Cobra Kai nunca fugiu do brega. Seja com flashbacks nostálgicos de cenas de Karatê Kid ou com a cobertura surreal de um torneio de karatê juvenil, a série incorporou absurdos em sua própria trama, de forma que mesmo alguns exageros parecem justificáveis para o espectador. Assim como em anos anteriores, a quinta temporada transforma a bizarrice em um de seus principais atrativos.
A estrutura seguida pela série é confortável e, às vezes, leva a desfechos relativamente óbvios de algumas tramas, mas isso não quer dizer que a história se desenvolva sem criatividade. Os caminhos tomados pelo roteiro para levar os personagens de um ponto A a um ponto B são empolgantes, com loucuras o bastante para manter a atenção do espectador na tela mesmo em seus momentos mais novelescos. Brigas de casais, dramas adolescentes, traições e outros tropos dignos de folhetim são abundantes em Cobra Kai, mas, assim como acontece nas melhores novelas, esses eventos estimulam o envolvimento do espectador diante do clubismo de vilões versus mocinhos.
Mesmo quando o roteiro fornece falas pouco inspiradas, o elenco as entrega muito bem, seja em momentos cômicos ou dramáticos. Mais uma vez, William Zabka domina a cena como o brucutu cabeça dura que é Johnny Lawrence, que finalmente supera sua rivalidade com Daniel (Ralph Macchio) e pode realmente crescer como personagem. Ao mesmo tempo, Thomas Ian Griffith transforma Terry Silver em um vilão ardiloso, mas extremamente envolvente, elevando todas as características cartunescas que conquistaram elogios na temporada passada.
Essa mesma qualidade se faz presente no elenco de apoio, especialmente Courtney Henggeler, cuja Amanda LaRusso parece tão incrédula com os absurdos do Vale São Fernando quanto o próprio público e traz um mínimo de sanidade para o mundo de Cobra Kai. Entre os atores mais jovens, Jacob Bertrand e Gianni DeCenzo, que vivem Eli e Demetri, respectivamente, seguem como os dois grandes destaques, e vê-los bater em Kyler (Joe Seo) é tão catártico quanto o chute da garça que fechou o Karatê Kid original.
A série sofre, no entanto, ao desperdiçar alguns atores. Xolo Maridueña, por exemplo, é deixado de lado por boa parte da quinta temporada, algo extremamente frustrante para quem esperava uma jornada profunda após o gancho deixado pelo quarto ano. Mary Mouser e Vanessa Rubio também têm seu tempo de tela e, consequentemente, as jornadas de suas personagens prejudicadas pela escolha dos roteiristas de focar no cada vez mais incômodo Ray (Paul Walter Hauser). Chato, o “Arraia” mata o humor de todas as cenas em que aparece e sua construção é tão ofensiva quanto sem graça.
Lutas de encher os olhos
Principal atrativo de Cobra Kai, as lutas seguem com a mesma qualidade de outras temporadas, mas vêm em uma crescente criativa interessante. Ao longo do quinto ano, personagens batalham com sabres e sais, arremessam facas e enfrentam bandos de oponentes em diversos cenários, tornando cada briga única.
Embora algumas lutas sofram com a edição frenética que virou o padrão de blockbusters de ação, a produção ainda apresenta coreografias bem feitas, especialmente nas sequências com participações de Zabka, Macchio, Griffith e Yuji Okumoto. Mesmo que alguns dos movimentos dos veteranos sejam um pouco menos ágeis que os de atores mais jovens, são eles que desferem os golpes mais brutais dos novos episódios.
Cercados de expectativas, os embates da quinta temporada servem tanto para divertir o público quanto para desenvolver os personagens. Kenny (Dallas Dupree Young) e Devon (Oona O'Brien), por exemplo, mal aparecem longe do tatame, mas ainda ganham mais personalidade a cada briga em que participam, muito graças às coreografias do coordenador de lutas Don Lee, que incorpora as personalidades dos personagens em seus estilos de combate.
Ainda criativa e divertida mesmo depois de meia década no ar, Cobra Kai parece ter bastante lenha para queimar nos próximos anos. Com um elenco talentoso e coreografias de luta de alto nível, a série segue sendo o entretenimento perfeito para quem curte uma galhofa de qualidade.
Criado por: Josh Heald e Jon Hurwitz
Duração: 5 temporadas