Desde seu anúncio, Arcane parecia ter a premissa perfeita — não por seu enredo ou personagens, e sim pelo projeto em si. A Riot Games é, essencialmente, um estúdio de jogos que cresceu demais já com seu primeiro trabalho: League of Legends. Um dos talentos mais questionáveis da empresa, entretanto, é o audiovisual. A desenvolvedora sempre entregou excelentes animações que entregavam mais profundidade aos seus personagens, e a série feita junto da Netflix finalmente elevou isso à máxima potência.
O sucesso estrondoso da primeira temporada não foi à toa. Atos muito bem definidos, todos com um clímax chocante, se somaram a um roteiro bem mais elaborado do que se esperava, além das excelentes escolhas para o elenco de personagens e suas vozes. A segunda temporada surfou nas mesmas ondas, dobrando algumas apostas e criando ainda mais tensão e momentos marcantes.
O retorno de Arcane não precisava se preocupar em introduzir aquele universo ou explicar novos conceitos. A maioria dos elementos já estava ali, permitindo um ritmo acelerado desde o primeiro momento — e não há sinal maior pra isso do que o sétimo episódio começar, literalmente, segundos depois do final do sexto.
A correria ajuda bastante a transmitir algumas das urgências do enredo, que mistura uma guerra cada vez mais próxima do ponto de ebulição, dramas familiares, magia e entidades secretas. Por outro lado, algumas dessas tramas mereciam um tempo maior para serem desenvolvidas.
Desde o primeiro ato, era nítido que Arcane tinha muitas pontas soltas a serem amarradas em poucos episódios. A segunda parte da temporada até trouxe certo otimismo para esse aspecto, unindo arcos e facilitando o caminho para um final satisfatório. Ainda assim, havia espaço para que algumas histórias fossem contadas com mais calma.
Um dos exemplos é a história da Rosa Negra, que poderia ter sido expandida, e Jinx definitivamente precisava de mais protagonismo nos episódios finais, mas nenhum sintoma é tão grave quanto o fraco arco de Jayce.
Colocado como um dos protagonistas por ser responsável pela criação do Hextec, o personagem pende de um lado pro outro num mar de pessoas que conseguem dobrá-lo com facilidade. Quando ele finalmente atinge certa maturidade, há pouco tempo para comprarmos a redenção que a série tenta vender.
A pressa pode ter sido fruto dos altíssimos custos, que colocaram Arcane como a série animada mais cara da história, e chega a ser irônico que o potencial melhor episódio de toda a produção seja justamente aquele que traz mais respiros.
Na cena mais lenta da série — que não coincidentemente é animada a quatro quadros por segundo — Ekko finalmente ganha o destaque que merece, aquecendo o coração do espectador para destruí-lo com os episódios finais.
Mesmo com problemas de ritmo, é impossível não admirar o que foi construído pela tríade Riot Games, Fortiche e Netflix na série como um todo. O estúdio de animação deu forma para as histórias complexas da Riot, e o serviço de streaming era um canhão potente o suficiente para impulsionar a produção com a força que ela merecia.
Arcane sobe a barra para todas as adaptações de games vindouras, definindo um padrão de qualidade que ainda não havia sido visto nesse nicho. Vi, Jinx, Ekko e tantos outros deixarão saudades — e esperamos que por pouco tempo.