Por mais cruel que Berlim (Pedro Alonso) pudesse ser na primeira temporada de La Casa de Papel, o ladrão não precisou de muito esforço para cair nas graças dos fãs. Na verdade, bastou que desse pequenas demonstrações do seu jeito, digamos, passional de ser e, pronto: garantiu sua presença nas temporadas seguintes. Por isso, não é de se surpreender que, seis anos depois da sua primeira aparição, ele esteja de volta à Netflix não só com uma série para chamar de sua, mas com todo o espaço para explorar esse seu lado apaixonado — e apaixonante. Junto de um novo bando, o vilão agora vira protagonista e, nas adversidades de um atraco inédito, vê sua vida, até então narrada como um filme de assalto, se aproximar de uma rom-com.
“Estamos em uma chave estilística completamente diferente, que tem mais comédia e comédia romântica”, analisou Pedro Alonso em entrevista ao Omelete. “[Berlim] é um personagem muito ambivalente, absolutamente incorreto em muitas ocasiões, perigoso. Mas digamos que agora aflora algo que estava aqui latente, que é seu sentido romântico de ver a vida. Essa necessidade de viver com plenitude e sua carência da gasolina do amor.”
Essa mudança de tom invariavelmente implica em encarar o personagem de uma maneira diferente, um desafio que Alonso mesmo admite já ter vivido antes, conforme as temporadas de La Casa de Papel avançaram. No entanto, para ele, a forma como a nova criação de Álex Pina e Esther Martínez Lobato a executa é uma aventura à parte. "Em vez de ficarmos em uma zona de conforto, mais uma vez fomos em direção ao desconhecido. Nesta série, acredito que estamos em uma galáxia nova, o que me obrigou a renovar minhas conexões com o personagem.”
A reinvenção do ladrão foi notada também pelos seus colegas de elenco, recém-admitidos ao universo dos atracos. Julio Peña Fernández, o intérprete de Roi, ficou tão surpreso com a mudança que chegou a suspeitar que esse novo olhar pudesse não ser uma boa ideia. “Quando estávamos gravando a série, via o Berlim super romântico e me perguntava ‘não está romântico demais?’. Digo, era como se perdesse seu lado mais psicopata, que tanto o caracteriza. Mas, vendo os episódios, nada! Temos um Berlim apaixonado, mas vemos melhor do que nunca as engrenagens que movem sua cabeça.”
Já a atriz Begoña Vargas confessou gostar mais das "travessuras e ironias" deste novo Berlim — para o choque de Alonso. "Estou muito preocupado, porque o que eu faço é completamente indecente", riu.
Sem entrar no âmbito dos spoilers, basta dizer que as “travessuras” a que ambos se referem têm a ver com a nova crush do protagonista, uma mulher que não apenas é casada, como pode se tornar a razão para a ruína do plano. É este cabo de guerra interno entre manter-se fiel ao esquema ou fazer essa paixão acontecer que acompanha Berlim e seu bando ao longo de toda a temporada, a ponto de ficar no ar se o protagonista sabe mesmo o que é o amor de que tanto fala. Pedro Alonso tem sua opinião.
“Ele precisa de vibrações e temperaturas altas para acreditar [no amor] e isso pode ser um buraco negro às vezes”, explicou. “Para ele, o sentimentalismo assim, óbvio, o enoja. Ele teme as convenções, não gosta dos lugares comuns. As fórmulas são traiçoeiras, então ele basicamente se dedica a rompê-las e, às vezes, paga um preço muito alto. Mas gera explosões de emoção irresistíveis.”
Não será preciso muita espera para descobrir se Berlim de fato pagará por essa nova paixão. Os oito episódios da série chegam à Netflix nesta sexta (29).