Na pele de Elena Vernham, a líder autoritária no centro de O Regime, minissérie que chega à HBO e à Max neste domingo (3), Kate Winslet tem muito a fazer: a chanceler peita potências ocidentais, derruba opositores sem qualquer remorso, enfrenta uma crise econômica que ameaça seu poder, e canta languidamente entre arroubos de insegurança e hipocondria. E em todos esses momentos, ao longo de seis episódios (que serão exibidos semanalmente, mas o Omelete já viu), a atriz se mostra uma força magnética, mesmo quando a sátira do criador Will Tracy dá sinais de cansaço.
Situada em um país fictício e não nomeado na Europa Central, a minissérie acompanha Elena no dia a dia de seu palácio, um antigo hotel que ela “pediu” para si após tomar o poder, sete anos antes. A ditadora manda e desmanda, mas quer ser adorada por seu povo, a quem se refere como “seus amores”. As coisas começam a mudar com a chegada de Herbert Zubak (Matthias Schoenaerts), soldado que ganhou o apelido de “Açougueiro” após participar de um massacre contra manifestantes.
Ecos da relação entre Vladimir Putin e Yevgeny Prigozhin obviamente não são por acaso, especialmente quando a trama passa a envolver conspirações e envenenamentos. A chanceler está convencida de que o palácio tem um mofo letal, então Elena contrata Zubak para ser o “medidor de umidade” oficial do regime. Herbert em seguida se torna conselheiro e confidente da tirana enquanto tenta influenciar nos rumos políticos do país.
Em uma veia (que tenta ser) claramente mais cômica do que os dois trabalhos anteriores de Tracy, Succession e O Menu, a história segue em uma escalada de absurdos, que envolvem (mas não se limitam a) o uso de terra como tempero de café e a colocação de batatas fumegantes pelos corredores do palácio. O problema é que O Regime, na busca do equilíbrio entre a sátira e o absurdo, acaba por dedicar muito de seu tempo ao segundo, sacrificando a sutileza e por vezes prolongando desnecessariamente suas piadas, o que se torna cansativo por volta da metade da temporada.
É, por vezes, uma experiência frustrante, já que O Regime guarda em si elementos muito mais interessantes, como diálogos mordazes, insultos espirituosos e boas sequências de jogos de poder, como uma conversa entre Elena e uma representante do governo americano, claramente inspirada em Hillary Clinton. Tais elementos dão um vislumbre de outro caminho que a trama poderia seguir, em um melhor equilíbrio entre o ridículo e o sagaz.
A minissérie não consegue extrair comentários especialmente aprofundados ou novos sobre governos e governantes autoritários, mesmo que Elena evoque figuras como Putin e Donald Trump. Tracy, porém, faz um esforço interessante de deixar entrever as consequências muito reais das ações ridículas e extremas da chanceler por meio de Agnes (Andrea Riseborough), assistente da governante e mãe de Oskar, um garotinho doente que é alvo dos interesses maternais de Elena. Tais esforços ficam fora de lugar quando pareados a cenas escrachadas, mas se prestam bem à guinada mais dramática que a minissérie tem em seu final.
Ao fim, O Regime tem uma trajetória irregular, mas um trunfo muito particular: Kate Winslet. A atriz revela com destreza todas as nuances de Elena, conseguindo demonstrar, por meio da fala e de suas expressões corporais, quando a chanceler está sucumbindo às inseguranças por trás da fachada de implacabilidade. Winslet faz de Elena uma mulher desprezível, mas carismática o suficiente para que o espectador seja convencido a voltar para mais um episódio. Quem dera a minissérie estivesse no mesmo nível de sua protagonista.
Criado por: Will Tracy
Duração: 1 temporada
