Em sua 67ª edição, o Festival de Berlim é do Brasil, e não apenas do cinema nacional, que emplacou 13 produções em diferentes mostras do evento alemão, mas também de nossa teledramaturgia: duas séries da TV Globo foram projetadas nesta segunda na seção Berlinale Series do evento. Pela manhã, os europeus viram Os Experientes, dirigida por Fernando Meirelles (Cidade de Deus) e seu filho Quico, e, à tarde, ocorreu a première mundial da versão hispânica do seriado SuperMax, dirigida pelo cultuado diretor argentino Daniel Burman (de O Abraço Partido). Ela é protagonizada por estrelas de prestígio no planisfério latino, como Cecilia Roth, o cantor-ator António Birabent e César Troncoso. A atriz paulista Laura Neiva (da novela O Rebu) é o único destaque brasileiro entre os protagonistas da trama, que se difere em múltiplos pontos da versão local, transmitida em 2016, a começar pela troca do clima sobrenatural em prol de uma narrativa de realismo social.
"O valor de produção da série é notável para um produto latino. Foi uma surpresa", elogiava a representante de aquisição de conteúdo do canal francês OCS Peggy Charlery, que estava na plateia atrás de novos produtos. "O trabalho dos atores é impressionante".
Causou espanto (e boa impressão) o hiperrealismo das cenas de ação que abrem a série, nas sequências de uma rebelião em um presídio, chamado Elefteria, nos confins do continente. No SuperMax original, havia misticismo. No SuperMax de Burman, só realismo cru e seco. Nele, adaptado dos scripts originais pelo cineasta e por seu conterrâneo, Mario Segade, o astro número um do cinema-pipoca espanhol Santiago Segura vive Orlando Saslavsky, o apresentador de um reality show que se ambienta nesta cadeia, dez anos após o massacre retratado nos minutos iniciais. Ele anuncia oito participantes (Cecilia, Birabent, Laura e Troncoso estão entre eles) que terão de sobreviver a uma bateria de provas de risco no ambiente. A primeira delas se dá numa câmara de alta temperatura.
No capitulo um da série, carregada das marcas autorais de Burman (debates sobre paternidades, desamparos afetivos, diálogos irônicos), é a personagem de Laura quem rouba a cena: insinua-se que ela foi uma bailarina. No episódio dois, também exibido na Berlinale, conhecemos um tiquinho a mais dos demais integrantes do reality, sobretudo a ligação do personagem de Troncoso com boxe. Nos momentos finais, a intriga central da série parece se fazer presente quando Orlando (Segura) parece ter perdido seu contato com a emissora. Alguém parece ter invadido a prisão. Quem? Isso só vai ficar claro nos próximos episódios, feitos pela Globo, majoritariamente nos estúdios cariocas da emissora, em coprodução com TVP da Argentina, a Oficina Burman, a TV Azteca do México e a Media Set da Espanha.
"A Globo já fez coproduções de novelas de sucesso com o mundo, mas este SuperMax é nossa primeira série neste formato. E de cara entrou em uma das mais prestigiadas vitrines do audiovisual do mundo. Berlim é um dos maiores festivais do planeta e se abre para a dramaturgia da TV do Brasil em sua segunda edição da Berlinale Series, o que é uma vitória pra nós", diz Gustavo Gontijo, gerente de desenvolvimento de séries da Globo. "Essa exibição da TV nacional aqui na Europa mostra que não há mais fronteiras para o nosso conteúdo".