Querido e gentil leitor, costumo achar que é raro uma produção consertar erros do percurso com um bom encerramento - afinal, não dá para chegar a uma conclusão satisfatória sem que o caminho até ela faça sentido. Porém, a terceira temporada de Bridgerton revela uma feliz surpresa em seu desfecho: após episódios que vacilam em dar tempo de tela ao casal principal, parece que a série faz as pazes com o romance ao entender que ele não é o protagonista definitivo dessa vez.
Diferente das temporadas anteriores, nas quais o casal que estrelava os episódios se conhecia perante os olhos do público e então podíamos acompanhar todo o nascimento de uma relação, o terceiro ano depara com um desafio diferente: pegar dois personagens já explorados em várias facetas ao longo da série, e transformá-los em algo novo, o destaque do momento. É justo dizer que essa missão é cumprida com excelência quando pensamos em Penelope (Nicola Coughlan), que recebe os merecidos holofotes e sustenta muito bem o drama familiar, os conflitos internos, a reconstrução de sua relação com outros personagens e principalmente a busca por sua identidade.
Colin (Luke Newton) já é outra história. No texto sobre a primeira leva de episódios, comentei como os problemas com as escolhas feitas para o personagem pesam na narrativa. Nos quatro novos capítulos, porém, a série apresenta várias versões diferentes do personagem, e devo dizer que a que mais me agrada é aquela que aparece após a descoberta da identidade de Lady Whistledown. Afinal, é a versão mais honesta do Bridgerton, e mesmo nos momentos em que suas atitudes são questionáveis, elas são bem retratadas de tal forma.
Porém, parece inegável que a série tem dificuldade em entender como queria contar a história do casal, especificamente - não de Penelope ou de Colin, mas dos dois juntos. A escolha de dividir a temporada em duas não ajuda, já que o retorno parece brusco ao agregar o caráter de um relacionamento já muito bem estabelecido a um envolvimento romântico recente. Com o tempo, essa impressão passa e a atenção é desviada para outras questões, mas é impossível não comparar com as temporadas anteriores e perceber que, talvez, o que falte ao casal para ganhar o total protagonismo romântico seja só tempo de tela. Com tantos núcleos e histórias paralelas interessantes, é difícil focar no par que teoricamente deveria ser o centro delas.
Dito isso, talvez o final desta temporada venha para mostrar que ela não seja sobre o romance - e tudo bem. O desfecho do casal é satisfatório, embora existam reticências no percurso, e a sensação que fica é de que o ano três serve bem a (quase) todos os seus personagens. Penelope, é claro, brilha intensamente na busca por seu verdadeiro eu, jornada essa tão íntima e particular que gera ótimos diálogos com Eloise, Portia, Colin e madame Delacroix. Todo o desenrolar por trás da identidade de Lady Whistledown é primoroso (principalmente os discursos e momentos de desabafo de Pen), combinando um bom roteiro com a exploração de conflitos e personagens diferentes.
Essa temática se destaca especialmente na segunda metade deste ano, e não fica restrita a Pen: Colin, Cressida, Benedict, Francesca, Eloise e até mesmo Violet e Lady Danbury, passando pelos Mondrich, dividem arcos com questionamentos bastante internalizados que os levam a uma jornada de autoconhecimento, encontrando onde se encaixam no mundo - e na série - a partir de agora.
Cressida, inclusive, é uma surpresa muito bem-vinda nessa temporada, já que a personagem estava presa a um estereótipo que pouco contribui para narrativas mais complexas. Benedict demora para engatar um núcleo significativo, já que a história dele fica girando em círculos na primeira parte e demora para mostrar a que veio, mas os dois episódios finais compensam no desenvolvimento do personagem, que agora parece o óbvio protagonista seguinte (o baile de máscaras que dá o pontapé em sua história no livro já foi citado por Eloise como um evento próximo).
Francesca, novamente, é um deleite de assistir. Hannah Dodd faz um ótimo trabalho com a personagem, e o inesperado conflito entre a jovem e sua mãe se desenvolve com interesse. A sensação que fica é que Frannie será um dos trunfos da série para seus próximos passos, e isso inclui a introdução de Michaela Stirling - uma mudança em relação ao material original, já que o livro apresenta um personagem masculino para esse papel.
No núcleo Featherington, com Penelope como a protagonista, a aposta na comédia dos primeiros episódios se pagou especialmente com as cenas das irmãs Prudence e Philipa. Se a parte final investe um pouco mais no drama, focado na relação de Pen com sua mãe, isso tem importância para a trama - mas uma coisa não anula a outra, e teria sido ótimo assistir mais das cenas leves e divertidas envolvendo a dupla de irmãs.
Finalmente, concluo essa coluna social com um sabor doce, sabendo que Lady Whistledown (ou, agora, apenas Penelope Bridgerton) não vai desaparecer. Pen e Colin vivem um bom desfecho e o futuro da série promete o frescor de personagens já amados vivendo situações novas. Eloise, Francesca e Benedict têm todo o necessário para ganhar temporadas instigantes, rompendo expectativas e provando que Bridgerton sempre pode surpreender - mesmo (ou especialmente) quando precisa ficar corrigindo seus desvios de percurso.
Criado por: Chris Van Dusen, Jess Brownell
Duração: 3 temporadas