Quem viveu a “modernização” do Superman por parte da Warner e da DC Comics no começo da década passada talvez ainda sinta certa má vontade em relação ao herói. Tanto nos gibis, quanto nos cinemas, a época ficou marcada pelas tentativas frustradas de desconstrução do personagem, que focavam mais em dramalhões mal construídos sobre seu lugar em meio à humanidade do que sobre sua vida como homem e símbolo. Felizmente, se os anos 2010 pareciam quase o fim da linha para o Azulão, 2020 chegou para reafirmar sua posição no panteão da cultura pop. Após ótimas temporadas de Superman & Lois reconectarem o Homem de Aço aos millennials, a reconstrução agora atinge as gerações Z e Alpha em cheio com Minhas Aventuras com o Superman.
O grande diferencial de Minhas Aventuras… para adaptações dos últimos anos é que a animação entende quem é o Superman. Ainda que não fuja da discussão sobre o que a chegada e a revelação de Kal-El representam para a humanidade, a série o faz de forma a abraçar os conceitos básicos de esperança e altruísmo que por décadas definiram o personagem. Diferentemente de O Homem de Aço, por exemplo, Clark (Jack Quaid) nunca questiona seu dever de ajudar as pessoas, salvando civis e vilões indiscriminadamente mesmo quando isso coloca sua vida em risco.
Um dos maiores acertos da série está na caracterização de seu trio protagonista, formado por Clark, Lois (Alice Lee) e Jimmy (Ishmel Sahid). Ao invés apenas de repetir outros títulos do Homem de Aço, Minhas Aventuras… dá ao trio uma dinâmica própria que vai se azeitando à medida em que o Superman descobre do que é capaz. É graças à intrépida repórter e ao fotógrafo que o kryptoniano se vê como um herói em potencial e se dispõe a descobrir do que realmente é capaz.
O principal trunfo de Minhas Aventuras…, no entanto, está em acompanhar um Superman realmente nos primeiros dias de carreira. Assim como Clark, o espectador não sabe do que essa versão do Homem de Aço é capaz, e cada novo poder desperto ou inimigo encontrado tem um ineditismo que há muito não se vê em suas adaptações. Essas descobertas graduais e concomitantes estabelecem quase que imediatamente uma forte conexão entre público e protagonista, que desbravam os arranha-céus de Metropolis lado a lado.
Para quem cresceu com o Superman, algumas das reviravoltas da animação já são óbvias, mas a série toma liberdades o bastante para garantir que esse público também se conecte à história. Por mais que sua adaptação de Parasita (Jake Green) e Lex (Max Mittelman) possa incomodar alguns dos mais puristas, Minhas Aventuras… encontra nessas mudanças uma forma de fazer a história construir seu universo sem se desviar da trama que conta.
Claramente inspirado em convenções de animes shonnen e slice of life, o desenho também constrói para si uma inocência e doçura muito similar às do ainda insuperável Superman – O Filme. Assim como no longa de Richard Donner, o Superman de Minhas Aventuras… passa uma sensação calorosa de acolhimento, que casa de forma surpreendente com o ritmo zoomer da série.
Assim como Casa Coruja, As Tartarugas Ninja: Caos Mutante e a franquia Aranhaverso, Minhas Aventuras… sabe como conversar com seu público-alvo adolescente sem alienar espectadores adultos. A série toma todo o cuidado para não deixar que Clark, Lois e Jimmy caiam em estereótipos e cheguem à tela como um retrato honesto da geração Z.
Convidando fãs novos e antigos a se apaixonar pelo Azulão, Minhas Aventuras com o Superman renova — mas não reinventa — o personagem ao mesmo tempo em que reafirma sua força como um símbolo incontestável da cultura nerd. Afiada, fofa e bem animada, a série traz o Homem de Aço ao século XXI sem ignorar o que o transformou em um ícone transmídia.
Criado por: HBO, Adult Swim
Duração: 2 temporadas