Clickbait, a nova minissérie da Netflix, parece sempre prestes a dizer algo interessante sobre os temas em que resvala - mas nunca diz. Durante seus oito episódios, a produção criada por Tony Ayres e Christian White ensaia vários discursos, incluindo um arrojadamente ambíguo sobre as armadilhas e virtudes da internet, do mundo conectado que ela criou. Invariavelmente, no entanto, Clickbait mina as próprias chances de ser levada a sério com alguma reviravolta estapafúrdia ou alguma construção de cena desajeitadamente novelesca.
Isso não é, necessariamente, algo ruim - mas é, sem dúvida, um pouco frustrante. Cada investida da série por um caminho duvidoso, cada desenvolvimento de trama “fora da caixinha”, vem como um choque, batendo de frente com o tom não exatamente sóbrio, mas intelectualmente provocativo, do que o antecede. Demora um pouco para o espectador entrar na onda da loucura da vez e se divertir com ela, e o que falta aqui é um equilíbrio de tom, do qual a equipe de diretores da série não dá conta, para que essa mistura de reflexivo e sensacionalista seja mais consistente.
Em Clickbait, Adrian Grenier (Entourage, O Diabo Veste Prada) é Nick Brewer, um fisioterapeuta que vive uma vida aparentemente perfeita com a mulher e os dois filhos na Califórnia. Isso até ele ser sequestrado e aparecer em um vídeo na internet, segurando placas em que parece confessar crimes de abuso sexual e assassinato, seguidas por uma última mensagem: “Chegando aos 5 milhões de visualizações, eu morro”.
A minissérie segue as muitas reviravoltas do caso através de vários pontos de vista. A irmã de Nick, Pia (Zoe Kazan); sua esposa, Sophie (Betty Gabriel); o detetive do caso, Roshan (Phoenix Raei); um repórter que cobre o seu desaparecimento, Ben (Abraham Lim)... esses e outros personagens ganham seu momento nos holofotes, em episódios batizados em suas homenagens, habilmente escritos e posicionados dentro da temporada para o melhor avanço da trama.
Um dos problemas de Clickbait é que, ao escolher pulverizar o seu foco dessa forma, ela abre muitos arcos de personagem e investe em subtramas que, no finale, não têm tempo de fechar de maneira satisfatória. Não é que fiquem pontas soltas, exatamente - de fato, a série se esforça muito para amarrar todas elas. O que deixa um gosto amargo na boca é como determinados desenvolvimentos de trama ficam, por pura falta de tempo, como um “P.S.” mal rabiscado no canto de um bilhete.
Isso incomoda principalmente quando esses tais desenvolvimentos finais se relacionam a algumas das questões mais sérias levantadas por Clickbait. É fácil perdoar a série quando ela deixa em aberto um romance bobo que foi sugerido durante a temporada, mas é mais difícil quando ela trata a resolução de uma subtrama de abuso sexual adolescente (levada com alguma sensibilidade durante a temporada) como uma nota de rodapé na cena final do último capítulo. É nesses momentos que a falta de foco de Clickbait se prova mais fatal às suas próprias ambições.
A minissérie tem também, no entanto, uma miríade de virtudes, a começar pelo mistério labiríntico, profundamente conectado com dúvidas e angústias contemporâneas, em seu centro. É inegavelmente eletrizante acompanhar enquanto Clickbait vai adicionando mais e mais andares ao seu castelo de cartas, tratando o foco em cada personagem como uma oportunidade de distorcer um pouco mais a percepção do espectador do que raios aconteceu com Nick Brewer (e, mais importante, quem ele de fato era).
Adicione aí um elenco centrado, sem elos fracos, liderado por uma Betty Gabriel excepcional na forma como articula o desamparo emocional da esposa que vê seu mundo se desintegrar diante dos próprios olhos, e você tem um pedaço de entretenimento simplesmente irresistível. Clickbait desafia o espectador a não se envolver com o universo que ela cria, e sabe muito bem que tem esse jogo ganho.
Clickbait
Encerrada (2021- )
Criado por: Tony Ayres, Christian White
Duração: 1 temporada
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