de roteiristas do programa. Eles tinham razão, a série sem dúvida seria como uma espécie de vanguarda na programação da Globo (mesmo que fosse uma colagem de linguagens conhecidas do público de séries) e justamente por referenciar tantos outros títulos bem-sucedidos na TV americana é que a sensação de que o sucesso seria inevitável era enorme. A linguagem de Supermax tinha um público-alvo certeiro e se estamos com o mercado de séries em constante expansão, nada mais natural que considerar certa a boa recepção do público.

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Na exibição do primeiro episódio (que aconteceu num evento fechado para a imprensa no Rio de Janeiro), muito se falou sobre “aquilo que não foi feito na TV brasileira ainda”. Para o trabalho de um diretor, de um roteirista, de um ator, essa posição de originalidade direcionada (no caso, aqui, para a TV aberta) é sedutora e excitante. O diretor José Alvarenga discursava sobre o show com a paixão de um fã que de repente tem nas mãos uma forma de brincar com seu gênero preferido. A questão é que o pioneirismo pode ser rejeitado numa primeira instância e quando analisamos os números de Supermax desde sua estreia, fica claro que seja na qualidade ou na linguagem, algum ruído prejudicou a chegada da série nas televisões brasileiras.

A Linguagem

Se vamos hipotetizar a respeito das razões para esse fracasso de público, devemos considerar a maneira problemática com a qual os roteiros lidaram com suas referências. É como se Supermax sofresse de uma diarreia de correlações, indo do reality show para o horror no espaço de duas cenas. Para se ter uma ideia, a equipe de roteiristas é formada por OITO nomes e cada um deles é especializado numa área dramatúrgica diferente. É como se a intenção da direção fosse se proteger em todas as frentes e não deixar espaço para que furos na trama passassem despercebidos. E também, claro, ter substância e embasamento para abordar as características dos gêneros pretendidos.

O resultado é uma salada que pode ser indigesta. Supermax começa contando a história de participantes de um reality show que se passa num presídio. Pouco a pouco eles vão percebendo que alguma coisa está errada com a produção. De cara, a linguagem do reality e a presença de Pedro Bial jogam sobre a trama um inconveniente ar de paródia. Usar o reality como ponto de partida significa respeitar também as diretrizes dele. É claro que o segredo escondido no último episódio pode justificar uma série de coisas, mas o público se sente desafiado a acreditar numa proposta que não oferece segurança dramatúrgica. Dificilmente um reality que daria dois milhões de reais para um assassino condenado iria ao ar e as desconfianças já começam a partir daí. Se o público sente sua esperteza sendo ultrajada, ele recua.

Então, todos que viram em Supermax um programa interessante sobre um reality show macabro, são frustrados logo na segunda semana, quando as já poucas características de um programa do tipo são abandonas para darem lugar ao terror e ao horror (gêneros que se mantém mais presentes durante o curso da temporada). A direção tomou a decisão de dar informações sobre os personagens em doses extremamente homeopáticas, com flashbacks que duram segundos e que – dentro da proposta vigente de amoralidade narrativa – visam conquistar o público através do choque. Devido a isso, não se pode culpar parte da audiência que se afaste por não conseguir se relacionar com aquelas pessoas. A série quer abraçar tudo que está em pauta entre os seriados de maior sucesso do mercado, mas não dá organicidade ao desenvolvimento de seus elementos humanos.

A Qualidade

Ainda que a linguagem possa ser compreendida como uma corajosa colagem de movimentos narrativos contemporâneos (e há espaço para essa interpretação), precisamos pensar na forma como isso é feito, no nível de qualidade de manipulação desses gêneros e de como tudo é impresso no texto, na ação, nos diálogos. Não adianta ter ótimas ideias, circular o projeto de tantas referências e não ser capaz de jogar com elas de forma satisfatória. Não há problema algum em criar um show que seja tão parecido com outras tantas coisas (e ouvimos muito a frase “parece com” vinda do espectador de Supermax), mas mesmo a reciclagem de ideias precisa ser bem orquestrada (Stranger Things está aí para mostrar isso).

Infelizmente, o texto de Supermax não é dos melhores. Seus roteiristas – afoitos por fazerem TV americana na TV brasileira – apelam para todos maiores clichês textuais do gênero do suspense e do mistério. A frieza com a qual os episódios tratam os personagens também não ajuda e é praticamente impossível torcer por quem quer que seja. O número grande de participantes também complica na hora de desenvolver as storylines. Na busca por dar atenção a todos, nenhum deles é devidamente aprofundado. Também não ajudam as interpretações monocórdias de Mariana Ximenes, Cléo Pires e Fabiana Gugli. É um erro constante entre atores achar que para viver alguém de moral muito duvidosa, é preciso ser estático, inatingível.

O texto duvidoso, a falta de aprofundamento nos personagens, o excesso de referências mal situadas e o abandono de premissas podem ser alguns dos fatores predominantes para o desinteresse do público. Além disso, a distribuição da ação e da divagação pode ter sido mal recebida e gerado uma sensação de tédio. Nunca é possível dizer exatamente o que leva um história a não captar a audiência, mas pode-se especular sobre quais seriam os fatores mais relevantes. A grande virada que a trama sofre no episódio 10 salva a série de muitos dos problemas que ela apresenta no decorrer de sua trajetória. Porém, infelizmente, pouquíssimos estavam sintonizados quando ela veio A ousadia e pioneirismo de Supermax, infelizmente, não foram recompensados como se esperava. Ela ainda terá sido uma grande ideia, perdida nos equívocos gerados por uma grande euforia.

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