A primeira impressão de Titãs nos fãs da DC foi controversa. Um teaser oficial e a primeira foto do Robin vivido por Brenton Thwaites mostrou uma fidelidade aos quadrinhos mesclada com uma dose de violência impactante. O menino prodígio do Batman esparramava sangue pelos becos de Gotham e ainda mandava o seu mentor “ir para aquele lugar”.
Desnecessário para muitos, o trecho resume bem o que Titãs é ao longo de seus ótimos dez episódios, uma mistura positiva das várias incursões da DC na TV; mídia essa que a marca já negou suas raízes, mas que com o tempo entendeu que há espaço para uma adaptação literal dos quadrinhos com aceitação que vai além do nicho. Titãs consegue ser uma homenagem aos fãs sem deixar ninguém que não conhece os personagens fora da bolha - e esse êxito tem um motivo principal, a boa história contada ao longo da primeira temporada, além da química entre os personagens principais.
O roteiro, idealizado por Geoff Johns, Akiva Goldsman e Greg Berlanti, entende muito bem até onde pode incluir referências dos quadrinhos - que seria praticamente tudo que os efeitos visuais permitem, e também o que a primeira temporada de uma série aceita de mitologia. Nada de conceitos mirabolantes ou inimigos multifacetados. O foco aqui é a história de Dick Grayson e o misterioso passado de Ravena, que puxa o antagonismo da série como um todo de maneira sútil, mas interessante o suficiente para manter o espectador ansioso pelas revelações.
A violência prometida pelos primeiros matérias promocionais se mantém ao longo da série, mas perdem a importância ao passo que o roteiro foca na histórias dos humanos que compõem a produção. O grafismo nas cenas de luta não são gratuitos e fazem parte de formação da loucura exagerada do Robin, por exemplo, que se descontrola toda vez que combate crimes. O mesmo serve para a dupla Hawk e Dawn, que possui o conjunto de uniforme mais feios de uma adaptação, ainda que seja fiel a cada traço feito nos quadrinhos da DC. O visual, diga-se, é um triunfo para Titãs, que faz uma transposição impecável das páginas para a tela. A reformulação da Estelar é precisa, mais delicada e certeira do que Ravena e Mutano, por exemplo.
Apesar do final anti-climático, Titãs parece uma receita fresca e moderna para as séries da DC. Um claro aprendizado com a evolução dos seriados da CW, que começaram com vergonha dos quadrinhos e hoje se assumem sem pudor algum. Esses “novos” heróis nascem com o prazer de viver uma era onde homens e mulheres de capas são bem aceitos e têm seus problemas psicológicos bem explorados em um texto que faz jus a boa séries de TV que não são do gênero - ao mesmo tempo que lembram as frases literais e curtas das HQs. Titãs é um ótimo começo para a nova fase da DC na TV/streaming, um exemplo de produto que se entende como entretenimento além da própria base de fãs.