Idealizada praticamente como uma história nada heróica, a HQ Gavião Arqueiro de Matt Fraction e David Aja conquistou leitores do mundo todo com sua simplicidade, humor autorreferente e atmosfera urbana. Fazendo graça com o “cara comum dos Vingadores”, o gibi olhou Clint Barton para além de seu uniforme chamativo e habilidades mundanas, explorando suas virtudes e algumas falhas de caráter, evidenciadas por sua parceria com Kate Bishop. Com missão semelhante, Gavião Arqueiro chegou ao Disney+ para provar a força do herói como personagem e mostrar o que o Marvel Studios tem preparado para sua nova geração de Vingadores.
Mais uma vez vivido por Jeremy Renner, Clint chega à série cansado, traumatizado e buscando uma vida de paz ao lado de sua família. Quando tudo parecia encaminhado para um feliz Natal, o arqueiro descobre que a jovem Kate Bishop, interpretada por Hailee Steinfeld, encontrou o traje usado por ele para massacrar diferentes grupos criminosos durante os cinco anos que separam Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato. A partir do momento que a dupla se encontra, Gavião Arqueiro incorpora toda a hilaridade caótica dos gibis que adapta, abrindo espaço para seus astros brilharem de forma diferente do que acontece em outras produções de super-herói.
Se levando menos a sério do que as outras séries do MCU fizeram até agora no Disney+, Gavião Arqueiro reafirma sua inconsequência a cada novo episódio, usando a própria proposta como alvo de piadas. Mesmo que não ignore pontos-chave da franquia, a produção se coloca a parte do mundo dos Vingadores e se preocupa mais em entreter o público do que em criar expectativa para outras produções. Até quando estabelece novos personagens que serão importantes no futuro, Gavião Arqueiro o faz de seu próprio jeito, incluindo-os em sua própria bobeira com situações e diálogos que ficam bem perto de quebrar a quarta parede.
É justamente essa visão quase satírica que tem de si mesma que impede a série de cometer os mesmos erros de WandaVision ou Falcão e o Soldado Invernal. Enquanto suas predecessoras minavam a construção de seus climas épicos com piadas deslocadas e barrigas tediosas, Gavião Arqueiro foi pelo caminho contrário, estabelecendo-se como uma comédia policial que vez ou outra brinca de “falar sério”. Através de Eco, a produção estabelece sua conexão com o mundo fora das piadas da Dupla Defeituosa e da Gangue dos Agasalhos, usando a mafiosa como seu centro emocional. Apesar de ser o único contraponto ao humor da série, a personagem da ótima Alaqua Cox nunca parece deslocada, reflexo do bom trabalho dos diretores Rhys Thomas e Bert e Bertie, que souberam transitar entre o bom humor e a seriedade sem dificuldade.
Muito do mérito de Gavião Arqueiro deve ser dado, no entanto, ao seu elenco principal. Jeremy Renner e Hailee Steinfeld estabelecem a parceria problemática entre Clint e Kate com uma química instantânea que melhora a cada episódio, dividindo o protagonismo de forma equilibrada e divertida. A mesma qualidade pode ser percebida quando Vera Farmiga, Tony Dalton ou Alaqua Cox estão em cena. De presença de tela impressionante, o trio eleva o roteiro e transforma diálogos simples em passagens divertidas, que somam à série mesmo quando não avançam a trama.
Outro nome a destacar é Florence Pugh, que transforma Yelena em uma figura simultaneamente hilária e ameaçadora. Suas cenas com Steinfeld proporcionam os melhores diálogos de Gavião Arqueiro, criando momentos tensos que explicitam as nuances emocionais da nova Viúva Negra sem ignorar a proposta humorística da série.
Seguindo a dinâmica divertida estabelecida pelo elenco, a trilha sonora de Christophe Beck e Michael Paraskevas (ambos de Frozen e WandaVision) reforça o clima divertido, misturando clássicas canções de Natal a composições originais épicas. Bem encaixada nas cenas de ação, a trilha ajuda a criar a tensão dos combates físicos sem abrir mão do humor presente em toda a montagem da série.
Grande trunfo de Gavião Arqueiro, a falta de pretensão e aversão à grandiosidade do MCU traz um bem-vindo respiro ao constante risco de apocalipse universal que a franquia coloca em praticamente todas as suas produções desde 2012. Prometendo uma gostosa bobeira natalina, a produção entrega uma aventura de fim de ano divertida e absurda, estrelada por alguns dos personagens mais charmosos já apresentados no MCU.
Criado por: Jonathan Igla
Duração: 1 temporada