Sabemos que a pandemia acabou mudando prazos e formatos de diversos projetos, mas quando foi tomada a decisão de desenvolver a temporada final de The Walking Dead com 24 episódios, ao invés dos costumeiros 16, e dividida em 3 partes, ao invés de ter apenas um hiato clássico no final do ano, os realizadores deveriam ter levado em consideração se o enredo final era forte o suficiente para aguentar essa mudança em um momento tão crucial para a série, cuja queda de audiência se percebeu ao longo dos anos.
A temporada final tem seus momentos memoráveis e interessantes, principalmente considerando que a série já estava no ar desde 2010 e vinha usando tramas às vezes cansativas e até mesmo repetitivas para se manter no ar. O começo da temporada vem forte, com episódios muito bem feitos e angustiantes, como por exemplo o episódio seis, “On The Inside”, que usa da perspectiva de Connie (Lauren Ridloff), primeira personagem surda do universo de TWD, para mostrar o quão aterrorizante é sobreviver nesse mundo pós-apocalipse zumbi. Não que isso ainda não tivesse sido deixado claro anteriormente, mas ter uma perspectiva sensorial diferente faz bem para a série nesse momento. No geral, é um dos episódios com mais estilo de filme de terror que a série já se permitiu.
O plot principal nessa primeira parte, sobre os Reapers, também é muito bem trabalhado, com personagens interessantes de acompanhar. Parece que a série havia retomado seus melhores momentos de glória, e cada episódio dessa primeira parte final vem cheio de informação e reviravoltas que tornam impossível parar de assistir. O protagonismo de Daryl (Norman Reedus) e o trabalho em conjunto de Maggie (Lauren Cohan) e Negan (Jeffrey Dean Morgan) formam os pontos fortes do lado dos heróis, já estabelecendo o que pode vir a ser um gostinho de seus respectivos e potenciais derivados.
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Assim que a série volta de seu primeiro hiato e já resolve os conflitos com os Reapers, vem um salto temporal de seis meses que basicamente conecta ou integra todos os personagens à Commonwealth. Talvez com mais tempo essa trama poderia ter sido melhor aproveitada (nos quadrinhos a Commonwealth toma todo o derradeiro volume da aventura de Rick, Carl e Cia.), mas a insinuação imediata de que a comunidade ofereceria um tema de corrupção do poder torna o desenrolar da história algo previsível e até maçante.
Já vimos muito sobre figuras de poder sendo derrubadas pelos heróis ao longo dos anos e esse seria apenas mais um caso; a diferença é que as expectativas eram maiores por serem os últimos momentos da série. Um enredo mais emocionante e diferente faz falta nesse encerramento, já que as duas partes finais se focam nessa história dentro da Commonwealth.
A grande vilã da temporada, a governadora Pamela (Laila Robins), resulta superficial, tirando a credibilidade do que deveria ser a grandiosa comunidade salvadora do futuro de The Walking Dead. Poucas coisas são surpreendentes nesse final, e a ideia geral é clara: assim como Judith (Cailey Fleming) vem indicando ao narrar o começo de todos os episódios da terceira parte, os personagens principais devem continuar em busca de melhorar suas vidas e as das comunidades que adotam. Se não for por isso, tudo que aconteceu com eles e com seus entes queridos ao longo desses anos terá sido em vão.
Fica claro, então, que a missão final do grupo principal se resume a uma tarefa administrativa: achar uma maneira de consertar a comunidade da Commonwealth e restaurar a paz de forma justa para que todo mundo viva de forma digna. É uma resolução que vai de acordo com os tópicos nos quais a série tocou por todo esse tempo: sobrevivência em grupo, união e equilíbrio entre a humanidade, já que o inimigo é outro e só quem ainda está vivo é quem tem o poder para recomeçar e tornar as coisas melhores.
O saldo é positivo. The Walking Dead revolucionou seu gênero no mundo da televisão e soube transformar em texto as críticas sociais de subtexto que sempre marcaram as histórias de zumbis influenciadas pelos filmes de George A. Romero. Se a última temporada termina enfraquecida por suas decisões de roteiro, isso não desmerece tudo que veio antes, em especial a provação de arcos individuais, de aprendizado e de redenção, até de vilões como Negan. O que resta aos espectadores sobreviventes de TWD, agora, é acompanhar esses personagens em suas séries derivadas e torcer para que a magia siga viva através de novas histórias e perspectivas, trazendo o que eles fazem de melhor: criar esperança no meio do caos.
Criado por: Angela Kang, Frank Darabont
Duração: 9 temporadas