Candelária 30 anos depois: Como série conecta passado, presente e futuro

Uma das grandes produções da Netflix em 2024, Os Quatro da Candelária narra as últimas horas de quatro crianças que vivenciaram os horrores das ruas e de um dos massacres mais conhecidos do país. Sem apontar dedos ou dar foco ao crime, a série prestigia a vida e os sonhos de seus protagonistas, mas sem deixar as críticas de lado e mostrando que os problemas da época permanecem hoje — e sem perspectiva de final.

Em entrevista ao Omelete, o diretor da série, Luis Lomenha, explicou como a produção foi pensada para ignorar propositalmente as barreiras do tempo. Enquanto conta os últimos momentos dos protagonistas, a trama permite que momentos históricos se misturem com elementos cotidianos, reforçando a ideia de que o racismo institucional não retrocedeu.

• Leia a crítica de Os Quatro da Candelária

“Quando você olha a série, tudo que tem em primeiro plano — o figurino, os adereços de cena, a arte — é de 1993. Mas, no segundo plano para frente, é século 21. Isso é intencional. Esse fato não está parado no tempo, ele segue acontecendo”, comentou Lomenha, justificando a presença de elementos como carros modernos e a pira olímpica de 2014 no cenário.

Para ele, a incoerência histórica dialoga diretamente com o conceito de afro-futurismo, não pela estética, mas sim pelo brincar com presente, passado e futuro, fazendo com que todos os tempos se tornem um só. “Talvez o maior símbolo do afro-futurismo seja a temporalidade. Começamos no século 17, com a construção da igreja, mas conversamos com o presente e projetamos reflexos no futuro. Isso faz parte da nossa estratégia para mostrar que esses problemas continuam”, explicou.

Ele continua: “De 1993 para cá, nada mudou. Só piorou. Entrou governo, saiu governo, e os números de homicídios e encarceramento da população negra seguem crescendo. Precisamos refletir sobre isso.”

Segundo a sinopse oficial: "Quatro crianças cheias de sonhos enfrentam os perigos das ruas do Rio de Janeiro, sem saber que se tornariam parte de um dos episódios mais trágicos da história do Brasil".

Os Quatro da Candelária conta com Leandro Firmino (Cidade de Deus), Stepan Nercessian (Chacrinha: O Velho Guerreiro), Maria Bopp (Me Chama de Bruna) e Antonio Pitanga (Casa de Antiguidades) no elenco. A direção e roteiro é de Lomenha. A produção está disponível completa no catálogo da Netflix.