Manifest

Créditos da imagem: Netflix/Divulgação

Séries e TV

Crítica

Manifest retorna depois de ser salva, mas o desastre continua

Quarta temporada da série amplia a níveis inacreditáveis os absurdos que constituem sua mitologia

Omelete
4 min de leitura
07.11.2022, às 11H06.

Dentro dos conhecimentos de uma pessoa sobre cultura pop em geral, se forma uma espécie de lista de critérios por onde passam as produções escolhidas para consumo do dia-a-dia. Esses critérios são absolutamente pessoais e se uma série consegue passar por eles sem arranhões, vai ser eleita como uma das que serão recomendadas no futuro. Aquelas que não passam acendem alertas e esses alertas geralmente estão certos. No caso de Manifest, de volta pela Netflix, esse alerta foi acionado logo no começo da história, quando o menino Cal (Jack Messina) olha pela janela do voo e diz com um tom solene: está tudo conectado.

Além de ser uma frase-feita das mais clichês do mercado, essa também é uma frase que contém ironia involuntária, já que, numa passada de olhos mais atenta pelo enredo de Manifest, fica claro que tudo na mitologia da série soa completamente caótico, sem nenhuma conexão limpa. A cada nova temporada o mundo dos personagens vai adicionando elementos de maneira descontrolada, aleatória, produzindo uma história que talvez seja uma das mais bisonhas da nossa atualidade.

Inacreditavelmente, a Netflix achou que seria interessante salvar tudo isso do cancelamento. Manifest estreou na NBC com ares de grande sucesso, usando um desastre aéreo para fazer uma proposital conexão com Lost (2004) e deixando um mistério em aberto para ser desvendado nos anos seguintes. A audiência estável no primeiro ano garantiu um segundo, mas a NBC precisou aceitar muito rápido que aquela não seria a “nova Lost”, ao passo em que os números diminuíam e as críticas negativas aumentavam. O cancelamento depois da terceira temporada era esperado, mas causou revolta entre os fãs.

O salvamento pela Netflix dava ao seriado a chance de melhorar seu desempenho. Jeff Rake, o criador, declarou algumas vezes que a série foi planejada para seis temporadas e que com o cancelamento, três anos de acontecimentos teriam que ser condensados nos 20 episódios encomendados pelo streaming. Pode parecer que resumir três anos em 20 horas é um desatino criativo. Porém, quando o assunto é Manifest, impedi-la de ter tempo pode ser um “curativo” necessário. Se Rake não consegue conter o “rocambole narrativo” que criou, ao menos a limitação de episódios conseguiria.

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Turbulências

Quando a quarta temporada começa há um plot central que é bastante claro e que ajuda a audiência a ter ao menos algum senso de organização. Após a morte de Grace (Athena Karkanis) e o rapto da bebê Eden por Angelina (Holly Taylor), os personagens estão girando em torno das consequências disso. Ben (Josh Dallas) está à procura da filha e também está lidando com a volta de Cal adulto (Ty Doran), que permanece ativo nos acontecimentos usando outro nome. Com muito esforço é possível estabelecer esses dois pontos dramatúrgicos como aqueles que vão conduzir os 10 episódios dessa temporada. O problema é que Manifest adora uma complicação.

Muitas vezes, a impressão é de que esses elementos complicadores são jogados no roteiro sem nenhuma base ou planejamento, como se as decisões estivessem sendo tomadas enquanto o roteiro está sendo escrito. É um festival de artefatos brilhando e jargões religiosos, lançados ao texto como se fossem “bom dia”. Os personagens precisam reagir a frases de efeito e aos tais “chamados” a cada 5 falas, gerando uma quantidade de “cenas importantes” tão grande, que no final das contas nada é importante de verdade.

Era de se esperar que com apenas 20 episódios para fechar arcos, a série não fosse mais perder tempo com mais firulas. Contudo, os roteiros parecem incapazes de dar atenção a qualquer plot que leva em consideração apenas os aspectos humanos. O enredo envolvendo Angelina, por exemplo, cresce quando se torna uma discussão sobre até que ponto resgatar Eden será bom para ela. Mas, não demora para que a farofa de artefatos mágicos e chamados divinos alcance essa história, esvaziando completamente sua importância.

É nesse ponto que as comparações com Lost soam mais esdrúxulas. Lost era uma série que construía relações interpessoais fortíssimas; era uma série que dava a cada um de seus personagens uma personalidade muito bem definida. Foi somente porque esses personagens tinham personalidades e motivações independentes do mistério, que a última temporada (com uma realidade alternativa construída a partir do que conhecíamos deles) foi possível.

Em Manifest tudo é sobre o mistério, sobre adicionar mais complicadores, mais enigmas... Todas as relações pessoais ficam em último plano, superficializando os aspectos dramáticos. Desse jeito, pouco importa quem vive ou quem morre. Além disso, assim que o mistério do avião descambou para a intervenção divina - com direito a ameaça de apocalipse – não há mais motivos para tentar promover a famosa  “investigação do espectador” (parte da graça desse tipo de narrativa). A explicação final pode ser literalmente qualquer coisa, uma vez que no campo do divino, tudo é permitido, não há restrições práticas.

Os próximos 10 episódios deveriam, supostamente, resolver todas as pontas soltas e esclarecer de uma vez por todas o que aconteceu no voo. O “gancho” para essa nova leva inclui poderes fantásticos, transferência de morte e até lava vulcânica. Não será uma surpresa se no último episódio os passageiros se revelarem anjos e saírem voando com asas brancas pelo céu de Nova York. Manifest não tem compromisso com coerência... Ela só tem compromisso com a ideia totalmente equivocada que tem de si mesma.

Nota do Crítico
Ruim

Manifest - O mistério do voo 828

Encerrada (2018-2023)

Criado por: Jeff Rake

Duração: 4 temporadas

Onde assistir:
Oferecido por

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