A série de Cowboy Bebop, da Netflix, adapta a obra de Shinichiro Watanabe para uma série de TV em live-action acusada de falhar em manter a essência do anime e se limitar a reproduzir os aspectos que o tornam tão especial. É importante lembrar que adaptações de anime são, tradicionalmente, difíceis de se fazer. Estas obras possuem códigos muito específicos e propositalmente exagerados que só fazem sentido em determinadas situações. Só que, mesmo que Cowboy Bebop fosse uma obra considerada possível de adaptar, a série apostou em muitas mudanças — boas e ruins — que chamam a atenção.
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[O texto abaixo contém spoilers da primeira temporada de Cowboy Bebop, da Netflix.]
Confira as principais diferenças entre o anime e a série live-action:
1 - Apresentação dos protagonistas
A primeira mudança sentida na série em relação ao anime foi a maneira como os protagonistas Spike Spiegel (John Cho), Jet Black (Mustafa Shakir), Faye Valentine (Daniella Pineda), Ein (Charlie e Harry) e Ed (Eden Perkins) foram apresentados. Enquanto no anime essa construção é fundamental para introduzir suas respectivas personalidades e funções no grupo, na série da Netflix isso fica de lado. A adaptação entrega de maneira muito direta quem é quem na tripulação e isso acaba ignorando o ponto forte do anime, que é a relação de desenvolvimento gradativo que se forma entre eles.
2 - Vídeo da Faye
Tanto no anime quanto na série, Faye se reconecta às suas memórias de infância através de uma fita que ela gravou para si mesma quando criança. O que muda de uma produção para outra é como essa fita chegou até ela. Enquanto no anime Spike e Jet enfrentam uma jornada digna de um jogo de PlayStation 2 para conseguir um aparelho que rode a mídia do século XX, na série é Faye quem precisa se virar para consegui-la; para isso, acaba até mentindo para seus companheiros.
3 - Jet paizão?
Uma das mudanças que mais teve impacto na relação anime e série foi a filha de Jet. Na animação, o personagem até que é bem paternalista, mas não chegamos a conhecer nenhuma filha. É reconfortante que, de todas as novidades da adaptação, essa tenha sido uma das mais bem-sucedidas. O fato de ele ter uma filha abriu novos caminhos narrativos para os demais protagonistas e para ele mesmo. E é um novo fator que deve retornar com força na próxima temporada, se ela acontecer.
4 - Relação Julia x Spike x Vicious
Outra mudança importante que incomodou alguns fãs do anime foi na relação entre o trio Julia (Elena Satine), Spike e Vicious (Alex Hassell). Dessa vez, Julia aparece desde o início sob o manto de femme fatale da trama, tendo mais voz e protagonismo em vários momentos. A série tenta estabelecer a conexão entre os ex-companheiros de máfia Spike e Vicious, o que não acontece nos episódios do anime. Tudo isso para fazer com que a trama gire em torno dessa relação, colocando Vicious como grande vilão da primeira temporada.
5 - Introdução de Ed
Uma das personagens mais aguardadas da série quase não apareceu na primeira temporada. Ed teve apenas uma rápida — e mal feita — aparição nos minutos finais do último episódio, indicando que poderá ser a responsável por reunir a tripulação da Bebop outra vez.
No anime, a personagem aparece bem mais cedo e está presente em vários momentos importantes. Uma curiosidade interessante é que já no final da animação, Ed deixa o grupo para ir atrás de seu pai, levando Ein com ela, mas na série da Netflix, a personagem faz o inverso e aparece com o cachorrinho para encontrar Spike no final.
6 - Abandono do Ein
O cachorro mais fofo do anime teve uma introdução ainda mais diferente que os demais protagonistas. No anime, ele foi “resgatado” das garras do criminoso Hakim e permaneceu na tripulação até decidir ir atrás de Ed. Já no live-action, o cachorro quase virou presente para a filha de Jet, mas os impostos inventados na série falaram mais alto.
Outro fato curioso é que no universo da série, cachorros estão praticamente extintos e se tornaram artigo de luxo. Mas a principal diferença ficou mesmo com o abandono de Ein pelos protagonistas. Além de servir de simples acessório para os protagonistas, o cachorro ainda foi largado na rua após ser hackeado por um dos vilões.
7 - Mudanças nos vilões
Falando em vilões, entre todas as mudanças da série nenhuma foi tão grande quanto a deles. Quase nenhum antagonista manteve seus objetivos originais e a maneira como eles foram introduzidos na trama também foi alterada.
Os principais exemplos são o Pierrot, que dessa vez trabalhava para o Sindicato e tinha como missão matar o Spike. No anime, Pierrot nunca encontrou com Ein e seu medo era de gatos, não cachorros. Como falamos anteriormente, Hakim perde a ligação direta que tinha com o fofo canino, se tornando um assassino preocupado com a causa animal. Uma das mudanças mais marcantes foi a do Dr. Londes, que no anime era a identidade usada por um jovem acamado, mas que na adaptação live-action se tornou fruto de uma inteligência artificial mal intencionada.