Mesmo que divirja bastante de seu material original, Sweet Tooth arrancou muitos elogios da crítica e do público após uma primeira temporada rica visual e narrativamente. Apesar de atrair os fãs da HQ de Jeff Lemire, a versão da história de Gus (Christian Convery), Jepp (Nonso Anozie) e Ursa (Stefania LaVie Owen) produzida pela Netflix não consegue manter o mesmo nível em seu segundo ano.
Enquanto a estreia de Sweet Tooth mostrou agilidade com seu formato episódico e texto enxuto, a nova temporada opta por se encaixar no molde de “filme de x horas” que tanto domina o cenário do streaming. Presos a esse conceito, os roteiristas da adaptação lotam os novos episódios com discursos soltos, tramas repetitivas e conflitos desnecessários, que aos poucos vão colocando a paciência do espectador à prova.
Embora até tentem repetir o encanto da temporada anterior, o showrunner e diretor Jim Mickle e sua equipe tropeçam ao separar logo de cara os três personagens principais, sacrificando a dinâmica familiar mais interessante da série. Ainda que Gus cresça como protagonista e como líder, Jepp e Ursa passam quase todo o segundo ano andando em círculos antes de terem alguma importância real na história. Separados do jovem híbrido, eles perdem sua bússola emocional e, por melhor que sejam as atuações de Anozie e Owen, seus personagens não sustentam as tramas paralelas insossas — e, até certo ponto, inconsequentes — em que se envolvem.
A disparidade de qualidade entre roteiro e atuações, aliás, é algo constante nesta segunda temporada e não é exagero dizer que o elenco é o grande responsável por impedir que Sweet Tooth beire a mediocridade. Transformando sentimentalismo em emoção genuína, Adeel Akhtar, Dani Ramirez e Marlon Williams ajudam a tornar seus respectivos personagens pessoas falhas, mas relacionáveis. O mesmo vale para o elenco infantil que, capitaneado por Convery e pela ótima Naledi Murray, protagoniza as cenas mais divertidas da temporada. Esbanjando carisma e talento, as crianças são essenciais para que a série mantenha o tom esperançoso característico da obra original.
Ainda assim, é Neil Sandilands e seu General Abbott que carregam esta temporada nas costas. Ainda mais ameaçador que no ano anterior, o militar personifica cada preconceito, vaidade e ambição de agentes do status quo ao ordenar mortes, amputações e experimentos cruéis dignos de alguns dos maiores vilões de Hollywood. Sem escrúpulos, o líder dos Primeiros Homens justifica todo o medo de seus reféns e subordinados e dá ao novo ano uma camada de terror e suspense interessante.
Salva por essas camadas e por atuações tocantes, a segunda temporada de Sweet Tooth ainda assim é um balde de água fria na cabeça dos fãs da obra de Jeff Lemire. Caso ganhe um terceiro ano, a série tem muito a corrigir se quiser voltar ao brilhantismo de sua estreia.
Sweet Tooth
Em andamento (2021- )
Criado por: Jim Mickle, Beth Schwartz
Duração: 2 temporadas
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