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The Walking Dead | O que precisa mudar para a série voltar a ser o que era

Oitavo ano vem aí e enumeramos os problemas que precisam ser resolvidos

Omelete
6 min de leitura
21.10.2017, às 14H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H48

Gostando ou não do drama de zumbis, The Walking Dead já marcou a televisão norte-americana. Em sua primeira temporada, a produção foi bastante aplaudida pela crítica, chegando a receber um Emmy dentre os três para os quais foi indicada em sua estreia - desempenho que repetiu no ano seguinte. Até a quinta temporada, a série manteve uma curva ascendente: a cada ano, mais pessoas viam The Walking Dead, chegando até seu recorde de 17,3 milhões de espectadores na estreia do quinto ano. Depois disso, os dois anos seguintes começaram a sofrer baixas - a season finale da sétima temporada só superou em números os encerramentos dos dois primeiros anos, ficando em 11,3 milhões de pessoas.

O sétimo ano teve, aliás, a queda mais vertiginosa de audiência já vista pelos produtores de The Walking Dead. Foram 17 milhões de espectadores no primeiro episódio - um dos melhores de toda a trajetória da série, diga-se de passagem - e 11,3 milhões no último. A audiência mais baixa da temporada foi 10,1 milhões, semelhante à média numérica do terceiro ano, quando a audiência ainda estava crescendo. Vale ressaltar que, mesmo em queda, a série mantém números invejáveis dentro da TV fechada dos Estados Unidos - Game of Thrones, fenômeno mundial também da TV fechada, fez 10,1 milhões de espectadores na estreia do sétimo ano nos Estados Unidos, por exemplo.

Contudo, ainda que os números continuem sendo considerados altos, não é como se os produtores executivos estivessem tranquilos com a queda de audiência. Como se esse gráfico em declínio fosse pouca coisa para se preocupar, a quantidade de violência na estreia da sétima temporada colocou a série no radar não só dos órgãos reguladores da classificação indicativa dos Estados Unidos, mas também na mira do Ofcom, instituição britânica responsável pela classificação de filmes e séries no Reino Unido, que afirmou que passaria a abordar a série de maneira mais firme - esse tipo de coisa implicaria em, por exemplo, mudança de horário de transmissão, o que implicaria em novas quedas de audiência.

Ainda na ocasião, antes mesmo de estrear a segunda parte do sétimo ano, os produtores se pronunciaram, dizendo que iriam repensar o excesso de violência da série. “Estamos abertos a conversar com o público sobre os níveis de violência. Vamos diminuir esse excesso na segunda parte da sétima temporada”, disse a produtora Gale Anne Hurd em entrevista à Variety. No começo do ano, os números em declínio de The Walking Dead chegaram até mesmo a afetar no valor de ações da AMC - no começo de 2017, uma ação do canal custava US$ 52, enquanto que, no mesmo período de 2016 custava US$ 67.

Mas o que mudou exatamente em The Walking Dead nos últimos anos? A resposta é: nada - e é esse o problema. Do terceiro ano em diante, a quantidade de episódios aumentou definitivamente: a primeira temporada teve seis episódios, a segunda aumentou para 13 e a terceira ganhou mais três, chegando em 16, número mantido até a temporada atual. O ritmo, pela quantidade de capítulos, também mudou - a série se tornou mais lenta. Desde a terceira temporada, os fãs reclamam da narrativa modorrenta de The Walking Dead, pontuada por uma sequência de episódios em que pouca coisa de interessante acontece. Um dos motivos da queda de qualidade, para muitos, foi a saída de Frank Darabont do cargo de produtor executivo no segundo ano - Glen Mazzara entrou em seu lugar na ocasião. Desde então, a série passou a sofrer críticas sobre a condução da trama.

Várias dinâmicas que eram comuns aos primeiros anos da série mudaram, por exemplo. Primeiro, os zumbis não precisavam estar em hordas de milhares para representar perigo: as mortes eram mais verossímeis. A irmã de Andrea (Laurie Holden), Amy (Emma Bell), por exemplo, não precisa de uma guerra, explosões ou algo do tipo para morrer - a jovem abre a porta do trailer e, por acaso, é mordida. A relação entre vilões e mocinhos também mudou: nos primeiros anos, havia mais complexidade na construção dos personagens. Shane (Jon Bernthal), o melhor amigo de Rick (Andrew Lincoln), se torna o antagonista ao mesmo passo que Merle (Michael Rooker), o irmão problemático de Daryl (Norman Reedus), se arrepende de seu comportamento em sua reta final. Havia algo de imprevisibilidade comum ao comportamento humano em períodos de crise que se perdeu.

É claro que, com o tempo, a série precisa mostrar que a relação entre a humanidade e o apocalipse zumbi evolui. O problema é ter se estagnado em um modelo onde ano após ano microcomunidades lideradas por chefes incompetentes são salvas por Rick para, em seguida, a conquista ser ameaçada por outra comunidade liderada por sociopatas. Essa é a dinâmica que acontece desde que The Walking Dead estabeleceu o fim do nomadismo e passou a lidar com o estabelecimento de grupos fixos organizados. Distribuir a mesma trama previsível nos últimos quatro anos por longos 16 episódios por temporada cansou o telespectador. Não há mais a sensação de surpresa. Sabemos que Rick encontrará um lugar, precisará reorganizá-lo, aparecerá um grande vilão que irá ameaçar a paz, Rick derrubará o inimigo, mas, no caminho, seu oásis será destruído e ele precisará achar um novo lugar seguro. E assim ad infinitum.

O que fez da primeira temporada uma série tão interessante era o fato de fugir do modelo comum da bibliografia zumbi ao qual o público estava acostumado. Ao invés de colocar pessoas lutando contra mortos-vivos incansavelmente, a série ganhou o público ao mostrar humanos falíveis, sofrendo por perder sua família, pensando em desistir da própria vida, com medo, desesperados. A luta pela sobrevivência física era simultânea à luta pela sobrevivência mental. A dinâmica entre os personagens evoluiu e chegou ao ponto em que a única luta relevante é a entre os próprios grupos de sobreviventes - algo que qualquer série de gangues conseguiria fazer. The Walking Dead precisa redescobrir o seu elemento único, o que faz dela algo especial - não, zumbis em plano no fundo não preenchem esse requisito.

Robert Kirkman, o autor dos quadrinhos que originaram a série e produtor do programa, já disse, na seção de perguntas e respostas da HQ, que pensa em chegar, pelo menos, à temporada 12 - e ainda assim a trama dos quadrinhos não terá sido alcançada. Na ocasião, ele disse isso usando como base a quantidade de páginas levadas para a TV até então. O problema aqui é essa conta ainda fazer sentido: é preciso andar mais rápido. É inegável que a história de Rick, Michonne (Danai Gurira) e todos os demais ainda tem potencial - basta saber como conduzi-la.

Seja insuflando mais páginas dos quadrinhos por temporada ou reduzindo a quantidade de episódios por ano, é absurdo considerar a hipótese do telespectador ficar entediado vendo um mundo dominado por zumbis.  Durante o Talking Dead, o talkshow da série, o produtor executivo Scott Gimple disse que a oitava temporada será mais grandiosa e mais intensa que a sétima. Isso, na verdade, é o mínimo que o público espera - é difícil acreditar que os 11,3 milhões de espectadores que resistiram aos últimos anos conseguem aguentar mais um que seja semelhante ao que vem sendo exibido.

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