The Morning Show

Créditos da imagem: AppleTV+/Divulgação

Séries e TV

Crítica

Segunda temporada de The Morning Show deve tudo a seu elenco

Irregular e mal planejada, segunda temporada do sucesso da Apple quase não resistiu ao Covid 19.

Omelete
5 min de leitura
30.01.2022, às 13H21.
Atualizada em 22.12.2023, ÀS 20H59

A primeira temporada de The Morning Show conseguiu um feito que seria o sonho de muitas séries estreantes que recheiam o mercado: um final tomado da mais pura catarse. A sequência que encerrava aquele primeiro ano era o resultado de uma temporada muitíssimo bem planejada, onde Alex (Jennifer Aniston) deslizava da alienação para o surto de consciência; e o texto presenteava o público com uma virada inacreditável, crescente, realmente impactante, que encerrava os acontecimentos desses primeiros episódios com extrema competência.

Como todo bom drama contemporâneo, a série precisa desse verniz dramatúrgico, desse planejamento evidente. Aniston e Reese Whiterspoon têm a tutela da produção e a carregam sob a obrigação de conseguir mantê-la relevante e premiável, sobretudo depois que Ted Lasso virou o carro-chefe da Apple e subiu os níveis de expectativa até o teto mais alto possível. Até que a pandemia se instaurasse, The Morning Show teve bastante tempo para se debruçar sobre essa responsabilidade, mas quando revelou que todo o planejamento foi revisto para incluir o COVID, se tornou um alvo fácil do mais severo escrutínio.

Algumas das escolhas estranhas já apareceram no começo, quando fica claro que a série vai atravessar o começo da pandemia e explorar seus estágios iniciais, isso enquanto já sabemos que a temporada será exibida no segundo semestre de 2021, quando a vacinação já realçava um tempo de mais esperança. Ao invés de se debruçar sobre o vírus no decorrer da história, a série manteve tudo situado nos meses iniciais da infecção e terminou a temporada no exato momento em que a tragédia alcançou seu auge, antecipando que o terceiro ano deve ter um grande salto temporal, uma vez que seria um problema de timing continuar abordando o vírus no segundo semestre de 2022.

Inicialmente, não parecia que o desarranjo para incluir o Covid fosse atrapalhar os eventos. Depois do escândalo, Alex se retirou de cena e Bradley passou a ser o rosto principal do programa. É evidente que nós sabemos que algo vai acontecer para obrigá-la voltar e os primeiros episódios organizam bem o pavor de Alex com a biografia não-autorizada que está chegando e a cruzada de Cory (Billy Crudup) para manter a atração interessante, garantindo seu papel no crescimento da UBA até o território do streaming. Infelizmente, Cory é o personagem que mais anda em círculos, já que acabamos sempre no mesmo lugar: com ele articulando a bancada do The Morning Show, seja para quem vai ficar ao lado de Alex, de Bradley, ou se elas ficarão juntas.

Infectados

É bastante perceptível que pequenas menções ao COVID foram incluídas nos primeiros episódios e que a partir da segunda metade da temporada é que eles foram se configurando em função da pandemia. Sabemos que a sugestão é poderosa, mas a desorganização dos enredos na reta final foi tão concreta que fica difícil perdoar a série com argumentos de automatização. As histórias que foram plantadas na primeira metade do ano tiveram que ser revistas ou espremidas no percurso da chegada do vírus, o que provocou uma sensação de superficialidade, de abordagem rasteira em quase tudo que foi apresentado como resultado final.

Bradley - uma personagem bastante aprofundada do ponto de vista pessoal - foi um dos exemplos de como a temporada se reorganizou precariamente da metade para o final. Sua ótima relação com Laura (Julianna Margulies) foi eclipsada pela iniciativa dos roteiristas em usar Hal (Joe Tippett) como uma espécie de corrente que segura a personagem. Bradley ganhou uma outra camada, ganhou uma contracena defendida por uma atriz brilhante, mas que teve seu desenvolvimento retardado pela mudança nesse planejamento.

A cultura do cancelamento continuou como pauta importante da série e Alex sempre serviu a esses objetivos muito bem. Mas, sempre paira a dúvida sobre os outros personagens que defendem esse tópico (ou o racismo e o etarismo). Será que teriam tido mais destaque se as histórias não tivessem sido revistas? As poucas cenas entre Stella (Greta Lee) e Cory sobre ela ser muito jovem, em contraponto com as cobranças em cima de Alex por ela já ser mais velha, fizeram o texto crescer, mas pareciam só promissoras ao invés de substanciais. O mesmo aconteceu com a xenofobia vista pela ótica de Yanko (Nestor Carbonel) e o racismo que está sempre em torno do personagem de Desean Terry. Tudo está ali, provocante, mas soando esquecido quando o final se aproxima.

Há coerência na maneira como Mitch (Steve Carell) reaparece e depois desaparece, mas a forma como a série se obriga a aprofundar o personagem muitas vezes soa como uma defesa, como uma absolvição, que vinda na forma de um documentário dirigido por uma mulher, parece ainda mais duvidosa. Um dos melhores momentos da temporada está no medo de Alex de ver seu caso com ele sendo desmascarado, o que resultou no maravilhoso episódio com a entrevista de Maggie (Marcia Gay Harden) e na boa ideia de fazer com que a protagonista fosse cancelada novamente por conta de um discurso fúnebre flagrado pela internet. Alex ainda é a maior força de The Morning Show, mas justamente por reconhecer isso, a série a sobrecarrega. Todo o encerramento com o COVID deslocou a personagem, enfraqueceu o impacto de suas decisões e esfriou a despedida, num contraste impressionante com o final do ano anterior.

The Morning Show não acabou bem, mas ainda é uma série deliciosa de assistir. Se não pelos caminhos escolhidos, então pelo elenco sensacional que defende cada linha daquele texto. Foi uma temporada muito irregular, mas ainda é cedo demais para jogá-la na fogueira do cancelamento. O que a série precisa agora é se sentir menos responsável em dizer tudo que importa. Às vezes quem precisa decidir o que importa, somos nós.

Nota do Crítico
Regular
The Morning Show
Em andamento (2019- )
The Morning Show
Em andamento (2019- )

Criado por: Jay Carson, Kerry Ehrin

Duração: 3 temporadas

Onde assistir:
Oferecido por

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