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Crítica

Mr. Robot - 2ª Temporada | Crítica

O controle é uma ilusão

23.09.2016, às 18H43.

Em tempos de excesso de produção televisiva, onde a quantidade de conteúdo disponibilizada é tão grande que não sabemos ao certo para onde focar nossa atenção primeiro, Mr. Robot surgiu em 2015 com uma proposta diferente. A série se distanciava dos outros programas ao introduzir um personagem carismático e misterioso, ao colocar em tela belos enquadramentos, ao contar bem uma história não tão acessível assim. Foi um sucesso de público e de crítica e acabou rendendo ao protagonista Rami Malek um Emmy de melhor ator em série dramática. Foi uma das melhores surpresas do ano.

Renovada para o segundo ano antes mesmo de sua estreia, a série retornou mostrando que é capaz de seguir além de Elliot (Malek) e Mr. Robot (Christian Slater), explorando muitas tramas que por vezes não envolviam diretamente os protagonistas. É interessante ver o mundo pelos olhos de Elliot, que faz o papel do espectador na série, sempre questionando os planos, tentando entender o que se passa. Fica visível que o jovem não tem ideia do que está acontecendo, perguntando constantemente ao seu colega de mente qual é a próxima fase do plano ou onde está Tyrell (Martin Wallström). Quem esteve no controle o tempo todo foi Mr. Robot, que frequentemente tomava frente da situação para poupar Elliot.

Mr. Robot continuou inovadora e fez algumas cenas especiais em seu segundo ano, incluindo dois momentos gravados em 360º que seriam disponibilizados posteriormente em formato de realidade virtual e toda a sequência de sitcom do sexto episódio, "eps2.4_m4ster-s1ave.aes". A estética da montagem, razão de aspecto, claque, ambientação, referências, foi tudo meticulosamente calculado para nos dar a sensação de como é estar na mente de Elliot. Como é estar sob o controle de Mr. Robot.

Outro ponto positivo do segundo ano foram as atuações. Os atores, talvez mais confortáveis em seus papéis, exploraram outros lados de seus personagens que ainda não havíamos visto, principalmente Angela (Portia Doubleday) e Darlene (Carly Chaikin), que ficaram tão fragilizadas e vulneráveis a ponto de cometer atos de desespero completamente condizentes com suas respectivas personalidades. Os episódios contaram também com as adições de Ray (Craig Robinson) e Leon (Joey Bada$$) ao elenco, além de excelente Dominique DiPierro (Grace Gummer).

A série, porém, sofreu por ego. Sam Esmail, criador, roteirista e produtor da série que agiu principalmente nessas funções durante o primeiro ano, decidiu tomar também as rédeas da direção, comandando todos os 12 episódios do ano dois. Talvez tenha sido na sua vontade de abraçar o mundo que algo se perdeu.

Esmail pareceu acreditar piamente que seu inteligente público o acompanharia independente do caminho que tomasse - e ele foi fundo. Na segunda temporada, usou termos técnicos inacessíveis para os que desconhecem o mundo da tecnologia de informação, contou múltiplas histórias simultaneamente, deu minúsculas pistas ao longo dos episódios que ganhariam recompensas muito tempo depois… Tudo isso acabou truncando a narrativa, arrastando uma temporada que deveria ter sido dinâmica e envolvente mas acabou, em certos momentos, parecendo mal montada, com cenas fora de ordem.

Por mais que continue sendo uma obra de inovação, o segundo ano talvez tivesse sido melhor aproveitado se lançado no "esquema Netflix", disponibilizando todos os episódios de uma só vez. Por conter tantas minúcias e referências à sua própria trama, a segunda temporada se tornaria mais palatável se assistida continuamente, sem as pausas de uma semana entre as exibições.

Mr. Robot ainda retornará para mais um ano e Esmail diz querer chegar à quarta ou quinta temporada. Uma coisa então é certa: se os próximos episódios vierem com o tanto de perguntas que este teve, precisaremos mesmo de mais dois anos para responder tudo.

Nota do Crítico
Bom
Mr. Robot
Encerrada (2015-2019)
Mr. Robot
Encerrada (2015-2019)

Criado por: Sam Esmail

Duração: 4 temporadas

Onde assistir:
Oferecido por

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