Scooby Doo e Supernatural são, sem sombra de dúvidas, duas séries gigantes do universo da investigação sobrenatural. Cada uma ao seu modo, ambas conquistaram um público fiel ao mostrar equipes carismáticas combatendo monstros - fossem demônios reais ou vilões do ramo imobiliário debaixo de máscaras baratas e um apanhado de truques. Pensar em colocar os dois grupos trabalhando lado a lado é uma ideia ousada, mas chega a ser surpreendente que ninguém nunca havia pensado nisso antes. O crossover “Scoobynatural”, exibido em 29 de março nos Estados Unidos, traz essa mistura de forma tão bem executada que é um belo presente para o público das duas séries.
Ainda que ambas produções envolvam mistério e bons sustos, há vários aspectos que as diferem imensamente e que poderiam ser um problema na hora de colocar todo mundo lado a lado. O mais óbvio deles é o formato: enquanto Supernatural é uma série live-action, Scooby Doo se consagrou como uma animação - ainda que versões de carne e osso já tenham debutado no cinema e em especiais da TV. Sam (Jared Padalecki) e Dean Winchester (Jensen Ackles) já brincaram com os arquétipos dos desenhos animados no episódio ““Hunter Heroici”, da oitava temporada, e passearam por diferentes formatos televisivos em “Changing Channels”, do quinto ano da atração. Agora, os dois ganharam versões em desenho animado dentro do mundo de Fred, Daphne, Velma, Salsicha e Scooby Doo.
Outro abismo entre as duas séries está no tom: ainda que divertida, Supernatural assume ocasionalmente ares mais densos e muito mais violentos que a ingênua produção Hannah Barbera. O episódio acerta quando, ao invés de assumir um dos dois direcionamentos ou tentar encontrar uma espécie de meio termo, passeia pelas duas abordagens, usando essa diferença muitas vezes como recurso narrativo. Várias vezes o crossover coloca em destaque justamente esse choque de realidade entre os dois universos distintos e como os personagens reagem a isso, o que acaba sendo uma decisão criativa muito mais interessante e com resultados genuinamente surpreendentes.
Sem spoilers, as risadas são garantidas ao longo do capítulo com piadas metalinguísticas sobre estar em um desenho animado feitas pelo trio de Supernatural - sim, Castiel (Misha Collins) também ganha sua própria versão bidimensional - e, é claro, com as investidas infrutíferas de Dean em Daphne. As prévias divulgadas do episódio - veja aqui, aqui e aqui - já mostram um pouco de como flui bem a dinâmica entre o supergrupo e como se desenrolam sentimentos que vão desde competitividade até interesse amoroso. Contudo, indo além do esperado, o público pode ser pego de surpresa com interações pouco óbvias e isso, é claro, é um fator positivo.
O ponto máximo do episódio é conseguir ser coerente com as narrativas clássicas tanto de Scooby Doo quanto de Supernatural, a essência de uma produção não se sobrepõe em momento nenhum à outra. Ao invés disso, elas se complementam e se influenciam - o episódio começa muito bem, brincando com referências óbvias, e termina da mesma forma, amarrando as pontas de uma história sobre um mistério clássico que funciona perfeitamente bem no dois moldes, mas que assume sua melhor forma na combinação de ambas. Scoobby Doo não perde a inocência, Supernatural não se exime do lado gore/ sombrio e, no fim das contas, o público ganha um episódio especialmente divertido.
"Scoobynatural" vai ao ar em 10 de abril no Brasil. Por aqui, Supernatural é transmitida pelo canal pago Warner Channel.
