Atenção: spoilers de toda a nona temporada abaixo.
A nona temporada de Doctor Who estava cercada de adversidade. A série, que já vinha de duas temporadas fracas e uma sempre traumática mudança de Doutor, ainda precisaria lidar com a despedida de Clara Oswald, uma das companions mais longevas da era moderna, com a saída de Jenna Coleman, anunciada antes mesmo do primeiro episódio ir ao ar. Frente a esse desafio, Steven Moffat e companhia muniram-se de uma só arma: episódios duplos.
Foi uma grande mudança para uma série que sempre teve como diferencial a possibilidade de condensar tramas complexas a um episódio só, sem deixar de lado mais de 50 anos de obras nem deixar boiando quem está chegando agora. Como toda grande reestruturação, algumas mudanças deram certo e outras não.
Em todos os episódios duplos, era visível a queda de qualidade na segunda parte. A mais brusca aconteceu logo no começo: “The Magician’s Apprentice”, uma estreia com peso de fim de temporada e revelações sobre a origem de Davros, o criador dos Daleks, terminou numa tosca resolução em “The Witch’s Familiar”, quando descobriu-se que a nova chave de fenda sônica do Doutor era seus óculos escuros (que não vão ficar para o próximo ano, felizmente).
Quando o roteiro não ajudava, felizmente, os atores estavam lá para dar conta do recado - e como deram. A nona temporada de Doctor Who tem, possivelmente, as melhores atuações desde 2005, se levarmos em conta todo o elenco. De Clara recebendo a morte de braços abertos em “Face the Raven” à transformação da inocente Ashildr na amargurada Me (Maisie Williams) em “The Girl Who Died”/”The Woman Who Lived”, sem esquecer de Missy (Michelle Gomez) roubando a cena, todos os personagens tiveram seu momento de brilhar e o fizeram de forma espetacular.
Entre todos eles, claro, quem brilha mais é Peter Capaldi. Livre das amarras de uma temporada de transição, o escocês deixou de lado a crise de identidade, rompeu de vez com os maneirismos de seus antecessores mais jovens e trouxe à tona um Doutor completamente seu, em sua pose de rockstar de fim de festa (com direito a guitarra em algumas vezes) que combina perfeitamente com sua personalidade ranzinza.
É na atuação de Capaldi que se encontram todos os pontos altos do nono ano. Com seu inflamado discurso antiguerra (“quanto sangue precisa ser derramado até todo mundo fazer o que deveria ter feito desde o começo: sentar e conversar!”), o escocês consegue salvar o desfecho anticlimático de “The Zygon Invasion”/“The Zygon Inversion”, a continuação do icônico “Day of the Doctor” e um dos episódios mais importantes da temporada.
Mas é em “Heaven Sent”, o penúltimo episódio da temporada, que Capaldi elimina de vez quaisquer dúvidas que ainda restavam sobre sua escolha para o papel. De luto pela morte de Clara e e aprisionado em um castelo, o escocês carrega sozinho por 45min uma dramática luta de quatro bilhões de anos para se libertar de seu cárcere e salvar sua amiga. A brilhante atuação do escocês, aliada à excelente montagem, torna o episódio um dos melhores da era moderna de Doctor Who.
A nona temporada de Doctor Who assumiu riscos e, embora alguns episódios não tenham se saído tão bem, a aposta foi paga quando a série conseguiu dar momentos memoráveis ao 12º Doutor. Afinal, sem Clara (e, ao que tudo indica, sem Ashildr nem Missy), será ele o responsável por conduzir a série a um imprevisível próximo ano.
Criado por: Sydney Newman
Duração: 13 temporadas