Séries e TV

Crítica

Good Girls - 1ª temporada

Breaking Bad estrelado por mulheres desperdiça potencial por patinar na superficialidade

17.07.2018, às 14H05.
Atualizada em 18.07.2018, ÀS 18H01

Jenna Bans já foi roteirista de Desperate Housewives e Scandal e é produtora e roteirista de Grey’s Anatomy. Três séries elaboradas em torno do imaginário feminino; a primeira desfazendo a ilusão de uma vida perfeita e as outras, seguindo a tradição criada por Shonda Rhimes, centradas em jogos de poder, amor e desejo. Essa experiência deu para Bans a base para a criação de Good Girls. Uma história que pretende desafiar o conceito de “boa moça”, ao mesmo tempo em que se constrói como uma fantasia feminina clássica com traições, amores impossíveis e algumas vinganças.

Ou seja, não é, nem de longe, o Breaking Bad estrelado por mulheres que a sinopse parece prometer: “três mães decidem que o crime é a única opção para salvar suas famílias”. A série foca no aspecto pitoresco dessa premissa, deixando de lado o questionamento moral das protagonistas. Uma decisão que torna a narrativa divertida, mas também a limita. Qualquer elemento que possa dar densidade à trama é apenas insinuado, nunca concluído.

Beth (Christina Hendricks), por exemplo, começa como a esposa traída, mãe de quatro filhos, e com zero experiência profissional. Quando o crime parece ser a única solução, ela se transforma. É um grito de independência que desperta desejos escondidos. Ela sabe mentir, sabe encarar uma arma e sabe ameaçar quando preciso. A série, porém, evita complicações, mantendo-a em uma linha reta da primeira à última cena. Por mais que ela ameace seguir por outro lado, como nos flertes e olhares de admiração que troca com o gângster Rio, é pouco provável que a suas escolhas fujam realmente da trilha de uma “boa menina”.

Já suas companheiras, Ruby (Retta) e Annie (Mae Whitman), têm trajetórias mais simples, o que torna suas jornadas mais completas dentro da proposta básica da série. As duas querem apenas o melhor para seus filhos, mas precisam aprender a lidar com os seus próprios egos no processo - o que também envolve encarar as possíveis consequências das suas escolhas. São narrativas que ganham corpo com o carisma das atrizes e do elenco de apoio - incluindo maridos, ex-maridos, filhos, madrastas, viúvas desesperadas e um típico macho frustrado.

Outro elemento que contribui para dar credibilidade à série é a interação entre as três protagonistas. É fácil embarcar em planos mirabolantes e suspirar com alívio a cada vitória do trio. A escalação de Hendricks, Retta e Whitman equilibra a narrativa com personalidades fortes, diferentes e complementares.

Na sua primeira temporada, Good Girls funciona como uma fantasia mundana por não pensar em sequelas (ou por simplesmente deixá-las para a última hora). Há um quê de brincadeira, mesmo quando armas, ameaças de morte, sequestro, extorsão e até tentativas de estupro passam pelos episódios. Para continuar, porém, é preciso prestar contas antes que essa premissa se esgote pela superficialidade. O crime pode até compensar, mas há um preço a ser pago para que a série possa seguir adiante.

Nota do Crítico
Bom

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