Dois mistérios ficaram no ar durante o final da (ótima) primeira temporada de Only Murders in the Building: o assassinato de um novo vizinho e o quanto a série poderia continuar apostando na narrativa de “quem matou?” sem cair na mesmice. Uma preocupação genuína, diria, já que é muito comum que títulos que compartilham deste mesmo enredo não consigam repetir o sucesso do ano estreante, como Desperate Housewives ou Big Little Lies. Felizmente, o segundo ano da série estrelada por Steve Martin, Martin Short e Selena Gomez, além de não decepcionar, comprava que o edifício Arconia pode ser lar de mais de um crime — para o azar dos moradores.
Os episódios retomam momentos após Mabel encontrar a síndica do condomínio, Bunny (Jayne Houdyshell), esfaqueada com uma agulha de tricô. Com todas as evidências apontando para ela, Oliver e Charles, o trio, novamente, se vê no olho do furacão. Contudo, eles são temporariamente inocentados, uma vez que a polícia não encontra provas que os conectem diretamente à cena do crime. Claro que isso não significa nada para Cinda Canning (Tina Fey), dona do podcast rival, ironicamente intitulado "Only Murderers In the Building", que decide tentar incriminar o trio para dar continuidade aos seus hits nas plataformas digitais — e o melhor, sem saber que, do outro lado, o real assassino também vai fazer o mesmo.
Essa foi justamente a grande sacada que os roteiristas encontraram para inserir Mabel, Oliver e Charles em mais um mistério sem parecer forçado — convenhamos, como é que um prédio pode ser o lar de tantos assassinatos? Mas o melhor do novo ano, na verdade, é a sensação de que se trata da continuação do caso envolvendo o assassinato de Tim Kono (Julian Cihi), e não um mistério aleatório feito somente para justificar a produção de mais episódios. Neste sentido, a produção conseguiu se manter fiel a sua proposta de apostar algumas fichas nas reviravoltas mirabolantes — e hilárias — no final de cada episódio, mas sem esquecer de explorar os dilemas pessoais dos protagonistas.
De quebra, ela ainda apresentou melhor os demais moradores do Arconia, que de tão bizarros, parecem ser de uma versão fofinha de Twin Peaks. É o caso de Howard (Michael Cyril Creighton) e até da própria Bunny (que ganha um episódio temático excelente). Isso sem falar da adição de novos rostos ao quadro de vizinhos, com destaque para Amy Schumer e Shirley MacLaine (arrasando aos 88 anos!). Mas, sem dúvida alguma, o que a série conseguiu deixar claro é que pouco importa o andamento da investigação policial, as gravações do podcast ou se as pistas que apontam para um culpado fazem sentido: o que queremos mesmo é ver o trio de atores principais contracenando juntos.
Charles, Oliver e Mabel ganharam outras camadas no segundo ano, lidando com dilemas paternais distintos e o peso emocional de não saber se tiveram envolvimento com uma fatalidade, ou não. Isso permitiu que seus astros conseguissem superar as já brilhantes atuações da primeira temporada -- em especial, Selena Gomez. A ex-Disney carregou praticamente sozinha a nova investigação e foi dona dos momentos mais emocionantes da temporada — fica aqui a torcida para que a Academia de Artes e Ciências Televisivas não cometa mais uma vez o erro grotesco de esnobá-la no Emmy.
[Atenção: o parágrafo a seguir contém spoilers do final da temporada]
Diferentemente da primeira temporada, o segundo ano é concluído com um salto no tempo de um ano que mostra que o podcast dos vizinhos foi essencial para reviver as carreiras de Charles e Oliver, que faz sua grande estreia na Broadway como diretor em uma peça protagonizada pelo ex-astro de televisão. Mas, óbvio, no melhor estilo Only Murders in the Building, momentos após as cortinas se abrirem, um novo corpo cai para a conta de Charles, Oliver e Mabel que, agora, terão mais um crime para desvendar — que sorte a nossa!
Criado por: Steve Martin & John Hoffman
Duração: 3 temporadas