[Cuidado! Spoilers de "Smithereens" abaixo]
Para o segundo episódio da quinta temporada de Black Mirror, o criador e roteirista Charlie Brooker decidiu botar o dedo na ferida e criar caos em cima de muitos problemas puxados direto das manchetes atuais. Na trama de “Smithereens”, um motorista de aplicativo chamado Chris (Andrew Scott, de Sherlock) sequestra um executivo da empresa responsável por uma rede social a lá Twitter, com o objetivo de atrair a atenção do CEO Billy Bauer (Topher Grace). Tudo começa a dar errado quando Chris percebe que raptou alguém de baixo escalão, e os executivos da corporação tentam negociar com ele.
O capítulo funciona por sua simplicidade narrativa, com uma situação tensa que só se agrava com o passar dos minutos, mas isso não significa que sua temática decepciona. Ao longo de uma hora, temas recorrentes das notícias sobre tecnologia são colocados à mesa, como a obsessão por plataformas sociais e o problemático poder que as empresas por trás delas têm ao coletar enormes volumes de dados de seus usuários, ou então o pouco esforço que fazem para impedir algo danoso como o avanço de notícias falsas.
Tudo isso é contextualizado na negociação entre a polícia, a empresa e Chris. Há o risco de tratar algo sério de forma brega, mas felizmente isso não chega a acontecer porque o roteiro tem um ótimo tato para lidar com tudo, entregando até mesmo um momento muito humano em meio ao lado robótico das corporações, quando o protagonista finalmente entra atinge seu objetivo e discute seus arrependimentos com Billy Bauer. Este, por sua vez, desiste de seguir os conselhos dos executivos de sua empresa e se abre ao dizer que nem mesmo o inventor de uma rede social entende como as coisas chegaram no caótico cenário atual. No meio disso tudo, o episódio não perde a chance de satirizar a “cultura” do Vale do Silício, seus CEOs excêntricos e sua “mentalidade positiva” forçada.
“Smithereens” é o grande destaque da quinta temporada, mas não por uma enorme e afiada crítica social e nem por uma reviravolta mirabolante. Talvez a ausência de coisas assim anulem o impacto da trama dentro de uma série que se tornou conhecida por chocar, mas a sutileza com que trata temas complexos é algo que também tem um enorme valor. É um capítulo que pede para ser reassistido, já que ele pode se tornar mais preciso a cada dia.
Criado por: Charlie Brooker
Duração: 6 temporadas