Existem algumas profissões que sempre são retratadas no cinema e na TV. É o caso de médicos, advogados, bombeiros e policiais. Logo, quando Brooklyn Nine-Nine foi lançada com o objetivo de contar o dia a dia de uma delegacia e seus investigadores, ela precisava de algo novo para se sobressair em relação às outras séries. E o resultado não poderia ser mais positivo: em suas cinco temporadas, o seriado apresentou personagens carismáticos e um humor irônico e genuíno, que é utilizado nos momentos certos e jamais tira o mérito de seus protagonistas. Todas essas características estão na quinta temporada do seriado, que mostra muito amadurecimento sem deixar de lado a diversão.
Quando o novo ano começa, Jake Peralta (Andy Samberg) e Rosa Diaz (Stephanie Beatriz) estão na cadeia injustamente e seus colegas da 99 estão buscando formas de tirá-los de lá. O novo ambiente cria oportunidades de humor interessantes como, por exemplo, o carisma incrível de Peralta e sua capacidade de fazer amizade com absolutamente qualquer pessoa no mundo - desde um canibal que comia criancinhas, até um chefe de gangue apaixonado por macarrão instantâneo. O núcleo também evidencia muito bem o tom de sátira com as séries de policiais “durões”: há várias situações de perigo e Jake até comemora quando está nelas, comparando-se aos seus ídolos do cinema e da TV. Há uma impressão de falta de consequências quando tudo se resolve facilmente, mas isso trabalha a favor de uma narrativa leve, que sabe quando encerrar uma piada antes que ela fique desgastada.
O humor físico e ácido de Andy Samberg é o que dá o tom de Brooklyn Nine-Nine, mas tudo só funciona porque todos os atores em volta dele estão totalmente comprometidos com seus papéis e funcionam tanto como uma continuação das brincadeiras de Peralta (como Boyle), quanto como um contraponto (como a falta de paciência de Rosa). É essa combinação improvável que faz o seriado ser tão cativante e ter uma base de fãs devota.
Ao longo dos 22 episódios de sua quinta temporada, Brooklyn Nine-Nine encontrou tempo para falar de temas importantes com uma naturalidade rara. Isso acontece quando Gina (Chelsea Peretti) volta ao trabalho e fala de seus problemas em conciliar maternidade e trabalho. Posteriormente, Terry (Terry Crews) volta a falar sobre filhos ao revelar seus receios em ter uma função tão arriscada quanto a de policial. Na parte de representatividade, Rosa é o destaque da temporada pelo conflito de revelar sua bissexualidade para os pais e o Capitão Holt (Andre Braugher) sempre retoma o assunto quando mostra os desafios de ser gay na corporação. Todas essas narrativas entram e saem dos episódios de forma tranquila - geralmente com alguma piada no final - mostrando que a discussão está ali, ela é importante, mas não precisa ser feita de forma agressiva.
Perto do final da temporada, a série surpreende com um episódio 20 (“Show Me Going”) pesado e emocional, que coloca Rosa em uma situação de perigo. Esse conflito tão difícil intensifica o papel de cada um dentro da 99 e ressalta a importância de Peralta para manter aquela família unida. O uso das piadas no episódio é bem trabalhado e as situações cômicas mostram a fragilidade dos personagens que estão com medo de perder a amiga. É um episódio muito humano e maduro, que emociona na mesma proporção em que faz rir.
Os momentos finais da quinta temporada são uma homenagem à jornada dos personagens até ali e servem também como um fechamento de ciclo. As declarações de amor entre Jake e Amy, a amizade de Boyle, o companheirismo de Terry, as emoções duras de Rosa: tudo isso mostra a evolução dos personagens desde a primeira temporada e deixa um pingo de tristeza ao imaginar que podem faltar apenas 13 episódios para o final da série.
O grande mérito de Brooklyn Nine-Nine é mostrar a simplicidade da vida, mesmo em um ambiente tão difícil como o policial. Peralta, Rosa, Terry, Amy, e todos os outros ali estão comprometidos em prender bandidos e fazer do mundo um lugar melhor. E por mais difícil que seja - que a vida real seja - ainda há como fazer tudo isso com um sorriso no rosto.
Criado por: Daniel J. Goor, Michael Schur
Duração: 8 temporadas