Cartaz de Assédio

Créditos da imagem: Assédio/Globoplay/Divulgação

Séries e TV

Entrevista

Assédio | “A série vai muito além da cena de violência em si”, diz a roteirista

Camargo fala sobre a difícil tarefa de escrever sobre assédio e estupro

14.06.2019, às 11H53.
Atualizada em 14.06.2019, ÀS 13H49

Há alguns anos o Brasil ficou chocado com a história do médico Roger Abdelmassih. Especializado em fertilização, o profissional foi condenado por abusar de suas pacientes durante as consultas. O caso extremamente violento e triste tomou as páginas dos jornais por semanas, sempre expondo todo o horror da situação. Exatamente por tudo isso houve muitas dúvidas com o lançamento de Assédio, série do Globoplay também transmitida na TV. Afinal, o que mais havia para ser contado sobre isso?

A grande diferença é que Assédio se baseia nessa história, mas coloca em destaque as mulheres que sofreram abuso e montaram uma rede para denunciar e condenar o médico. “[Era sempre difícil] escrever cenas de estupro, mesmo cenas que foram apenas insinuadas. Porque nunca era apenas o estupro, era sempre o ato e o que vem depois dele. Aquelas vidas que eram destruídas, os casamentos, a dor daquelas mulheres. Tem aquelas que não conseguem falar, tem as que falam e são desacreditadas. Então tinham cenas muito dolorosas de mulheres tentando convencer, por exemplo, o marido do que tinha acontecido”, explica a roteirista Maria Camargo em entrevista ao Omelete no Rio de Janeiro.

Ao assistir a série, em que Antonio Calloni interpreta o médico Roger Sadala, fica claro que o mais importante ali é mostrar as consequências na vida das mulheres. “Pouco é mostrado [na mídia] de como é a vida dessas vítimas e o que elas realmente passaram. Às vezes tem um depoimento, uma entrevista, mas o que as pessoas sabem realmente é a história do médico que estuprou mulheres, isso é o que ganha destaque, e não sobre mulheres que foram atacadas por um médico. Então a gente quis inverter a situação e começar pelas mulheres”.

Um dos grandes destaques da produção são as cenas fortes de abuso, que muitas vezes são difíceis de acompanhar. Camargo revela que o processo de escrever tais sequências sempre foi muito complicado, e que esse peso foi além do grande ato de violência em si. “Tentamos explorar situações não apenas do médico que as violenta, mas também o que é a reação das pessoas em torno, quem culpabiliza a vítima, quem desacredita, o quanto vale a palavra de uma mulher em uma situação como essa. Essas cenas também eram muito dolorosas de escrever”. Apesar disso, ela revela que alguns trechos foram cortados para não distanciar o público do que estava acontecendo em tela. “Às vezes é mais forte apenas insinuar para que o espectador não se choque tanto e não se distancie. O que nós queremos é que as pessoas entrem na pele dessas mulheres realmente”.

Além de um elenco de peso, que conta com nomes como Adriana Esteves, Paolla Oliveira e Vera Fischer, a série deu origem ao documentário Assédio.doc, dirigido por Bárbara Paz e com os depoimentos reais das vítimas de Abdelmassih. Dessa forma, Assédio vai além do entretenimento e leva ao público conversas e relatos reais sobre o que aconteceu. “Não é só a cena da violência em si, a história é muito mais ampla. É sobre um mundo que permite que essas coisas aconteçam, que é permissivo em relação a este comportamento dos homens, que pune pouco quem faz esse tipo de coisa, um mundo com tanto feminicídio. A série é sobre isso e sobre mulheres que estão combatendo isso, dizendo que dá para fazer alguma coisa sim”, finaliza Camargo.

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