Vamos falar a verdade: hoje em dia, o público tem esperanças – mas não expectativas – quando se trata de uma nova temporada de Black Mirror. O quarto ano da série da Netflix ainda teve seus acertos, mas, desde então, ela é muito mais marcada pelos erros. A sétima temporada não é diferente.
Com seis episódios inéditos, a produção criada por Charlie Brooker atirou para todos os lados: há dois episódios mais focados na tecnologia de forma negativa (“Pessoas Comuns” e “Bête Noire”), dois de forma positiva (“Hotel Reverie” e “Eulogy”) e outros dois que apelam para a nostalgia (“Brinquedo” e “USS Callister Infinity”), trazendo sequências diretas de anos anteriores de Black Mirror. E é interessante notar como cada dupla traz resultados completamente diferentes.
Os dois primeiros são sofríveis. Em “Pessoas Comuns”, até tentamos nos sensibilizar pelo marido que aceita condições terríveis de uma “empresa médica” para manter a esposa viva, mas a crítica ao streaming foi muito mais impactante em “Joan é Péssima”, da temporada passada. “Bête Noire” é pior ainda.
Após 15 minutos de episódio, Maria (Siena Kelly) começa a sofrer gaslighting da ex-colega de escola, Verity (Rosy McEwen) e das pessoas ao redor dela, mas é difícil simpatizar quando ela estava implicando com a garota desde muito antes disso — e continua tomando uma decisão errada atrás da outra, sem perceber os sinais ao seu redor. Os acontecimentos do episódio escalam muito rápido e nada ganha a profundidade que merecia.
No entanto, quando traz a tecnologia com o olhar, de certa forma, mais otimista, Black Mirror acerta em cheio. Não é como se "Hotel Reverie" e "Eulogy" tivessem finais diretamente felizes, mas, nos dois episódios, seu uso leva a um aprofundamento maior da história. Em Reverie, vemos Brandy Friday (Issa Rae) e Dorothy Chambers (Emma Corrin) se apaixonando dentro de uma simulação artificial de um filme, mesmo sendo de épocas diferentes.
É um romance criado aos poucos, com foco na relação entre as protagonistas. A simulação tem, sim, suas panes e o episódio traz reflexões sobre o uso de IA em Hollywood – que, inclusive, foi um dos assuntos principais da Greve dos Atores de 2024 –, mas se apoia muito mais nos sentimentos.
Assim como Eulogy, em que o personagem de Paul Giamatti reflete sobre sua parcela de culpa no fim de um relacionamento que ele acredita que tenha acabado com a sua vida. Todo o episódio traz apenas memórias e diálogos dele com Patsy Ferran e isso é suficiente para nos levar a uma montanha-russa de emoções. Quando foca nos personagens em vez do choque pelo choque, Brooker acerta.
O meio-termo dessa vez fica para as continuações. “Brinquedo” se passa em 2034, mas volta em alguns momentos para 1994, dez anos depois de Bandersnatch, o filme de Black Mirror em que o público podia decidir as ações dos personagens. Aqui, o personagem de Will Poulter começa a desenvolver um novo jogo depois de se recuperar mentalmente dos eventos do filme, mas esse game é, na verdade, a criação de uma nova espécie virtual – e isso muda para sempre a vida do novo protagonista, Cameron Walker (Lewis Gribben/Peter Capaldi). A história é interessante e apela para um final a la “Odiados pela Nação”, mas a montagem (um interrogatório ilustrado por flashbacks) acaba sendo cansativa.
Diferente do que acontece em “USS Callister Infinity” que nos leva de volta ao mundo baseado em Star Trek de forma tão dinâmica que nem vemos a duração de 1h30 passar. O episódio continua de forma direta os eventos do começo da quarta temporada, trazendo personagens de volta para encerrar de vez a história com aquela vibe Black Mirror que apenas os primeiros anos da série são capazes de evocar.
Em sua sétima temporada, parece que Black Mirror está começando a se repetir. Se não é uma continuação direta, o episódio evoca sentimentos, situações ou críticas que já vimos antes e, honestamente, de forma melhor. Ainda há momentos de respiro e histórias que genuinamente emocionam, mas longe de causarem o impacto de antigamente.
Black Mirror
Black Mirror
Criado por: Charlie Brooker
Ano: 2011
Gênero: Drama
País: Reino Unido
não gostei dessa nova temporada
Surpreendeu demais essa temporada.