Amado ou odiado, o gênero musical sempre foi um dos mais lucrativos do cinema americano. Seja nos clássicos da Broadway ou no modelo Disney, o gênero foi capaz de eternizar momentos na memória afetiva de todos nós. Mas, ele nunca foi muito TV... pelo menos não até 2009, quando Ryan Murphy conseguiu fazer de Glee um dos maiores fenômenos do mundo. De 2009 para cá, a TV se abriu para o método e conseguiu repetir o sucesso através de títulos como Empire (2015), Crazy Ex-Girlfriend (2015) ou Zoey’s Extraordinary Playlist (2020). Com longevidade ou não, o mercado estava disponível.
No Brasil, a estreia de Só Se For Por Amor é louvável. Em sua estrutura musical, ela toca tanto na reformatação de canções populares, quanto no desenvolvimento de material original. E está nessa produção musical (cuidada por Patrícia Portaro) a legitimidade do projeto, que não tem em seu showrunner a melhor das credenciais: Luciano Patrick tem no currículo equívocos como A Vida Secreta dos Casais, uma série que escancara uma escrita folhetinesca, que não dá a seus personagens um movimento que não seja previsível.
A boa notícia é que com isso o resultado pode ser aquele confort food que você gostaria de assistir numa noite de pizza e refrigerante. Nada que acontece em Só Se For Por Amor vai te soar estranho, porque você já viu tudo aquilo acontecer – com pequenas variações de cenários – um milhão de vezes nas nossas novelas. Quando colocamos em perspectiva que muitas das nossas referências musicais também se organizaram nessa dinâmica (Sandy & Júnior talvez tenha sido nossa primeira grande série musical), é natural que Luciano Patrick tenha preferido ficar na zona de conforto. Até mesmo quando ele quer parecer que sai - abordando questões vigentes como homofobia – é seguindo uma “cartilha” protocolar.
Nem Por Amor...
Outro grande acerto foi escalar Lucy Alves para segurar as pontas entre os protagonistas. Ela vive Deusa, a vocalista de uma banda que acaba ficando famosa por acaso: após a morte de um grande astro da sofrência, a banda é filmada fazendo uma homenagem, que acaba viralizando nas redes e chamando a atenção de um chefão da indústria. Tudo parece bem, até que os integrantes do grupo descobrem que apenas Deusa será contratada, colocando ela e o namorado Tadeu (Filipe Bragança) no que deveria ser um impasse, mas que serve para fazer com que até o título da série e seu carro-chefe romântico sejam questionados. Deusa é a melhor personagem porque o amor que ela prioriza é o por si mesma.
Contudo, a chorumela da separação se arrasta pelos longos seis episódios como uma canção ruim. Como a banda precisa de uma nova vocalista, os roteiros tentam equilibrar as coisas investindo em Eva (Agnes Nunes), que deveria ser “misteriosa”, mas que pode ser rastreada com um minuto de ponderamento. A trama de Só Se For Por Amor é absolutamente recorrente e ninguém envolvido na série está nem meramente interessado em te surpreender, uma vez que até as surpresas se pautam nos cansados “quem é filho de quem” ou “quem está apaixonado por quem”. É, inclusive, impossível não fazer uma comparação com Rensga Hits, que tem princípios ativos muito próximos, mas que os explora com mais eficiência.
É só quando as músicas começam a aparecer que tudo se justifica. Além de ter boas versões para sucessos de Anitta, Pablo Vittar, Chitãozinho e Xororó, entre outros; a direção musical também sabe como manter atentos os fãs do sertanejo sofrência que foram fisgados pela divulgação da sinopse. As canções originais foram produzidas com apuro e não destoam do que foi alcançado com as que já são conhecidas (e, por consequência, mais imediatamente carismáticas). Para os fãs desse estilo de música, a série (que os criadores afirmam não ser um musical por não ter diálogos cantados) será um prato cheio.
O episódio final adianta uma possibilidade grande de uma segunda temporada, mas que dificilmente vai problematizar qualquer fraqueza. A série está aí para os que querem o conforto de uma “melô” dos anos 80. Ela vale a pena ser vista... só se for por amor mesmo.
Só Se For Por Amor
Em andamento (2022- )
Criado por: Luciano Patrick
Duração: 1 temporada
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