Rebelde funciona melhor quando desapega de sua antecessora

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Rebelde funciona melhor quando desapega de sua antecessora

Com provocações sobre a indústria musical e dependência química, segundo ano se mostra melhor do que a estreia

Omelete
3 min de leitura
29.07.2022, às 11H58.

O capitalismo tardio bateu em Rebelde. A segunda temporada chega em uma série que já lida com seus alicerces bem estruturados, e agora pode abalá-los com questões da contemporaneidade.

Na nova leva de episódios, Jana (Azul Guaita), Esteban (Sérgio Mayer), Dixon (Jerónimo Cantillo), M.J. (Andrea Chaparro), Andrea (Lizeth Selene) e Luka (Franco Masini), seguem se esforçando para se tornar as grandes revelações da música latinoamericana contemporânea. Além do grupo principal, temos novas adições à trama: Ilse (Mariané Cartas), Okane (Saak) e Gus Bauman (Flavio Medina). Quem também ganha um espaço de tela maior é uma das estudantes, Laura (Alaide Solorzano). Esses personagens funcionam como ótimos causadores de conflito no decorrer da temporada. 

Gus Bauman é um produtor musical de renome e atual professor do corpo escolar da EWS. Ele representa o oposto do antigo corpo docente do colégio e se mostra como uma forma de representação da voracidade da indústria musical. No decorrer dos episódios, ele provoca os alunos a serem estrelas e não artistas, já que o primeiro seria algo muito bem sucedido e glamuroso. Com isso, ele propõe aos alunos diversos exercícios que os levam a seus extremos, fazendo com que tenham de abdicar de sua subjetividade em prol de escolhas comerciais. Mais do que isso, os estudantes precisam se esforçar para bombar nas redes sociais e serem relevantes a todo custo, passando até por situações de abusos de drogas para poderem extrapolar os limites do corpo e atingirem o ápice de sua performance. 

O personagem de Gus serve como um ótimo instrumento para representar uma das parcelas de crueldade dentro da indústria musical, que mais do que nunca força o artista a se tornar comerciante (ou publicitário), para se manter relevante dentro do novo mercado digital. Antagonista da trama, Gus sabe provocar essa questão de maneira abusadora e visceral. Por isso, na corrida para poder ganhar o primeiro lugar, há quem compre curtidas nas redes, faça sex tapes para obter relevância ou, ainda, quem recorra ao uso de anfetaminas para driblar a natureza do corpo e dobrar a produtividade. 

Dentro deste contexto, dois personagens chamam atenção com maior aprofundamento nesta temporada: Dixon e Esteban. Enquanto Gus tenta homogeneizar os alunos do colégio, Dixon se mantém resistente a seus princípios, ou melhor, "rebelde", no decorrer de todo o caminho. Para ele, não há dúvidas ou hesitações: ele é um artista que simplesmente não concorda com os abusos e métodos que estavam impostos para atingir o respectivo estrelato proposto pelo mentor. Esteban, por outro lado, decide deixar a timidez de canto para abraçar as origens hereditárias de ser um Colucci, revelando assim um lado sombrio de seu personagem que ainda não tinha sido visto na trama. 

A nova temporada de Rebelde funciona e acerta o tom, especialmente quando entende que não precisa ficar presa criativamente na sua antecessora para poder funcionar. Logo nos primeiros episódios, acompanhamos os alunos em atividades e diálogos que servem quase como metáforas, conversando sobre como novas experiências são necessárias para poder crescer e se descobrir. Apegar-se em elementos nostálgicos pode até gerar um tipo de fan service para o espectador, mas não é esse o elemento central para poder cativar a audiência e contar uma boa história. Para criar um bom remake é necessário manter os pés no presente, sem deixar de olhar para trás e se inspirar no passado. Com a nova temporada, Rebelde mostrou que entendeu o recado. 

Nota do Crítico
Ótimo
Rebelde (2022)
Em andamento (2022- )
Rebelde (2022)
Em andamento (2022- )

Duração: 2 temporadas

Onde assistir:
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