Imagem da quarta temporada de Barry

Créditos da imagem: HBO/Reprodução

Séries e TV

Crítica

Barry encerra história de forma seca, mas digna em última temporada

Bill Hader é ora audacioso, ora pretensioso ao explorar a humanidade de seus personagens, e acaba se afastando demais do próprio objeto de estudo

Omelete
3 min de leitura
29.05.2023, às 16H42.
Atualizada em 29.05.2023, ÀS 17H22

É interessante perceber como o humor tenso de Barry se transformou ao longo dos anos. As duas primeiras temporadas são mais amenas e despretensiosas, ao passo que a terceira traz uma bem-vinda intensidade dramática que leva a obra de Bill Hader para outro caminho. Se nos primeiros anos da obra, o protagonista ainda era um mistério para os demais, na 3ª, conforme conhecemos mais do caráter do ator e assassino e testemunhamos sua máscara cair, vemos como era inevitável que as pessoas que o cercam fossem puxadas para dentro de um universo mais obscuro.

Esse mergulho no sombrio tem um impacto direto na forma como a série é escrita, filmada e encenada – Barry, inclusive, merece muitos méritos por conseguir essa transformação ao longo do tempo sem nunca perder sua personalidade. O problema é que, até aqui, mesmo pertencentes ao mundo de Barry Berkamn, os coadjuvantes tinham suas próprias jornadas, sonhos e ambições. O último ano do seriado chega para pôr todos no mesmo tom e estreitar os debates e temas abordados.

A quarta temporada até se inicia no mesmo tom, mas algumas escolhas colocam muita coisa em risco na série. Inicialmente, Hader parece mais interessado em mergulhar na humanidade de seus personagens para aprofundar os debates, mas aos poucos, esvazia Sally (Sarah Goldberg), Gene Cousineau (Henry Winkler) e cia, fazendo com que tudo gire ao redor de uma mesma nota.

No 4º ano de Barry, Hader parece confundir ser audacioso com ser pretensioso. Há saltos temporais que esfriam o andamento das histórias e que exigem que momentos grandiosos sejam construídos para dar conta de todos os simbolismos e debates que a série quer abordar, fazendo com que todas as tramas sejam redirecionadas para um mesmo caminho.

O resultado é que Barry, em dado momento, deixa de contar a história de seus personagens diretamente e, no caminho, ensaiar sobre banalização da violência, para fazer com que todas as tramas sejam guiadas diretamente para o assunto central. Em outras palavras: Hader tenta contar algo grandioso, mas não soube fazer isso sem macular seus personagens. Com isso, perdemos as nuances, as diferentes facetas da série e de seus protagonistas, para que tudo caminhe necessariamente para um mesmo lugar.

É uma opção pretensiosa demais para funcionar em uma obra cuja despretensão sempre foi um dos pontos fortes. A facilidade com que Barry ia do humor ao pavor era tão surpreendente justamente por ser um projeto sem grandes pretensões de debate, que chegava aos temas pelas minúcias dos personagens. Trazer o debate sobre banalização da violência para o front esvazia o restante.

No fim das contas, Barry encontra um final seco, mas com alguma dignidade. A conclusão é diferente do que a série construía até o fim do seu 3º ano, mas parece inevitável diante dos acontecimentos da temporada.

Encerrar uma série em alta é difícil. Talvez ainda estejamos com a régua alta pelo que Succession fez recentemente. Mas o sentimento é de que Barry se afastou demais de tudo que fez seus personagens serem especiais. Chega a ser sintomático que as últimas imagens da obra girem em torno de um dos menos relevantes personagens do seriado.

Nota do Crítico
Bom
Barry
Encerrada (2018-2023)
Barry
Encerrada (2018-2023)

Criado por: Bill Hader

Duração: 4 temporadas

Onde assistir:
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