O consenso diz que Game of Thrones começou a desandar a partir do fim da quinta temporada, quando os criadores David Benioff e D.B. Weiss ficaram sem material para adaptar os livros de George R.R. Martin. Se viver na sombra da maior série da década passada já seria difícil para A Casa do Dragão, repetir os mesmos erros de narrativa vacilante e desenrolar apressado poderia ser fatal para o derivado.
Em termos de engajamento, a série continua entregando na segunda temporada. Durante dois meses, os comentários e os memes se multiplicam nas redes sociais a cada domingo. Mas a série testa a fidelidade do seu público, agora sob a tutela do showrunner Ryan J. Condal, que assumiu sozinho a função no novo ano após a saída do parceiro Miguel Sapochnik. A escassez de momentos realmente marcantes e a necessidade de estender a história contada em Fogo & Gelo resulta em um par de episódios que pouco movimentaram a trama, e na criação de arcos de personagens que - alguns deles alçados a coadjuvantes de luxo na Semeadura - exigem mais engajamento emocional do que o espectador talvez esteja disposto a empenhar.
Mesmo que a primeira temporada de A Casa do Dragão tenha se destacado pelo tom sensacionalista de sua estrutura narrativa novelesca, e o segundo ano continue jogando dentro dessa chave bem sucedida, alguns conflitos centrais emperram no desdobrar da guerra dos Targaryen. De Pedra do Dragão a Porto Real e Harrenhal, personagens como Daemon (Matt Smith), Rhaenyra (Emma D'Arcy), Alicent (Olivia Cooke) e Aemond (Ewan Mitchell) frequentemente andam em círculos nos seus dilemas morais.
Quem mais sofre com a necessidade de preencher as lacunas da obra original é Daemon. Um dos destaques do primeiro ano, o rei consorte fica escanteado sofrendo com delírios intermináveis; a visão no episódio final vem nesse mesmo tom que didatiza os dilemas da coroa e traz resolução anticlimática para o conflito dele com a rainha. Desperdiçar o talento de Matt Smith e um de seus melhores personagens custa caro durante quase toda a segunda temporada.
Uma consequência é que A Casa do Dragão fica refém de suas cenas de duelo e batalha. Os episódios mais empolgantes não por acaso mostram que, no fim, está sendo mais interessante assistir às fascinantes criaturas voadoras do que qualquer outro diálogo envolvendo seus personagens principais.
Para além da falta de material original, A Casa do Dragão continua dependendo de forçar ligações com os acontecimentos de Game of Thrones para inflar a autoimportância do seu épico. Entre visões e menções, Condal aposta no fanservice com a intenção de mostrar que, apesar dos séculos de distância, ambas as histórias estão interligadas. Se o pior erro que uma série deste tamanho pode cometer é tentar emular os passos de sua antecessora ao invés de criar asas e alçar voo por si própria, A Casa do Dragão comete esse erro intencionalmente, no seu eterno ensaio de um grande épico no ar e nos mares que continua por vir.
O que mantém a esperança de dias melhores é o fato de o spin-off ter vivido bons momentos quando sua narrativa encontra propósito. Não são necessários dragões e batalhas em todos os episódios para ter boas histórias, e Condal e sua equipe de roteiristas que, vale destacar, também conta com o autor George R.R. Martin, mostram que sabem contá-las. Que os deuses dos Sete Reinos os iluminem para que a terceira temporada marque uma volta ao topo, agora que A Casa do Dragão se encaminha para a sua metade final.
Criado por: Ryan J. Condal, Miguel Sapochnik
Duração: 1 temporada