Séries e TV

Crítica

Raio Negro - 1ª temporada

Melhor série de herói da CW, Raio Negro se faz necessária mesmo sem reinventar o gênero

18.07.2018, às 12H28.
Atualizada em 09.10.2019, ÀS 14H50

Dá para entender logo nos primeiros episódios o motivo de Raio Negro ter sido lançada fora do Arrowverso pela CW. A série sobre Jefferson Pierce (Cress Williams), o herói aposentado que dá nome ao programa, é muito mais madura que as demais produções da rede: intercalando cenas de luta repletas de efeitos especiais e explosões, há debates consistentes sobre racismo, sexismo, corrupção e criminalidade. O carisma de Raio Negro, contudo, se deve a ser, acima de tudo, uma série familiar: o protagonismo de Jefferson é dividido com Jennifer (China Anne McClain) e Anissa (Nafessa Williams), suas duas filhas que descobriram os poderes recentemente, e com Lynn (Christine Adams), sua ex-esposa e interesse romântico mal resolvido.

Há três jornadas simultâneas e é isso que faz com que a série não perca o fôlego em momento nenhum. Enquanto Jefferson recomeça sua carreira como justiceiro e sente os impactos disso em tudo que construiu em sua vida pessoal no tempo em que ficou parado, Anissa e Jennifer lidam de formas distintas com a descoberta dos poderes. A filha mais velha do Raio Negro abraça os poderes e se torna uma vigilante treinada pelo pai, ao passo que a caçula rejeita a mudança em um primeiro momento. Os caminhos que as duas trilham na série são coerentes com suas personalidades e rendem bons momentos de embate familiar - seja quando Anissa desafia os pais insistindo em defender a cidade ou quando a recusa de Jennifer em aceitar sua situação coloca Jefferson e Lynn em uma discussão sobre o que pode ou não ser considerado normalidade.

Aliás, o tema da aceitação se desenrola de forma bastante orgânica ao longo dos episódios. Não é uma novidade nas séries de heróis da CW a presença de personagens LGBT, e em Raio Negro não é diferente. A sexualidade de Anissa, primeira super-heroína lésbica e negra da TV, é retratada sem restrições e com a mesma naturalidade que a da irmã ou a dos pais, heterossexuais. Além disso, por ser uma série ambientada em uma comunidade fictícia formada majoritariamente por negros, a trama se apropria de diversas problemáticas reais que afro-americanos sofrem, como abandono do estado e violência policial. Cenas como a de Jefferson sendo parado na chuva por uma viatura em função da cor da sua pele equilibram a balança entre fantasia e realidade.

É não restringir o cargo de vilão a um ou outro sujeito diabólico que faz com que Raio Negro seja uma série muito menos infantil que suas primas The Flash ou Supergirl. O racismo estrutural é o principal antagonista de Jefferson e, nesse série, o herói tenta parar seus tentáculos tanto através de sua vida como civil, onde é um diretor dedicado tentando fazer da educação uma arma, quanto através de sua identidade heróica, impedindo iniciativas secretas de subvalorizem a vida de pessoas negras. Os vilões de carne e osso também apresentam jornadas interessantes, como é o caso de Khalil (Jordan Calloway), Latavius (William Catlett) e, é claro, Tobias Whale (Marvin ‘Krondon’ Jones III), um personagem cheio de contradições, posicionamentos problemáticos e um passado traumático.

Parte do sucesso da série - melhor estreia da CW nos últimos dois anos - pode ser justificada pela experiência da equipe responsável por ela. A série é assinada por Salim Akil e Mara Brock Akil, que já trabalharam em produções como Girlfriends, popular sitcom americana centrada na vida de quatro mulheres afro-americanas bem sucedidas em Los Angeles. A trilha sonora também é boa, com destaque para as criações feitas para a série por Godholly. Há algumas derrapadas, contudo. O traje, desenvolvido por Laura Jean Shannon, tenta reimaginar o clássico dos quadrinhos de forma mais tecnológica, mas acaba soando um tanto quanto exagerado - como um vigilante combatido pelas forças policiais, não faz muito sentido que o herói pareça um refletor ligado toda vez que vai às ruas lutar contra o crime.

Do ponto de vista do arco principal, Raio Negro não é exatamente inovadora - a série é uma mistura de Os Incríveis com Luke Cage em vários aspectos -, mas isso não faz dela menos necessária. Raio Negro é uma atração extremamente atual a ponto de fazer críticas explícitas a discursos de ódio comuns nos dias de hoje: Martin (Gregg Henry) é o esteriótipo de um supremacista branco, por exemplo. Além disso, a série presenteia o público com uma remessa de personagens interessantes, com personalidades cativantes, dilemas complexos e contradições humanas. Para uma temporada inicial, a série chega a ir bem longe, entregando uma trama introdutória concisa e deixando algo muito maior para as que virão na sequência. Raio Negro é, definitivamente, um feixe de luz na mesmice que a CW vem apresentando no campo das séries de heróis.

Nota do Crítico
Ótimo

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.