O assalto ao Banco Central é um dos mais notórios da história do Brasil. Em 2011, a história, cinematográfica por essência em virtude de sua grandeza, foi levada aos cinemas pelo filme de Marcos Paulo. Mas se o longa quer exaltar justamente a grandeza do feito e alimentar a imaginação com o sucesso da empreitada, a minissérie documental 3 Tonelada$: Assalto ao Banco Central, da Netflix, vai por um caminho diferente. Aqui, a engenhosidade só resulta em tragédia, e o golpe é desmistificado.
O primeiro capítulo da minissérie de três episódios traz o que todos já sabemos de cor: um roubo mirabolante cujas investigações se arrastaram por anos, culminando na prisão de dezenas de pessoas e na descoberta de uma rede criminosa muito mais profunda. Os dois capítulos seguintes expõem o golpe como a tragédia que é. Por mais que o plano tenha rendido uma bolada, nem o dinheiro conseguiu evitar um destino trágico para os protagonistas dessa história.
Em certo ponto da série, um dos entrevistados cita que o dinheiro se tornou uma maldição. Conforme os ladrões eram apreendidos, o documentário expõe como há certa dose de alívio para alguns. Chega a ser irônico como um dos presos sequer acredita que está sendo apreendido, pois já havia sido sequestrado por outros criminosos que se disfarçaram de policiais. Imputa-se uma aura de fantasia para o roubo, mas que não é glorificada. Toda a história parece surreal demais, como se ela não coubesse nesse mundo, e por isso tivesse contornos tão dramáticos para os criminosos. Ninguém está pronto para lidar com as consequências de roubar tanto dinheiro em um país tão problemático quanto o Brasil.
Alguns dos depoimentos revelam até mesmo como a investigação e a opinião pública superestimaram o crime, já que foi especulado até o envolvimento de criminosos internacionais – possibilidade que, posteriormente, foi descartada. No entanto, se essa proposta de desconstrução do mito parece interessante, a série desliza por perder um pouco do fôlego em alguns momentos ao não saber alinhar a investigação jornalística, a encenação e a desmistificação. Reencenações de momentos de apreensão e investigação surgem sem muito propósito estético se não para apenas descansar os rostos dos entrevistados, que estão em tela quase todo o tempo. Há pouca articulação dessas imagens em prol da citada desmistificação do crime, que é nitidamente o grande mote de 3 Tonelada$.
O que os realizadores parecem não perceber é que a força de 3 Tonelada$ está mais nas imagens de arquivo do que nas encenações e entrevistas. Há um tom jornalístico controlador, que impede que a obra explore mais livremente o uso de suas imagens para fortalecer sua trajetória de mapeamento e desconstrução do crime. Justamente, um dos momentos mais interessantes da minissérie é quando um dos criminosos é apreendido dentro de casa e diz para a esposa “fica calma porque a casa caiu”. Assim, é na exposição do fracasso da perseguição do sonho do crime perfeito que a obra tem seus momentos mais potentes.
Partindo de um mapeamento do crime para chegar à falência do sonho do enriquecimento, 3 Tonelada$ é uma série que apresenta muitos pontos tematicamente promissores, mas que ficam dispersos ao longo de três horas que poderiam ser melhor aproveitadas. Não seria justo dizer que a obra deveria ter mais ou menos tempo, afinal, devemos julgar arte pelo que ela é, e não pelo que ela poderia ser, mas fica a sensação de que há material para se alcançar mais. Se o foco é ir ao cerne do caso para mostrar o fracasso financeiro e emocional do assalto, 3 Tonelada$ até flerta com esse objetivo vez ou outra, mas durante um longo percurso, perde tempo demais com um didatismo quase professoral que nos enche de informações e pouco as usa em prol de uma construção audiovisual mais audaciosa.
3 Toneladas: Assalto Ao Banco Central
Encerrada (2022-2022)
Duração: 1 temporada
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