Assim como foi em Breaking Bad, a grande força de Better Call Saul sempre esteve em seus personagens. Por mais envolvente que seja a trama sobre corrupção, guerra entre cartéis e a entrada de homens comuns no mundo do crime criada por Vince Gilligan, é difícil negar o apelo que Jesse Pinkman, Walter White e, é claro, Saul Goodman têm junto ao público. Justamente por isso, não é de se impressionar que as atenções da estreia da sexta temporada do derivado estrelado por Bob Odenkirk prenda as atenções por causa de uma de suas protagonistas: Kim Wexler.
Em uma crescente avassaladora de carisma e importância desde o segundo ano, a personagem de Rhea Seehorn - que entrega mais uma atuação impecável - retorna ainda mais implacável nos novos episódios, se abrindo para táticas inescrupulosas e planos de vingança elaborados. A virada de Kim impressiona e assusta tanto o espectador quanto Jimmy/Saul (Odenkirk), que testemunham a advogada chantagear um casal e elaborar um complicado esquema para derrubar Howard (Patrick Fabian). Depois de ter seu co-protagonismo solidificado com a quarta e a quinta temporada, Wexler começa este ano final de Better Call Saul absolutamente dominante e confirmando o papel crítico que terá na conclusão da “montagem” de Saul Goodman.
Wexler e Seehorn não são, no entanto, as únicas a se destacar nesse retorno da série. Mais uma vez, Odenkirk entrega um ótimo trabalho em seu retrato do protagonista, que ainda enfrenta dificuldades em abandonar sua vida como Jimmy McGill e assumir de vez a personalidade enorme de Saul Goodman. Quanto mais perto chegamos da conclusão natural deste embate, mais doloroso é ver o advogado abandonar os poucos escrúpulos que lhe restavam depois de vestir o terno de cor vibrante pela primeira vez.
O núcleo mais violento de Better Call Saul também vai atingindo um ponto crítico. O jogo de xadrez entre Gus (Giancarlo Esposito) e a família Salamanca é retomado após algumas reviravoltas, com Nacho (Michael Mando) e Mike (Jonathan Banks) sendo pegos no meio de tiroteios literais e metafóricos causado pela guerra pelo tráfico no Novo México.
Se as tramas individuais estabelecem as tensões desse retorno de Better Call Saul, o trabalho de Michael Morris e Vince Gilligan na direção destes dois primeiros episódios as elevam a níveis exorbitantes. Fazendo bom uso de tomadas longas e silenciosas, os cineastas estabelecem um ritmo que, mesmo mais lento que o visto em outras séries do gênero, deixa o espectador em estado de alerta constante. Ao mesmo tempo que constroem um sentimento de imediatismo no público, Gilligan e sua equipe nem sempre o correspondem, evitando cair em armadilhas de previsibilidade que muitas vezes assombram séries prelúdio.
Better Call Saul tem um destino inevitável e já conhecido para a maior parte de seus personagens, mas o início da sexta temporada já deixa claro que isso não significa que a série se despedirá de forma óbvia. Cercando seu elenco de conflitos e incertezas, a produção começa seu arco final prometendo um ano tenso e desafiador para seus protagonistas, mas divertidíssimo para seus fãs.
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