Está tudo no rosto de Esme Creed-Miles. Nos momentos finais de Hanna, que soltou a sua última temporada de seis episódios no Amazon Prime Video na quarta-feira (24), o roteirista David Farr e a diretora Anca Miruna Lazarescu trocam a verborragia pelo silêncio e simplesmente observam a sua protagonista - ali, na atuação delicada da britânica de 21 anos, é possível ler tudo o que essa jornada de amadurecimento significou, todo o alívio de chegar ao fim, mas também todo o arrependimento que ela acumulou pelo caminho. Se essa não é a marca de uma história bem contada, eu não sei qual é.
O carinho de Farr por Hanna, a personagem e a série, é óbvio e compreensível. Ele criou esse universo ficcional há mais de uma década, quando escreveu a primeira versão do que viria a se tornar o longa-metragem Hanna em 2011, dirigido por Joe Wright como uma mistura de conto de fadas e épico de ação. Foi ao ressuscitar a premissa para a TV, no entanto, que Farr conseguiu contar a história que Hanna nasceu para ser: um thriller de espionagem internacional estiloso na superfície, mas com coração de drama adolescente intimista cheio de ideias sobre como é crescer no século XXI.
Para quem não sabe, a série conta a história da personagem título (Creed-Miles), parte desde o nascimento de um programa secreto que injeta DNA de lobo em meninas e as treina para se tornarem assassinas letais a serviço do governo. Nesta última leva de episódios, ela se junta a Marissa Wiegler (Mireille Enos) e Carmichael (Dermot Mulroney), anteriormente seus rivais, para tentar derrubar o tal programa de dentro para fora.
A estrutura mais enxuta (as temporadas anteriores tiveram oito capítulos, ao invés de seis) deste último ano de Hanna faz bem a Farr e sua equipe de roteiristas. Nesse formato, eles podem trocar o suspense banho-maria meio alienante que caracterizou o miolo das duas primeiras temporadas pela brutalidade eficiente de cenas de ação que sempre estão levando a trama adiante, ao invés de parecerem concessões ao público que apertou play esperando adrenalina.
Enquanto isso, o trio de diretoras reunido aqui (Anca Lazarescu, Sacha Polak e Weronika Tofilska) reimagina o mundo de Hanna como um mundo esparso, inóspito para o desenvolvimento humano da protagonista ou daqueles à sua volta. Ambientada em apartamentos dilapidados, ruas desertas e prédios abandonados às margens da Europa turística que outras séries e filmes mostram, esta última temporada desenvolve uma sensibilidade observadora, quase poética, mesmo em meio à violência que por vezes irrompe na trama.
A tensão fundamental entre esse caráter contemplativo natural de Hanna e seu status como série de ação só a torna mais fascinante, ao invés de transformá-la em uma obra indecisa ou sem personalidade. Trazendo à tona as entrelinhas políticas de conflito geracional que sempre estiveram presentes na própria premissa da série, e elaborando com delicadeza os efeitos de uma vida mergulhada em violência e em sistemas de poder (e afeto) artificiais em cada um de seus personagens, a terceira temporada desvela o potencial gigantesco que Hanna sempre teve.
Esta é, sim, uma história que esperou mais de uma década para ser contada - mas parece que seu final não chegou nem um segundo atrasado.
Hanna (2019-2021)
Encerrada (2019-2021)
Criado por: David Farr
Duração: 3 temporadas
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