Na primeira temporada de Bem-Vindos ao Éden fomos apresentados a um argumento bem simples: Zoa (Amaia Aberaturi) ia a uma festa numa ilha e junto com alguns outros presentes, era sequestrada por uma comunidade utópica comandada por Astrid (Amaia Salamanca), a líder do tal Éden, um lugar que aparentemente funciona em termos autossustentáveis. Zoa muito cedo começa a perceber que o lugar não tem nada de acolhedor e as tensões passam a movimentar a trama.
A sinopse acima, entretanto, é muito mais generosa com a série do que ela mesma. O primeiro ano da produção foi tão problemático que chega a ser impossível destacar uma de suas qualidades. Os roteiros não conseguiam estabelecer o que era a comunidade, como ela funcionava e por que raios era tão ruim viver ali. E sobretudo: era difícil até mesmo explicar por que pessoas precisavam ser sequestradas para o lugar quando seria tão possível conseguir voluntários para embarcar na ideia de utopia ecológica.
O resultado foi uma série sobre coisa nenhuma. Ficou claro ao final que os roteiristas queriam explorar apenas as relações entre os residentes da ilha, traçando planos erotizados e eventualmente abrindo caminho entre narrativas de traição e espionagem. Apesar da dificuldade de estabelecer verdadeiros motivos para dezenas de acontecimentos, o público conseguia se divertir com as cenas quentes e com as mortes inesperadas.
A chance de um segundo ano seria a perfeita oportunidade para dar ao Éden uma função. A chegada da irmã de Zoa, Gabi (Berta Castané), poderia ser a costura narrativa principal. Mas era importante que todo o lugar tivesse suas bases mais bem fundamentadas, do contrário, iríamos continuar não acreditando na seriedade do enredo. Do ponto de vista dramatúrgico, a rivalidade entre irmãs proposta por Astrid funciona para deixar a temporada amparada no mínimo de coerência. No entanto, precisávamos de mais.
The Eden is Out There
O tal mais até veio; mas não serviu aos melhores propósitos. A série tem uma preocupação maior em desenvolver seus personagens e isso é completamente legítimo. Contudo, ela foi anunciada e pseudo estruturada em cima de um mistério. Mesmo que ela não olhe para esse mistério com frequência, ela precisa ser eficaz quando o faz. O desequilíbrio surge quando o roteiro se dedica imensamente (para bem e para o mal) em vilanizar e santificar seus protagonistas, mas passa um tempo medíocre nos contando mais sobre o mistério que vendeu.
A relação entre Astrid e Erick (Guillermo Pfening) se desenvolve visivelmente. Eles escondem uma parte de suas vidas da comunidade; e a presença de Africa (Belinda Peregrín) entre eles é um ponto importante de tensão. Novos personagens trazem novas conexões e personagens originais saem um pouco das sombras para ter mais destaque. O roteiro desse ano quer – claramente – construir um embate entre os aliados e traidoras do sistema de Astrid, enquanto, por fora, pinga discretas revelações sobre o que está por trás da Fundação.
O que mais atormenta Bem-Vindos ao Éden, enfim, é seu mau-gosto. A linguagem da série é empobrecida pela falta de apuro no sistema social e político do lugar. Não sabemos nada sobre o trabalho que é feito, por que é feito, quais as vantagens... Os diálogos permanecem rasos e constantemente o sexo e a violência são usados como muletas para disfarçar superficialidade. Na hora de dar mais detalhes sobre o mistério que esconde, a série apela para saídas bisonhas, fantasiosas e deselegantes. Até a boa ideia de mostrar um pouco do passado de Astrid cai por terra quando a narrativa toma decisões estratégicas que beiram o ridículo.
Encerramos a segunda temporada sem absolutamente nenhuma informação útil sobre o Éden. Se isso não é importante para você, a temporada provavelmente vai te agradar. Contudo, não se pode estabelecer a conquista com falsas promessas. A entrega da série quando o assunto é sua base fundamental é medíocre. Porém, sempre haverá quem tope a missão de embarcar no elusivo.
Bem-vindos ao Éden
Em andamento (2022- )
Criado por: Joaquín Górriz
Duração: 2 temporadas
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