Qualquer série de sucesso que passe de três temporadas corre o risco de se tornar refém de seu próprio êxito. Em vários casos, estender-se além do que sua capacidade criativa pode proporcionar, acaba sendo um tiro no pé - Lost, Dexter e até Game of Thrones são exemplos que até hoje dão calafrios nos fãs no que diz respeito às suas despedidas. Cobra Kai flertou com essa possibilidade ao chegar em sua sexta temporada e dividir sua última leva de episódios em três partes. Mas apesar de alguns tropeços no caminho, a série que ressuscitou a franquia Karatê Kid e apresentou a história da rivalidade entre Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Johnny Lawrence (William Zabka) a uma nova geração de fãs encerrou seu ciclo da melhor maneira possível.
Ao longo de suas seis temporadas, Cobra Kai nunca teve medo de ser cafona para gerar entretenimento. Sendo Karatê Kid uma franquia dos anos 1980, a série sempre explorou a jornada de seus personagens usando problemas e soluções que muitas vezes beiravam o irreal - um de seus protagonistas, por exemplo, era uma clara representação do macho chucro de outrora. Seu maior êxito, no entanto, foi fazer isso de forma despretensiosa, quase sedutora, onde humor e drama se equilibravam para que a conexão com os personagens - antigos e novos - se formasse naturalmente. E o que surgiu como uma série escondida no agora extinto Youtube Red se tornou um dos maiores sucessos da história da Netflix.
Em uma época na qual a cultura pop é dominada por franquias, reboots e revivals, Cobra Kai sempre deu aula de como tratar o seu legado com respeito. Para além de seguir contando a história de Daniel e Johnny, os showrunners souberam reaproveitar praticamente todos os personagens que marcaram a história da trilogia original de Karatê Kid. De Terry Silver (Thomas Ian Griffith) a Ali Mills (Elisabeth Shue), os chamados legacy characters retornavam para agregar à história, e mesmo os que fizeram apenas pequenas aparições eram introduzidos de forma orgânica, sem parecer um fan service gratuito.
Todos estes elementos citados que fizeram Cobra Kai ser um fenômeno foram cruciais para que a Parte 3 da sexta temporada fosse o final digno que uma série de tamanho sucesso merecia. O fim deste capítulo - afinal, Karatê Kid: Lendas estreia ainda este ano - teve emoção, humor, reviravoltas absurdas e, claro, lutas empolgantes. Mas acima de tudo, o que fez do fim de Cobra Kai uma aula de como finalizar uma série foi o respeito com o qual seus roteiristas tiveram com o seu legado. É quase impossível assistir ao último episódio sem ter a sensação de que um ciclo foi encerrado sem pontas soltas ou perguntas não respondidas, e com todos seus personagens alcançando a evolução que tanto buscaram. Tudo isso, obviamente, sem abrir mão de ser bem, bem cafona.
Quem mais reflete as boas escolhas para este fim de ciclo é Johnny Lawrence. O vilão que se tornou herói, ganhou um final digno de novela, e é gratificante ver como cada passo de sua jornada pareceu meticulosamente pensado para que sua despedida fosse apoteótica - e por que não, emocionante. No mundo pós-Cobra Kai, o antigo bad boy finalmente ganhou o direito de ser considerado um verdadeiro Karatê Kid.
Com a continuidade do universo da série confirmado mesmo antes da estreia dos últimos episódios, era esperado que o final de alguns personagens ficasse em aberto. Mas Cobra Kai ainda deixou espaço para algumas surpresas, e a ousadia para encerrar alguns arcos deve surpreender grande parcela dos fãs - menos, talvez, aqueles acostumados com a atmosfera dos filmes dos anos 1980. Entre dramas e escolhas absurdas, o que vemos nos capítulos finais é uma verdadeira masterclass de como finalizar uma das principais séries dos últimos anos.
Cobra Kai
Cobra Kai
Criado por: Josh Heald e Jon Hurwitz
Ano: 2018
Gênero: Action & Adventure
País: Estados Unidos